NO DIA SEGUINTE
— Lorena, você está de cabeça quente — Luís Fernando tentou argumentar quando viu a irmã saltar do carro em frente à casa onde sabia que Victor estava morando.
Raul, que vinha no banco de trás, também saltou para fora, observando a discussão dos dois irmãos. Mas Lorena estava determinada demais para prestar atenção nas palavras de Luís:
— Se ele tiver feito alguma coisa com o meu filho...
— Lorena, é melhor esperar a polícia. Eles já disseram que vão interrogar o Victor e...
— Se você estiver com medo, Luís Fernando, — a loira se voltou para o irmão diante do portão de entrada — pode ficar lá no carro. Mas eu não vou esperar polícia nenhuma!
Sem consultar mais ninguém, Lorena tocou a campainha da casa freneticamente. Luís, por sua vez, como no dia anterior, irritou-se com a irmã e se afastou, coçando os cabelos.
Então, passados alguns segundos, foi possível escutar passos do outro lado do muro, até que o portão foi aberto, revelando Victor. Raul, que nunca o havia visto, nem teve tempo para processar o rosto do homem que lembrava Bernardo, pois, sem nenhum aviso prévio, Lorena o atacou com um empurrão.
— Cadê o meu filho, Victor?!
— Que filho, Lorena?
As palavras de Victor vieram acompanhadas da fumaça do cigarro que ele fumava, enquanto seus olhos demoravam um pouco sobre Raul.
— Não se faça de tonto, idiota! Onde está o Bernardo?
— E eu vou saber? Foi você que quis ficar com todos eles. Agora, se o garoto sumiu, o problema é seu!
— Se você tiver encostado em um só fio de cabelo do Bernardo...
— Pra que eu ia querer pegar o moleque de você, Lorena? Se liga, ô! Mal consigo me sustentar e vou arranjar outra boca pra alimentar? Não venha jogar no meu colo essa bomba. Se o menino fugiu, a culpa é toda sua!
— Culpa minha uma vírgula, Victor! Foi você o idiota que destruiu a família e traumatizou o Bernardo.
— Ah, Lorena! Vai pro inferno!
Victor ameaçou fechar o portão da casa, mas Raul foi mais ágil em impedir colocando seu pé na frente, de maneira que o ex-marido de Lorena não pudesse fechar a entrada.
— Você não viu mesmo o Bernardo? — o jovem rapaz perguntou calmamente.
Mas Victor, que nunca foi de calmarias, olhou Raul de cima a baixo e disse querendo soar ameaçador:
— Aí, vacilão! Quem tu pensa que é pra meter o pezão no meu portão? Eu te viro do avesso na porrada, doido!
— Nem tudo se resolve com violência, amigo.
— Isso é papo de homem frouxo! — retrucou Victor, estufando o peito.
— Não, você está errado. Homem que é homem usa a sua força para a coisa certa.
Victor gargalhou em meio à fumaça e, então, arremessou a bituca de cigarro no chão, saltando para fora para peitar Raul logo em seguida, enquanto dizia num tom cínico:
— Então vamos ver se tu é homem mesmo.
Mas Lorena, temendo o pior, atravessou no meio dos dois e tentou impedir Victor de alcançar Raul, mas seu ex-marido não pensou duas vezes antes de empurrá-la com força, exclamando:
— Sai da minha frente, Lorena!
Por sorte, a loira não foi ao chão, pois, logo atrás dela, estava Raul, que a segurou e a passou para trás logo em seguida, ficando frente a frente com Victor que bufava feito um animal.
— Por que não bate num homem? — perguntou o jovem rapaz, indignado.
— O homem é você? — Victor gargalhou. — Se liga, vacilão! Um soco e você vai chorar igual um bebê.
— Tenta a sorte, então.
Victor soltou uma gargalhada outra vez, mas foi interrompido por Luís, que se aproximou de repente, dizendo:
— Vamos embora, Lorena!
— Já vão embora? Não vão nem entrar para tomar um café? — debochou Victor, acendendo outro cigarro.
Mas Luís Fernando não recebeu aquele deboche muito bem.
— Fica na sua, Victor! Ninguém está falando com você! — exclamou o jovem loiro, alterado.
Normalmente, Luís Fernando era um rapaz tranquilo, mas poucas coisas no mundo o irritavam tanto quanto ver alguém maltratar sua irmã. Fosse quem fosse.
— Ué, Luisinho! Ficou valente de repente? — Victor baforou a fumaça do cigarro e apontou para o ex-cunhado que respirava ofegante, tamanha raiva sentia. — Olha só, um conselho, é melhor você ficar de boa na sua. O maluco aqui eu até acho que possa, quando muito, dar um soco, porque o bicho é grande — disse se referindo a Raul. — Agora, você com esse um metro e setenta de altura não espanta nem anão de jardim.
Luís Fernando passou a mão pelo rosto violentamente, tentando conter a raiva. Mas então, quando pensou em responder Victor, sentiu Lorena puxá-lo na direção do carro. O mesmo sentiu Raul. Era melhor ir embora dali.
— Por que você tem que ser tão teimosa, Lorena? — Luís questionou a irmã na primeira oportunidade que teve ao entrarem no carro.
— Eu precisava vir, uai! Você veio porque quis.
— Porque eu quis?! — Luís riu, magoado. — Você só pode estar brincando.
Apesar do tom chateado do irmão, Lorena deu partida no carro e foi embora. A aflição por não conhecer o paradeiro do filho a estava enlouquecendo.
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O Malabarista - Concluída
SpiritualRaul é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais novo chamado Kevin, de apenas 7 anos. Ele vive sem muita esperança de ter a sua sorte mudada, embora esteja sempre consolando o seu irmão, di...