CAPÍTULO TRINTA

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Abri os olhos após um breve susto. Olhei pela janela da sala e Caleb conversava com o segurança que fazia a ronda pela minha casa nos dias em que ele esteve ausente. Devia estar dispensando o rapaz já que havia retornado. E pelo visto, antes do que planejara, pois aquele segurança dissera mais cedo que ainda teria outro turno.

Havia pegado no sono de maneira estranha vez e outra, sem conseguir de fato ficar consciente por um período longo. Acordei outra vez com o barulho dele fechando a porta ao entrar. Não era possível que eu simplesmente dormira enquanto beijava Caleb. Que azar!!!!

O corpo ainda era tomado de uma sonolência inexplicável e minha vista estava embaçada. Contudo eu podia jurar que Caleb fotografava algumas coisas no almoxarifado, depois apontou para o teto da sala e terminou fotografando a cozinha. Eu não sabia se estava delirando naquele instante. O flash da câmera do seu celular estava ligado e fazia um barulho ao registrar a fotografia.

Ele subiu e desceu algumas vezes as escadas até o andar de cima. Caminhou para a cozinha e depois foi ao almoxarifado novamente. Acho que Caleb procurava por algo. Em seguida ficou um tempo parado olhando pela janela da sala.

As vezes era novamente tomada pelo sono e despertava vagamente com mais algum barulho. Senti um conforto quando um tecido aqueceu minha pele. Abri os olhos e avistei o vizinho me cobrindo com um cobertor.

Caleb se sentou ao meu lado próximo a minha cabeça e ficou acariciando os fios de cabelo que caiam pelo meu rosto. A mão dele era gelada, afinal, o vento congelante da madrugada de outono roubava qualquer calor. E seu perfume era tão gostoso de sentir que meu corpo relaxou completamente. Havia muitos dias que não me sentia confortável para dormir como ali naquele momento. 

- Caleb! - murmurei.

- Diga! - ele se deitou vagarosamente ao meu lado no sofá.

- Posso te pedir uma coisa? - A minha voz definitivamente era de bêbada.

- O que quiser, mocinha!

O cheiro do perfume do vizinho se intensificou quando eu recostei minha cabeça no peito dele. Permanecia de olhos fechados e os músculos do seu torax eram extremamente confortáveis. Caleb ja fazia carinho na minha nuca e deu um beijo de leve em minha testa.

- Diga, o que voce quer que eu faça?

What a fuck, droga!

- Caleb... Me fode!

Eu era uma bêbada falando sério - bêbada, mas séria.

Caleb riu.
- Você não está em si, vá dormir, Samantha.



Era manhã de domingo e despertei em minha cama. A cabeça estava dolorida e uma ressaca parecia esmagar meu corpo. Todas as articulações doíam de uma vez só.

Quando percebi que estava vestida com um pijama, logo me dei conta de que não sabia como havia chegado a minha cama, e a última coisa de que me lembrava era de Caleb me cobrindo no sofá.

Vesti o Robe e desci para o andar de baixo. Um aroma de café invadiu meu olfato e senti o estômago retorcer em fome. Alguém cozinhava pela minha cozinha, ouvia barulho de fritura.

- Olha só quem acordou !- Caleb quebrava um ovo dentro da frigideira.

- Estou péssima. Mas... - Eu hesitei - Você que me colocou o pijama?

Ele riu mexendo o ovo com uma espátula.

- Acho que sim. Só havia nós dois aqui ontem - Caleb alternava seu olhar entre mim e os ovos.

De repente me dei conta de que algo a mais  poderia ter acontecido.

- A gente... A gente fez... Aquilo?- insinuei cerrando os olhos.
Odiaria a ideia de ter transado sem me lembrar. Primeiro que teria sido bizarro. Segundo que, como assim? 

Caleb gargalhava enquanto mexia o ovo na frigideira.

- Não, Samantha. Fique tranquila. Não me aproveito de mulheres bebadas para tirar vantagens... Apesar de que foi uma tarefa difícil dar banho em você sem pensar coisas...

Ele havia me dado a porra de um banho! Tinha visto tudo. Eu nem havia me depilado aquela semana. Estava morta de vergonha.

- Não sabe como foi difícil te convencer a colocar esse pijama. Você correu nua pelo quarto dizendo que eu não conseguiria te pegar!

- Está mentindo, Caleb. Eu não me lembro disso.

- Como não? Você até disse que a minha boca é maravilhosa... - debochou.

Será que eu havia contado meu sonho para ele? Que vergonha, Deus!

- Esse álcool que você bebeu ontem devia ter um algo a mais, Sam. Você não parecia pura ontem. Mas foi muito engraçado te ver toda soltinha. Maluquinha. Nunca iria imaginar te ver daquela forma...

- Desculpa. Que vexame! - passei as mãos pelo rosto para ver se despertava de vez.

- Desculpa nada. Eu não me divertia assim há muito tempo. Obrigado, senhorita Samantha. Obrigado pelas várias risadas. Fico te devendo!

- Engraçadinho! - murmurei.

Caleb retirou os ovos mexidos da frigideira colocando em um prato. Adicionou sal e pimenta e me estendeu diante da bancada.

O vizinho me fez pensar sobre o fato de alguém ter colocado algo na minha bebida. Mierra estava tão louca quanto eu, não teria percebido nada também, então nem adiantaria perguntar.
Só aí que lembrei da minha amiga e quase saltei do banco.

- Mierra! - levantei correndo em busca do meu celular.

- Não se preocupe , ela ligou e eu fiz questão de dizer que você não estava! - Caleb gritou da cozinha rindo - Não para atendê-la pelo menos.

- O que você fez? Caleb, seu maluco!

Apanhei meu celular sobre a estante da sala e não havia chamada perdida dela. Liguei algumas vezes e caiu na caixa postal. Mierra devia estar chateada comigo. Droga!

- Sam, venha se alimentar. Precisará estar bem nutrida para aprender a atirar hoje. E depois do que vi ontem naquela festa, acho que vai precisar aprender a usar uma metralhadora... A quantidade de homem te azarando não era brincadeira.

Era muita coisa para processar: eu fiquei bebada, Roger me atacou, Caleb atacou Roger e Mierra estava muito provavelmente zangada comigo. Nunca achei que fosse ficar entre a amizade de uma amiga e a vontade de pegar um cara. Era o auge!

Caleb estava distraído lavando a louça do café. Eu permanecia na sala frustrada por Mierra não me atender.  Vi o celular dele dando bobeira no braço do sofá. A memória de Caleb fotografando coisas dentro da minha casa na madrugada anterior veio a tona. Será que eu estava sonhando ou ele de fato havia feito aquilo? Mas para quê o vizinho queria fotografar coisas no almoxarifado?

E se eu olhasse o celular dele bem rapidinho? Pela marca do dedo na tela estava fácil deduzir a senha de desbloqueio.
Quem era Caleb de verdade?

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Onde histórias criam vida. Descubra agora