Capítulo 4

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Lorena passou o restante daquela quinta-feira com a cabeça em Kevin e Raul, apesar de não saber bem o porquê daqueles dois terem cativado tanto sua mente. Então, logo mais à noite, chegou em casa cansada e, por pouco, não foi pega pela chuva que despencou assim que ela colocou os pés na sala.

— Gilda, me desculpa! — Lorena exclamou quando encontrou a empregada sentada no sofá, já pronta para ir embora. — Eu agarrei na clínica e...

— Tudo bem, querida — a senhora que estava na casa dos 50 anos afirmou com um sorriso dócil enquanto se levantava.

— Não, Gilda, mas eu faço questão de te levar até o terminal de ônibus. Se você for a pé, debaixo dessa chuva, vai se molhar toda.

Gilda não impôs resistência, muito pelo contrário, aceitou prontamente, uma vez que o terminal de ônibus era realmente um pouco longe para ir a pé debaixo de chuva.

Então, mesmo tendo acabado de entrar, Lorena saiu novamente, mas, antes, beijou os filhos e assegurou que iria num pé e voltava no outro. Os dois garotos não se importaram muito, pois estavam concentrados no videogame que jogavam.

— Que chuva é essa, hein? — Lorena puxou assunto enquanto tirava o carro da garagem.

— Você viu? E foi de repente, porque o céu estava tão claro hoje — Gilda comentou enquanto colocava o cinto de segurança.

— Sim, mas essas chuvas estão assim ultimamente.

— Ah, Lorena, eu deixei a comida do Ícaro no microondas — Gilda avisou.

— Ele não quis jantar de novo, né? — a loira perguntou.

— Não. Fiz salmão, que ele gosta e tal, mas, mesmo assim, ele não quis comer.

— Pode deixar. Quando eu chegar em casa, eu faço ele comer — Lorena afirmou firmemente.

Então, como de carro era bastante rápido, em questão de minutos, Lorena parou dentro do terminal de ônibus e esperou que Gilda desembarcasse.

— Até amanhã, Lorena! — a senhora se despediu simpaticamente.

— Até amanhã, Gilda! Tenha uma boa noite.

— Você também.

Sem demorar-se mais, então, pois estava pensando nos filhos que estavam sozinhos em casa, muito embora morasse em um bom condomínio, ainda assim, temia, Lorena apressou-se em sair do terminal. Ao sair, porém, e parar diante de um semáforo lembrou-se, assim, de repente, de Kevin e Raul. Como eles estariam debaixo daquela chuva horrenda? - perguntou-se.

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— Raul — abraçado ao irmão, sob o som de estrondosos trovões e clarões no céu, Kevin chamou.

— Oi, amigão.

— Eu tô com medo.

Há tempos não caía uma chuva como aquela. Mesmo que ainda fosse o começo da noite, seis e pouco marcava o relógio, o céu estava bastante escuro, sendo clareado apenas por relâmpagos que desciam até o chão em alguma parte da cidade de vez em quando.

— Já vai passar, amigão. Já vai passar.

Raul se esticou um pouco e tentou ajeitar melhor a colcha que dava forma à cabana. Mas aquela colcha já velha só impedia o olhar humano de ultrapassar além de seu limite, em contrapartida, a água invadia sem a menor cerimônia. E, apesar da chuva lá fora, dentro da cabana estava abafado e quente, fazendo Kevin e Raul suarem como se o sol estivesse no alto do céu.

O Malabarista - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora