Capítulo 17

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Como a rotina ordenava, Lorena acordou oito horas da manhã e desceu para o primeiro andar da casa logo após a sua higiene matinal. Domingo era dia de reunir com a família, que vinha almoçar e passar a tarde.

Durante a semana, não costumava cozinhar, tarefa que correspondia à Gilda, mas, aos domingos, já era tradição: Lorena largava tudo e ia colocar a mão na massa. Depois da odontologia, a gastronomia era, definitivamente, a sua maior paixão.

Mas aquele domingo se apresentou ligeiramente diferente à princípio, pois, assim que Lorena alcançou a cozinha, a voz de Ícaro soou atrás dela, que, ao se virar, deparou-se com o pequeno trajado com uma sunga azul e com uma máscara de mergulho pendurada no pescoço.

— Que isso, Ícaro?

— Posso nadar?

— Filho, são oito horas da manhã - respondeu Lorena enquanto ligava a cafeteira.

— Só um pouquinho antes do café.

— Tem que esperar seu tio chegar para que ele limpe a piscina, Ícaro. Você já sabe.

— Mas eu quero, mãe!

Lorena respirou fundo, buscando paciência. Ela conhecia Ícaro muito bem e sabia que, quando ele começava, não terminava tão cedo. E a verdade é que tinha dias que o garotinho a tirava do sério.

— Tem que esperar o seu tio. Já falei!

— Mas por que você não pode limpar?

— Porque eu não posso, Ícaro. E chega de insistir!

Intimamente, Lorena pensou que seria em vão tentar explicar para o filho que a sua obstetra havia aconselhado a evitar esforços durante a gravidez. Achou que ele não entenderia.

— Ah nem, mãe! Eu quero nadar agora.

Ícaro, parado no meio da cozinha, balançou o corpo, fazendo o máximo de pirraça que conseguia, e, não medindo esforços, agarrou a blusa do pijama que Lorena usava, insistindo:

— Limpa a piscina, mãe.

— Ícaro, solta a minha blusa.

— Mas você vai limpar?

— Eu não vou limpar nada, Ícaro. Se o senhor quer nadar, vai ter que esperar o seu tio chegar. Mas, se continuar me torrando a paciência desse jeito, eu vou falar para o Nando não limpar coisa nenhuma.

Ícaro soltou a blusa da loira com brusquidão e se distanciou, gritando:

— CHATA!

— Sou mesmo.

— EU TE ODEIO!

— É mesmo, é?

Lorena, que já estava acostumada com aquelas injúrias, não deu muita bola para o que o filho estava dizendo, apesar de machucar no fundo. Então ouviu um assobio conhecido e sorriu, era Luís Fernando chegando.

Ao ouvir o assobio, Ícaro abandonou a cozinha no mesmo instante e foi correndo até a sala, atravessando-a rapidamente, a fim de abrir a porta e se jogar nos braços do tio, que o recebeu com a mesma empolgação.

— Tio! Tio! Tio!

Ícaro exclamou múltiplas vezes quando Luís Fernando o colocou no chão.

— Limpa a piscina?

Luís sorriu e bagunçou levemente os cabelos de Ícaro, dizendo:

— Já, já, eu limpo. Viu? Só vou colocar essas carnes na geladeira.

Ícaro se conformou com aquela resposta e seguiu Luís Fernando até a cozinha.

— Bom dia, maninha! Onde eu coloco essas carnes? — Luís ergueu as sacolas no ar.

O Malabarista - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora