🔶CAPÍTULO TRÊS🔶

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Ao recobrar a consciência tive certeza de que o pesadelo era real. Fui me apoiando na pedra da pia para me erguer do chão. Ainda estava tonta. O carro dele não estava mesmo lá, ele partira de vez.

O celular na bancada da copa vibrou e atendi rapidamente. Era mamãe.

— Devo visitar você no domingo. Estará em casa?

O que eu diria a ela sobre o fim do meu casamento?

— Estarei. — Passei a mão na testa com certo desespero.

— Roger está bem?

Eu ia gaguejar .

— Sim. Está. — Falei pausadamente e mamãe não notou nada.

Obviamente que eu iria mentir sobre meu divórcio. Já era o suficiente sofrer por ter sido largada. Acho que não aguentaria mamãe me dando um sermão e me lembrando que eu fazia tudo errado ou que não fora capaz de salvar meu próprio casamento.

— Devo chegar umas dez da manhã e ajudo com o almoço. Mande lembranças ao Roger.

— Mandarei, mãe. Fique bem.

Estava completamente sem fome. Sentia meu estômago embrulhado e as vezes chorava quando me recordava de Roger. Eu o amava tanto.

Talvez já estivesse com outra oficialmente. Aquela loura que ele trouxera no dia anterior parecia ser uma escolha para ele. O que eu não tinha? O que faltava em mim?

O espelho do quarto mostrava meu reflexo. Cabelo preso num rabo de cavalo. Jeans gasto. Um suéter cor limão e por baixo uma regatinha branca. Não que fosse feia, mas não podia dizer que eu estava atraente naquele momento.

Aos poucos o oxigênio dentro daquela imensa casa pareceu faltar. Tudo lembrava ao meu marido. Ou ex-marido. Peguei meu livro que já lia há alguns dias e fui para a praça da cidade. Precisava tomar um ar.

O parque não estava muito cheio, talvez porque fosse quinta feira. O banco perto da árvore estava vazio e sentei-me. Já estava bem avançada no livro e faltava poucos capítulos para terminar. Até que consegui me distrair um pouco.
— Morro dos ventos uivantes???? — A voz aguda daquela garota fez tirar os olhos da página e encará-la.

Era alta e esguia. Cabelo Chanel preto que lembrava uma francesa. Vestia uma saia highschool e meia-calça preta. Blusinha de mangas bufantes e coturno nos pés.

Descrevendo assim não parecia tão boa a combinação, mas as roupas funcionavam bem naquela garota. Em mim provavelmente ficaria péssimo.

— Sim, sim! Já estou lendo pela terceira vez!!!

— Respondi retribuindo o sorriso.

— Eu li várias vezes. Sempre com uma perspectiva diferente. Posso me sentar ao seu lado?

— Claro — Disse chegando para a esquerda.

— O dia está lindo nesse fim de tarde, né?

— Está sim. O por do sol é bonito. A luz batendo na água do lago — Observei.

— Sou Mièrra, prazer!

— Samantha. — Apertei a mão dela.

— Sou nova na cidade. Cheguei há algumas semanas — Mierra inspirou fundo, parecendo apreciar a vista.

— E está gostando? Aqui é bem pacato, não acha?

— Sim. E foi exatamente essa razão pela qual me mudei da capital pra cá. Vida agitada, correria, violência. Olha essa calmaria, Samantha — Os olhos dela brilhavam — Isso sim é qualidade de vida.

Ela tinhá razão. A cidade era bonita, limpa e segura.

— Só não temos muitas opções de lojas e comércios aqui. - Me queixei.

— Nem tudo é perfeito. Mas achei estranho ter um hotel como aquele nessa cidade tão parada

— Mierra apontou para o imenso prédio do outro lado da rua.

Era uma construção suntuosa e muito chique para os padrões da cidade. A observação dela era interessante e eu nunca havia parado para pensar.

— Os hotéis da família Monroe. Há vários deles pelo país — Explicava.

— É, eu soube. Estranho mesmo é o maior de todos estar aqui. Não faz sentido.

— Não mesmo. — Eu ri.

— Ei, Samantha. Amanhã estava querendo visitar uma cafeteria no lado sul da cidade.

— A Coffee Breath? — Indaguei.

— Essa mesma. É boa???

— Ah, Mierra, você vai amar. É muito boa sim. O capuccino deles é incrível.

— Perfeito. Que tal irmos juntas?

Bom, eu já não tinha mais marido ou qualquer responsabilidade. Por que não?

— Pode ser. Que horas está pensando ir?

— Umas cinco da tarde. Já estará mais fresco e o por do sol provavelmente será lindo de novo.

— Fechado! As cinco.

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Onde histórias criam vida. Descubra agora