PARTE II - CAPITULO 11

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Não creio que exista angústia pior que sentir-se aprisionada sem qualquer tipo de amarra ou grade. A princípio, como já devo ter mencionado, culpava minha falta de memória por não saber como me libertar da situação em que estava. Porém, após Caleb ter me agredido, começou a ficar mais claro para mim o quão denso e perigoso era tudo aquilo.

Eu não tinha a menor certeza de que se ele um dia fora realmente meu marido. Será que amor é um sentimento que se esquece quando as memórias são perdidas? Não acho que deixaria de amá-lo caso existisse um sentimento real entre mim e Caleb, ainda que tivesse me esquecido de tudo. Mas eu não lembrava de amá-lo. Nadinha.

A distância entre mim e meu marido naquela mesa de café pela manhã era mais simbólica que real. Não comia uma grama que fosse de nada do que havia ali, além de duas uvas e um waffle devidamente embalado — de uma marca conhecida.

— Se não se alimentar irá adoecer, querida! — Caleb sacudia seu jornal virando a página.

Se existisse uma internet descente naquele lugar talvez ele lesse pelo celular. Mas nem uma página de notícia aquele Wi-Fi era capaz de carregar.

— Não estou com fome. — Limitei-me a dizer sem olhá-lo.

Caleb suspirou com tédio e ficou uns minutos observando meus gestos. Eu circulava a borda da xícara com a polpa do dedo indicador direito. A outra mão apoiava meu queixo, mão esta erguida sobre o cotovelo. Fitava o nada, mas com a visão periférica era capaz de notar meu marido me analisando.

Ele jogou o guardanapo sobre a mesa e veio até mim em passos nada apressados. Posicionou-se atrás da minha cadeira e massageou meus ombros. Era terrível o sentimento de medo e pavor. Como se Caleb fosse me machucar a qualquer momento.

— Pegue um pedaço de pão, Samantha. — Ordenava.

Eu desejava gritar. Jogar meu café quente na cara daquele monstro.

— Estou sem fome, querido. — Tentei esboçar um riso amistoso apesar de Caleb não ver minha face.

Outro suspiro dele.

— COMA. A PORR*A. DESSE . PÃO. INFERNO! — Gritava ele.

E nisso, Caleb pegou o pão com manteiga e forçou a massa contra a minha boca. Procurei resistir em uma luta inútil e com isso a fatia de pão esfarelou por meu rosto todo, deixando-me lambuzada com manteiga.

Eu grunhia, com um desespero enorme, implorando a todo instante que parasse com aquilo . Mas quando abria a boca Caleb enfiava mais e mais do pão na minha garganta.

Com meu desespero, desequilibrei-me da cadeira e caí no chão. Por reflexo, segurei na toalha da mesa e todas as coisas que estavam nela foram pelo assoalho quando puxei o tecido para tentar me segurar. Apenas ouvi barulho dos pratos e talheres sendo derrubados e se espalhando.

— As coisas não serão do seu jeito, Samantha! Não serão! — Enfatizava — Quando eu disser para você comer, você comerá. Estamos entendidos? — A voz calma e aveludada do meu agressor causava pânico.

Nesse instante, Cassandra surgiu e notei um segundo de espanto em sua face. Mas logo voltou a manter sua inexpressão de sempre para qualquer coisa que fosse.

— Vou buscar as coisas para limpar a bagunça, senhor!

Caleb estendeu a mão para a empregada a detendo.

— Não. Não. Você não fará nada, Cassandra. Foi Samantha quem sujou tudo isso. Ela terá o maior prazer em organizar como estava antes.
Não é, minha esposa?

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Onde histórias criam vida. Descubra agora