Carlos deu duas leves batidas na porta entreaberta do quarto e entrou, encontrando Lorena conversando com Raul, que a fitava como se quisesse absorver cada palavra sua.
— Oi, Loira! — Disse ele ao entrar. — Andressa te deu o meu recado?
Mas por mais alta e clara que tenha soado sua voz, Carlos não foi escutado por Lorena, que estava demasiadamente absorta no olhar de Raul, enquanto lhe contava sobre Kevin e sua dedicação na escola.
E é claro que, diante daquilo, o coração ainda levemente apaixonado de Carlos descompassou. Ele terminou de entrar no quarto, mas só foi notado quando já estava próximo da cama. Foi quando Lorena se virou e o viu.
— Oi, Carlos.
— Oi, Lori! — O homem respondeu, sempre simpático, apesar de estar um pouco chateado.
— Nem vi a hora que você entrou.
Carlos apenas ergueu as sobrancelhas e tirou uma pequena lanterninha do bolso do jaleco. Então, aproximando-se da cama, fez um rápido exame em Raul, testando os seus reflexos sob o olhar aliviado e feliz de Lorena, que não soltou a mão do jovem rapaz desde que havia chegado.
— Pode mexer os dedos do pé para mim, Raul? — Carlos perguntou.
Demorou alguns instantes para que o jovem rapaz fosse capaz de realizar um simples movimento nos pés, mas conseguiu,
— Muito bem, rapaz. Muito bem — Carlos disse com os pensamentos distantes e, em seguida, caminhou na direção da porta, dizendo: — Vou deixar vocês a sós.
Lorena, que, de tão feliz, não havia notado o olhar chateado do amigo, não disse nada quando Carlos saiu do quarto, apenas mergulhou novamente nos olhos castanhos de Raul e ficou ali, absorta em seus pensamentos otimistas.
Estava a vida sorrindo novamente?
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Carlos, que, além de cirurgião, era o diretor daquele hospital, estava em sua sala, resolvendo algumas questões burocráticas, quando viu Lorena entrar. Então desviou sua atenção dos papéis sobre a mesa e perguntou:
— Já está indo?
— Estou. Eu deixei os meninos em casa... Me chame de louca! Mas...
Riram juntos e, então, Lorena completou:
— Eu precisava vir ver o Raul e... Você sabe, todos os dias eu tenho que fazer acrobacias para dar conta de todas as áreas da minha vida.
— Você faz milagre, Lori.
— É, mas...
A loira passou uma mão pelos cabelos e suspirou, dizendo:
— Eu sinto que estou me matando com essa rotina, sabe?
— Imagino...
— A Bia dorme de tarde e aí, quando chega à noite, ela fica acordada. E eu acabo não dormindo também, né? Daí, no dia seguinte, eu vou cedo para a clínica e é paciente atrás de paciente...
Lorena suspirou outra vez.
— Estou pensando seriamente em assumir só a parte administrativa da clínica e... Sei lá. Curtir a minha filha, sabe? Além do mais, agora que o Raul acordou, ele vai precisar de assistência e... Como vou ajudá-lo se eu trabalho das 8 às 18?
— Ele é um rapaz de sorte — disse Carlos, admirado.
— Por falar em sorte, você acha que ele está se recuperando bem?
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O Malabarista - Concluída
SpiritualRaul é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais novo chamado Kevin, de apenas 7 anos. Ele vive sem muita esperança de ter a sua sorte mudada, embora esteja sempre consolando o seu irmão, di...