Lorena abriu os olhos e se deparou com o breu em seu quarto. Então olhou as horas no relógio digital e constatou que eram exatamente 20:33 da noite. Tirou um pulo da cama. Como podia ter dormido tanto? Por um instante, um milhão de coisas passaram pela sua cabeça. Na verdade, sequer sabia que dia era aquele. Tentou ligar seu celular, mas ele estava descarregado.
— Meu Deus do céu! — exclamou acendendo as luzes do quarto e indo até o banheiro, tonta.
Não havia almoçado, nem tomado café da tarde. Sentia-se leve, quase como se fosse cair a qualquer momento. Então, depois de jogar uma água no rosto, para ver se acordava, saiu do quarto e estranhou o silêncio na casa.
— Bernardo! — chamou pelo filho mais velho, mas não obteve resposta.
Então pensou em chamar por Ícaro, mas, ao alcançar a cozinha, viu um papel grudado na geladeira:
"Mãe, fomos para a quadra de futsal jogar. Te amo!"
A loira sorriu com uma mão na barriga e decidiu que comeria algo para eliminar a tontura que sentia, depois, iria até a quadra que ficava dentro do condomínio, próxima à sua casa.
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Lorena entrou na quadra sem ser percebida e se sentou na arquibancada, vendo apenas seus filhos, Raul e Kevin jogando. Imaginou que Luís já tivesse ido embora, pois sabia que o irmão tinha aula na faculdade no dia seguinte.
Então ficou ali, observando os meninos e pensando em como as coisas podem mudar em tão pouco tempo. Ainda ontem, não conhecia Raul e nem Kevin, mas então, de repente, eles chegaram em sua vida e ocuparam o seu coração. Já não havia maneiras de negar que nutria por eles um enorme carinho.
No entanto, foi espantoso para a própria loira quando a palavra "carinho" atravessou sua mente. É claro que tinha Kevin como um filho, mas... E Raul?
— Mãe!
Lorena foi tirada de seus pensamentos por Bernardo que a chamou.
— Vem jogar com a gente.
Ela riu.
— Melhor não, filho.
— A gente já vai — assegurou ele, crente que a loira estava com pressa, mas ela não estava.
— Tudo bem, amor. Pode jogar.
Bernardo não pôde deixar de ficar um pouco surpreso, mas continuou. Então, dizendo que já retornava, Raul foi até a arquibancada, sendo recebido com um singelo sorriso.
— Vejo que já está melhor — disse ele.
— Dormi bastante.
— Que bom! — Raul exclamou e acrescentou, tímido: — Fiquei um pouco preocupado com você.
O jovem rapaz não teve como saber o tamanho da alegria que Lorena sentiu ao ouvir aquelas palavras.
— Obrigada. Eu... Me sinto bem melhor agora.
— Ficou feliz com isso.
O silêncio os rendeu por alguns instantes. Era sempre assim, as palavras faltavam.
— Vou voltar pra lá, então... — disse Raul, corado, apontando para os meninos, que jogavam.
— Pode ir.
E ele foi, mas, antes que se afastasse demais, ouviu Lorena o chamar:
— Raul.
— Sim?
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O Malabarista - Concluída
EspiritualRaul é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais novo chamado Kevin, de apenas 7 anos. Ele vive sem muita esperança de ter a sua sorte mudada, embora esteja sempre consolando o seu irmão, di...