Capítulo 53

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SEIS MESES DEPOIS

Eram quase nove horas da noite quando Raul chegou à casa de Lorena. Assim que entrou, porém, se deparou com a loira sentada no sofá, com o rosto entre as duas mãos, e Ícaro, ao seu lado, tinha um semblante de poucos amigos. Mas antes que pudesse perguntar qualquer coisa, viu Luís Fernando retornando da cozinha e dizendo:

— Eles contaram aquela velha história de que só se pode registrar um desaparecimento depois de 24 horas.

— O que aconteceu? — Raul perguntou assim que teve oportunidade.

— Aparentemente, o Bernardo fugiu.

— Fugiu? Como assim 'fugiu'?

Preocupado e, ao mesmo tempo, confuso com a situação, Raul deixou, sobre o sofá, a mochila que trazia consigo — pois vinha de um curso de pré-vestibular — e esperou por alguma explicação. No entanto, o que veio foi apenas um desabafo de Lorena, que se levantou, atordoada, e exclamou:

— Agora, como é que eu vou encontrar esse garoto de noite, meu Deus do céu?

— Mas como assim ele fugiu? — Raul segurou a loira gentilmente quando a viu passar ao seu lado.

— Não sei. Ele me pediu para ir ao shopping e eu deixei. Então ele pegou um Uber e foi, mas não voltou até agora. Já liguei para ele. Já fui ao shopping. Já liguei para a casa de todos os amigos dele, mas ele não está em lugar nenhum!

Lorena fez uma pausa repentina e passou uma mão pelo rosto, pois o desespero já se misturava com o cansaço e com a apreensão, deixando-a esgotada.

— Calma, amor! — Raul tentou tranquilizar a loira quando a percebeu atemorizada.

Então a conduziu novamente até o sofá, dizendo pacientemente:

— Sente-se aí. Fica tranquila. A gente vai achar ele.

Tentando pensar numa boa solução, Raul se sentou sobre o sofá, ao lado de Lorena, e passou uma mão pelo rosto, como ela o fizera ainda há pouco. Estava cansado, queria apenas banhar-se e descansar, mas, havia passado pela casa da namorada para vê-la. Porém, de repente, se viu na necessidade de reunir mais ânimo e resolver aquela situação.

— Vou voltar ao shopping — Luís decidiu após alguns minutos de ponderação.

— Eu vou com você — Raul se prontificou se levantando.

— Eu também vou! — Lorena exclamou e se colocou de pé sem hesitação.

Mas Raul a aconselhou imediatamente:

— Não, amor. Melhor você ficar aqui.

— Não, Raul. Eu... — ela tentou insistir.

— E se ele voltar? Você tem que estar aqui.

O jovem rapaz presenteou Lorena com um curto selinho e prometeu logo em seguida:

— A gente vai encontrar ele. Fica tranquila, tá? — Deu-lhe mais um selinho. — Fica tranquila.

Em seguida, rumou os passos na direção da porta e saiu com Luís.

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Lorena andava de um lado para o outro na sala com o celular pregado na orelha e sob o olhar de Ícaro, que dividia a atenção entre os passos monótonos da mãe e a irmãzinha, que, alheia ao desespero da loira, brincava com algumas peças de lego.

— Alô! — exclamou Lorena quando, finalmente, foi atendida pela recepcionista do hospital para o qual estava ligando. — Eu queria saber se...

Era difícil dizer. Todas as vezes batia aquele temor: e se ela finalmente tiver encontrado seu filho em um hospital, machucado?

O Malabarista - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora