DEZOITO DIAS DEPOIS
Raul estava diante de uma igreja cheia. O traje que vestia parecia sufocá-lo, pois a emoção que sentia por dentro estava presa entre os apertados botões de sua roupa. A cada rosto conhecido que via entrar, seu coração batia mais rápido.
Desde que saiu da rua, nunca havia parado para imaginar a quantidade de pessoas que estavam torcendo pela sua felicidade, mas aquela igreja cheia estava ali para atestar isso.
Sentada num dos primeiros bancos, estava sua avó com um sorriso choroso impresso no rosto. Ela era como uma segunda mãe e a verdade é que, na falta de seus pais, ela era mais do que suficiente para Raul.
Dali, de cima do altar, tudo pareceu valer a pena. De repente, foi como se um filme com final feliz estivesse passando diante de seus olhos. Quem diria que terminaria assim? Quando vivia debaixo da ponte, desesperançado e sobrevivendo apenas pelo irmão mais novo, sonhar com algo como aquilo era quase um delírio. Mas Raul sonhou mesmo assim e que bom que o fizera. Pois, agora, em pé no altar, pôde sentir o doce gosto da realização. Pôde se sentir completo.
De todas as conquistas, aquela era certamente a maior.
Depois de longos minutos, a porta da igreja se fechou para o grande momento. Todos, então, se levantaram, enquanto Raul, com as pernas trêmulas e a barriga barulhando, desceu do altar e se posicionou perto da primeira fileira de bancos.
Então, quando os primeiros acordes da marcha nupcial foram tocados e a porta se abriu, foi impossível ao jovem rapaz deter as lágrimas, por mais que as estivesse prendendo ao máximo.
Lorena, por sua vez, concentrou-se como nunca havia feito em toda sua vida. Precisava segurar as lágrimas até chegar lá na frente pelo menos. E, talvez, pela vivência ou pelo mero fato de ter trabalhado arduamente as suas emoções nos últimos dias, a loira foi capaz de maquiar a sua vontade de chorar de alegria com sorrisos e acenos.
Então, parado onde estava, como se seus pés estivessem colados no chão, Raul observou sua noiva se aproximar radiante e maravilhosa em seu vestido alvo, cuja cauda estilo catedral se arrastava majestosamente pelo chão.
Mesmo de longe, Lorena foi capaz de perceber as tímidas lágrimas que escorriam pelo rosto de Raul, que tentava ignorá-las. Então pensou que ele estava deslumbrante naquele fraque, que havia lhe deixado verdadeiramente charmoso. Um homem lindo. O amor da sua vida.
Quando, então, Lorena, finalmente, alcançou a frente da igreja, Cícero a entregou a Raul, dizendo:
— Cuide bem da minha filha, rapaz.
— Sim, senhor. Eu vou cuidar.
Cícero, então, deu duas leves batidas no ombro de Raul, antes de beijar a filha e procurar o seu assento.
— Você está linda — sussurrou Raul a Lorena, que sorriu e enxugou as lágrimas dele.
— Você também.
Raul, então, abriu um pequeno sorriso choroso e beijou a testa da loira, conduzindo-a até o altar logo em seguida.
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Após algumas palavras ditas, o momento de trocar as alianças havia chegado. De cima do altar, ao se virar, Lorena viu, a alguns consideráveis metros de distância, pois a igreja era enorme, a sua loirinha sendo preparada para entrar.
É verdade que algumas mentes sábias não aconselham a entrada de bebês abaixo dos 2 anos de idade em cerimônias de casamento, pois elas costumam perder o rumo até o altar. Todos aqueles olhares sobre a pobre criança costumam amedrontá-la e inibi-la.
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O Malabarista - Concluída
SpiritualRaul é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais novo chamado Kevin, de apenas 7 anos. Ele vive sem muita esperança de ter a sua sorte mudada, embora esteja sempre consolando o seu irmão, di...