Capítulo 54

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NO DIA SEGUINTE

— Lorena, você está de cabeça quente — Luís Fernando tentou argumentar quando viu a irmã saltar do carro em frente à casa onde sabia que Victor estava morando.

Raul, que vinha no banco de trás, também saltou para fora, observando a discussão dos dois irmãos. Mas Lorena estava determinada demais para prestar atenção nas palavras de Luís:

— Se ele tiver feito alguma coisa com o meu filho...

— Lorena, é melhor esperar a polícia. Eles já disseram que vão interrogar o Victor e...

— Se você estiver com medo, Luís Fernando, — a loira se voltou para o irmão diante do portão de entrada — pode ficar lá no carro. Mas eu não vou esperar polícia nenhuma!

Sem consultar mais ninguém, Lorena tocou a campainha da casa freneticamente. Luís, por sua vez, como no dia anterior, irritou-se com a irmã e se afastou, coçando os cabelos.

Então, passados alguns segundos, foi possível escutar passos do outro lado do muro, até que o portão foi aberto, revelando Victor. Raul, que nunca o havia visto, nem teve tempo para processar o rosto do homem que lembrava Bernardo, pois, sem nenhum aviso prévio, Lorena o atacou com um empurrão.

— Cadê o meu filho, Victor?!

— Que filho, Lorena?

As palavras de Victor vieram acompanhadas da fumaça do cigarro que ele fumava, enquanto seus olhos demoravam um pouco sobre Raul.

— Não se faça de tonto, idiota! Onde está o Bernardo?

— E eu vou saber? Foi você que quis ficar com todos eles. Agora, se o garoto sumiu, o problema é seu!

— Se você tiver encostado em um só fio de cabelo do Bernardo...

— Pra que eu ia querer pegar o moleque de você, Lorena? Se liga, ô! Mal consigo me sustentar e vou arranjar outra boca pra alimentar? Não venha jogar no meu colo essa bomba. Se o menino fugiu, a culpa é toda sua!

— Culpa minha uma vírgula, Victor! Foi você o idiota que destruiu a família e traumatizou o Bernardo.

— Ah, Lorena! Vai pro inferno!

Victor ameaçou fechar o portão da casa, mas Raul foi mais ágil em impedir colocando seu pé na frente, de maneira que o ex-marido de Lorena não pudesse fechar a entrada.

— Você não viu mesmo o Bernardo? — o jovem rapaz perguntou calmamente.

Mas Victor, que nunca foi de calmarias, olhou Raul de cima a baixo e disse querendo soar ameaçador:

— Aí, vacilão! Quem tu pensa que é pra meter o pezão no meu portão? Eu te viro do avesso na porrada, doido!

— Nem tudo se resolve com violência, amigo.

— Isso é papo de homem frouxo! — retrucou Victor, estufando o peito.

— Não, você está errado. Homem que é homem usa a sua força para a coisa certa.

Victor gargalhou em meio à fumaça e, então, arremessou a bituca de cigarro no chão, saltando para fora para peitar Raul logo em seguida, enquanto dizia num tom cínico:

— Então vamos ver se tu é homem mesmo.

Mas Lorena, temendo o pior, atravessou no meio dos dois e tentou impedir Victor de alcançar Raul, mas seu ex-marido não pensou duas vezes antes de empurrá-la com força, exclamando:

— Sai da minha frente, Lorena!

Por sorte, a loira não foi ao chão, pois, logo atrás dela, estava Raul, que a segurou e a passou para trás logo em seguida, ficando frente a frente com Victor que bufava feito um animal.

— Por que não bate num homem? — perguntou o jovem rapaz, indignado.

— O homem é você? — Victor gargalhou. — Se liga, vacilão! Um soco e você vai chorar igual um bebê.

— Tenta a sorte, então.

Victor soltou uma gargalhada outra vez, mas foi interrompido por Luís, que se aproximou de repente, dizendo:

— Vamos embora, Lorena!

— Já vão embora? Não vão nem entrar para tomar um café? — debochou Victor, acendendo outro cigarro.

Mas Luís Fernando não recebeu aquele deboche muito bem.

— Fica na sua, Victor! Ninguém está falando com você! — exclamou o jovem loiro, alterado.

Normalmente, Luís Fernando era um rapaz tranquilo, mas poucas coisas no mundo o irritavam tanto quanto ver alguém maltratar sua irmã. Fosse quem fosse.

— Ué, Luisinho! Ficou valente de repente? — Victor baforou a fumaça do cigarro e apontou para o ex-cunhado que respirava ofegante, tamanha raiva sentia. — Olha só, um conselho, é melhor você ficar de boa na sua. O maluco aqui eu até acho que possa, quando muito, dar um soco, porque o bicho é grande — disse se referindo a Raul. — Agora, você com esse um metro e setenta de altura não espanta nem anão de jardim.

Luís Fernando passou a mão pelo rosto violentamente, tentando conter a raiva. Mas então, quando pensou em responder Victor, sentiu Lorena puxá-lo na direção do carro. O mesmo sentiu Raul. Era melhor ir embora dali.

— Por que você tem que ser tão teimosa, Lorena? — Luís questionou a irmã na primeira oportunidade que teve ao entrarem no carro.

— Eu precisava vir, uai! Você veio porque quis.

— Porque eu quis?! — Luís riu, magoado. — Você só pode estar brincando.

Apesar do tom chateado do irmão, Lorena deu partida no carro e foi embora. A aflição por não conhecer o paradeiro do filho a estava enlouquecendo.

O Malabarista - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora