Capítulo 63

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Eu estava no meu quarto, arrumando-me para sair

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Eu estava no meu quarto, arrumando-me para sair. Com a aproximação do casamento, o dia parecia ter apenas 12 horas. Era tanto detalhe para acertar que eu já me sentia tonto. Dessa vez, Lorena e eu iríamos até uma estilista muito amiga dela, pois, pelo pouco que entendi, não alugaríamos nossas roupas, mas alguém as faria sob medida.

De repente, quando menos esperei, Kevin entrou no meu quarto sem falar nada e me abraçou.

— O que...

— Eu gosto muito da tia Lori, mas você tem mesmo que se casar, Raul? — ele perguntou num tom choroso.

— Você não está feliz, amigão?

— Eu tô, mas é que eu não quero ficar longe de você.

— Mas quem te falou que você vai ficar longe de mim?

Kevin soltou minha cintura e me olhou, permitindo que eu visse os seus olhos marejados.

— Você vai morar com ela e vai esquecer de mim — ele respondeu enxugando com as costas das mãos o par de lágrimas que escorreu pelo seu rosto.

— É claro que eu não vou me esquecer de você! — exclamei, acariciando seus cabelos. — Nós somos irmãos e vamos continuar sendo, não importa o que acontecer.

— Mas é que, agora, você vai ter a sua própria família.

— Você também é minha família, amigão. Já passamos por tanta coisa juntos e, logo agora, vamos nos separar? Claro que não!

— Mas você vai morar longe...

— Você pode vir morar comigo. Qual é o problema?

— É que eu não quero deixar a vovó sozinha. Quem vai cuidar dela se eu também for embora?

Ri internamente.

Kevin era tão preocupado com as coisas. Mas isso soa familiar, não é? Pois eu também tenho a mania de querer abraçar o mundo com as pernas às vezes.

— A vovó não vai ficar chateada se você quiser vir morar comigo — argumentei.

Na verdade, eu já estava contando que Kevin viria comigo. Afinal, não julguei que ele fosse conseguir ficar tanto tempo longe. Mas tudo indicava que ele estava dividido.

Ele estava crescendo...

— Eu sei, mas é que... — Kevin soluçou, chorando. — Se nós dois for embora, ela vai ficar sozinha, Raul. E aí quem vai ajudar ela com a louça e com as compras?

— Kevin, não precisa se preocupar com isso...

— Mas eu me preocupo, Raul! Porque... Porque eu quero ir morar com você, mas também quero ficar aqui e ajudar a vovó. O que eu faço?

Enxuguei as lágrimas que insistiam em escorrer pelas suas bochechas e pensei em uma maneira de acalmá-lo, mas não tive tempo, pois, de repente, a figura de Lorena se desenhou na porta do quarto.

— Amor, vamos...

Ela se deteve quando notou Kevin soluçando e, então, não hesitou em entrar no cômodo, deixando sua bolsa sobre minha cama e vindo em nossa direção.

— O que aconteceu, meu bem?

— Ele não sabe se vem morar com a gente ou se fica aqui com a minha avó — respondi por Kevin, que chorava e soluçava sem parar.

— Ah, meu amor! Mas isso não é motivo pra você chorar.

Lorena se sentou na beirada da minha cama e puxou Kevin para perto, enxugando suas lágrimas como eu havia feito antes.

— Por que você está tão preocupado com isso?

— É que eu não... Não quero ficar longe do... Longe do Raul, mas também não quero ficar... Longe da vovó — Kevin respondeu entre soluços.

— Você pode morar nos dois lugares, meu amor. Durante a semana, você pode ficar aqui com a sua avó e, nos finais de semana, você pode ficar com a gente. Ou o contrário. Não precisa chorar.

Kevin soluçou um pouco mais antes de se acalmar. Eu nunca o havia visto chorar tanto. Então ele olhou para mim de relance e, depois, perguntou olhando para Lorena:

— Você promete que não vai deixar o Raul esquecer de mim?

Lorena riu, olhando para mim de relance também.

— O Raul não vai se esquecer de você, meu bem. Quem sou eu pra roubar o seu irmão de você? Ele te ama e vai sempre estar por perto.

Kevin me olhou outra vez. Então eu me sentei ao lado de Lorena e o puxei para perto, como ela havia feito, e falei:

— A Lori está certa, amigão. Eu não vou me esquecer de você. Eu vou sempre vir aqui para ver como vocês estão.

— Promete?

— Claro que eu prometo!

Aos poucos, Kevin foi abrindo um sorriso, até que, bem mais tranquilo, ele se jogou nos meus braços, me abraçando.

— Cadê meu abraço? — Lorena perguntou quando Kevin se afastou de mim.

Então, ainda sorridente, ele se jogou nos braços de Lori, que o encheu de cócegas, fazendo-o cair na gargalhada. Lorena sabia ser uma boa mãe, mesmo para Kevin que não era seu filho.

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Eu não podia culpar Kevin por estar tão carente nos últimos dias. Afinal, é compreensível o seu sentimento de quase abandono. Sempre fomos só nós dois. Nunca antes, com exceção de quando fiquei em coma, permanecemos tanto tempo longe um do outro.

Mas então, de repente, eu percebi que eu também estava sofrendo com a ideia de me separar dele. Quero dizer, não ficaríamos tão separados assim, mas, de uma forma ou de outra, não ficaríamos mais tão próximos como antes, principalmente porque ele, corajosamente, decidiu ficar para cuidar da minha avó.

— Que cara é essa, amor? — Lorena perguntou quando estávamos a caminho da casa de Viviane, sua amiga estilista.

— Eu não tinha parado para pensar nisso, mas também vou sentir falta de ter o Kevin sempre comigo.

Lorena parou diante de um semáforo e se voltou para mim, dizendo com um pequeno sorriso:

— Eu convidei sua avó para vir morar com a gente, porque o que não falta naquela casa é espaço, mas ela disse que quer nos dar privacidade.

— Ela disse isso? — Ri.

— Disse. Mas eu acho que ela também quer ter o cantinho dela.

Assenti, concordando. Então Lorena arrancou o carro novamente, mas não deixou de continuar:

— Mas eu entendo o seu sentimento, amor. Quero dizer, por mais que o Kevin venha dormir com a gente algumas noites ou nós vamos à casa da sua avó de vez em quando para vê-lo, não é a mesma coisa.

— Não mesmo. E, na verdade, até me surpreendeu que ele se dispôs a ficar com a minha avó.

— Acho que alguém está crescendo — Lorena brincou, me olhando de relance.

Então ri do seu tom engraçado e cocei minha nuca para dizer:

— Eu sinto falta de quando ele era pequenininho, mas também estou feliz de ver que ele está crescendo. Depois de tudo que passamos, não há nada melhor do que ver que... Estamos superando.

Lorena me olhou de relance e trouxe uma mão até o meu queixo. Então foi possível notar um pequeno sorriso em seus lábios.

Havíamos superado.

O Malabarista - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora