Capítulo 75

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— Precisamos conversar, Lori

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— Precisamos conversar, Lori.

Raul disse assim que saiu do banheiro, pronto para se deitar. Sentada na cama, eu o olhei e concordei, fechando o livro que lia. Já se aproximavam das onze horas da noite e, talvez, aquele fosse o melhor momento para esclarecer certas coisas.

— Eu fui uma idiota...

— Não.

Raul se sentou ao meu lado e continuou:

— Não vamos tratar as coisas assim. Você tem as suas razões e eu tenho as minhas. O que a gente tem que fazer é conciliar as duas coisas.

Sustentei o meu olhar sobre Raul por alguns segundos, até que o vi abaixar os olhos para encarar as próprias mãos.

O silêncio nos venceu por alguns instantes, imperando no quarto como rei absoluto. Parecia que nenhum de nós dois sabíamos quais palavras usar.

— Você estava certo — praticamente, sussurrei, também encarando minhas próprias mãos agora. — Eu sempre quero que tudo saia da minha maneira...

— Eu gosto da sua maneira, Lori, mas é que, às vezes...

Ele me olhou, relutante em concluir as palavras.

— Pode falar — encorajei-o.

— Por favor, não fique chateada comigo.

— Eu não vou ficar.

Afirmei com convicção, sorrindo um sorriso sincero, enquanto levava uma mão até sua nuca para acariciá-la.

— Eu só queria que você considerasse os meus gostos também.

— Eu não considero?

Minha pergunta não saiu exatamente como eu queria, ela saiu no impulso, quase que inconsciente.

— Às vezes, não...

Por mais que eu estivesse esperando por aquela resposta, isso não tornou mais fácil ouvi-la.

De repente, eu percebi que sempre fiz de tudo para que Raul se encaixasse na minha vida, mas nunca havia feito nada para encaixar na sua. Eu me preocupei tanto em fazê-lo pertencer a mim que acabei me esquecendo de pertencer a ele. Quis tanto que ele gostasse das mesmas coisas que eu, mas, por fim, não dediquei-me a apreciar os seus próprios gostos.

Falei tanto de mim, da minha cor favorita, da minha comida predileta e do que eu queria para o futuro. Mas, de repente, foi terrível perceber que eu não sabia esses detalhes sobre ele.

Sua parte no closet estava lotada de camisas polos e todas, sem nenhuma exceção, haviam sido compradas por mim. Não porque, um dia, ele havia me dito que aquele era o seu estilo de camisas favorito, mas porque eu achava que ele ficava lindo com elas...

Era isto. O problema estava em mim.

— Não estou reclamando, Lori.

A voz de Raul me puxou de volta para a realidade violentamente — a realidade que eu queria mudar a todo custo.

O Malabarista - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora