Gilda colocou sua bolsa sobre os ombros e disse, cuidando para não esquecer nenhum detalhe:
— A salada está na geladeira. Viu, querida?
Lorena, que colocava a mesa, organizando os pratos e os copos da maneira que achava melhor, ergueu o olhar e sorriu, agradecendo:
— Obrigada, Gilda. Você me salvou! Tem certeza que não quer ficar?
— Eu até gostaria, mas meu filho está lá em casa com o meu neto e... Sabe como é, né? Amanhã, eles vão voltar para São Paulo e eu quero aproveitar ao máximo.
— Claro! Você está certa.
— Bem, então... Boa noite.
— Boa noite, Gilda. E obrigada mais uma vez.
A mulher, cujo sorriso quase nunca saía do rosto, tocou de leve o ombro de Lorena e, na sequência, deixou a casa. No mesmo instante, Ícaro entrou na sala de jantar com os cabelos desgrenhados e com os olhos fixos no iPad, onde jogava um joguinho qualquer.
— Filho, você ainda não tomou banho? - perguntou Lorena quando Ícaro se sentou em uma das cadeiras da enorme mesa de vidro.
— Já tomei — respondeu ele, sem desviar o olhar do jogo.
— Então por que está descabelado desse jeito?
— Eu fiquei com preguiça de pentear, mãe. Penteia pra mim? — Ícaro ergueu o rosto, ostentando um sorriso amarelo.
— Agora, eu não posso, filho. Estou correndo aqui pra ajeitar tudo. Além do mais, você já tem 9 anos, né? Não acha que está na hora de fazer isso sozinho.
— Mas é que eu não consigo, mãe! Meu cabelo tá muito duro.
Lorena riu e, aproximando-se do filho, puxou para trás a franjinha que caía sobre seus olhos e beijou-lhe a testa, perguntando logo em seguida:
— Se está tão difícil cuidar do seu cabelo, por que não o corta?
— Não! — Ícaro quase gritou, colocando as mãos sobre a cabeça.
Outra vez, Lorena riu. Por alguma razão, Ícaro tinha horror a ideia de cortar os cabelos.
— Você ia ficar lindo com a cabeça raspada — provocou Lorena com um sorriso brincalhão estampado no rosto.
— Para, mãe! — choramingou Ícaro.
— Mas é sério...
— PARA!
— Não grita — murmurou ela sem conseguir evitar o riso baixo.
— Mas foi você que começou.
— Tudo bem. Eu assumo. Me desculpa, tá?
Lorena beijou a testa do filho outra vez e acrescentou:
— Você fica lindo de qualquer jeito.
Quando ela saiu da sala de jantar, Ícaro passou uma mão pela testa, limpando o lugar onde Lorena o havia beijado. Não era de carícias.
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Kevin entrou na cozinha abraçado a duas garrafas de refrigerante, as quais deixou dentro da geladeira antes de sair praticamente correndo em busca de Ícaro, mas, logo à porta da cozinha, encontrou Lorena, que trazia Beatriz de uma soneca.
— Ei, tia! Eu já cheguei — disse Kevin, sempre alegre. — Cadê o Ícaro?
— Deve estar lá em cima — respondeu Lorena, achando graça da empolgação de Kevin que parecia inesgotável.
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O Malabarista - Concluída
EspiritualRaul é um morador de rua que perdeu sua mãe e, desde então, vive debaixo de um viaduto com o seu irmão mais novo chamado Kevin, de apenas 7 anos. Ele vive sem muita esperança de ter a sua sorte mudada, embora esteja sempre consolando o seu irmão, di...