CAPÍTULO CINQUENTA

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  *Caleb*
 
  Rastejei até próximo ao banheiro sentindo a adrenalina arder nas veias. Seja lá quem fosse eu iria lutar até morrer.
 
  A respiração estava muito controlada e a todo momento temia uma nova rajada de tiros. Era preciso pensar rápido antes que eu me tornasse um cara morto, afinal, Seria questão de pouco tempo até finalmente abrirem a porta do quarto em que estava.
 
  Então me mantive lateralmente a porta . Em seguida, passaram a bater fortemente contra a madeira e por conta dos tiros prévios, não seria uma tarefa difícil abri-la.
 
  Ao empurrar a porta, fiquei escondido atrás dela. Dois homens encapuzados e vestidos de preto entraram no quarto. Por sorte não me viram de primeira, o que me deu tempo suficiente para agir.
 
  - Acho que hoje é meu dia de sorte! - Eu disse disparando contra um deles.
 
  O cara foi pego de surpresa, sem ter tempo de reagir. A bala acertou em cheio sua cabeça e uma quantidade considerável de sangue respingou pelo chão e pelo edredom branco da cama. Nada que me fizesse ficar admirado ou que não tivesse visto nos mais de dez anos em que trabalhei para a X-Rent.
 
  O segundo agente também descarregou alguns tiros em minha direção, e um pegou de raspão no meu braço. Parecia uma lâmina afiada cortando minha pele. Sentia queimar. Os outros tiros o estranho errou, pois tremia muito.
 
  Sem pestanejar, usei o restante das balas que tinha e acertei meu oponente na cabeça e no peito. Era uma questão de vida. Ou morte. E com certeza lutaria até o fim para sair vivo daquela.
 
  Era mais que óbvio que a polícia chegaria em poucos instantes, bem como a X-Rent. O chipe na nuca deles atrairia outros agentes de aluguel até o local. Meu braço pingava sangue e para conter alguma hemorragia, rasguei um pedaço de lençol improvisando um torniquete. Só senti a dor de fato quando amarrei com força o tecido entorno do ferimento.
 
  Me vesti como pude, apanhei minha maleta e ao descer a escadaria rapidamente, observei a atendente de mais cedo agachada atrás do balcão, provavelmente assustada com o barulho dos tiros. Achava que os cariocas estivessem mais familiarizados com aquele som dos disparos!
 
  Sai afoito pelas ruas da lapa. Não poderia chamar a atenção. Um breve aceno e um táxi parou ao meu lado na calçada. Pedi para que me levasse ao metrô.
 
  Nesse intercurso, o celular dentro do bolso começou a vibrar. Apesar de toda a adrenalina e agitação, meu coração disparou quando vi o nome "Alvo" na tela.
 
  - Alô, Samantha? - Disse ao atender.
  Me mantinha equilibrado entre segurar o telefone e tentar diminuir a dor crescente do tiro em meu braço, o apertando com a mão.
  - Samantha, é você? Diga algo.
 
  - Oi Caleb.
 
  - Meu Deus. Você está bem? Onde está?
  Ela ficou em silêncio.
 
  - Acho que você pode responder por mim. Tem coisas a meu respeito que você sabe mais que eu mesma.
 
  Ela tinha razão.
 
  - Olha, é tanta coisa para dizer. Me diga onde posso te encontrar.
 
  Samantha riu levemente ou suspirou. Não conseguia decifrar.
 
  - Vai querer colocar uma bala na minha testa? Ou já desistiu da ideia?
 
  - Samantha, Se você me der a chance de me explicar... Não quero me eximir de qualquer erro. Só preciso que acredite em mim. Eu estava te protegendo esse tempo todo.
 
Outro silêncio torturante por parte dela.
 
  - Daqui a três dias podemos nos ver. O local e o horário eu direi depois.
 
  - Sim, sim. Como quiser. Eu farei tudo que me pedir... Eu... Eu amo você! - Disse.
 
  Porém Samantha já havia desligado e nem sei dizer se ela ouviu essa minha última declaração.
 

*Samantha*
 
  O terreno atrás da casa de Marcos era amplo e cercado por uma cerca de madeira já gasta pelo tempo. Eu vestia uma calça jeans larga , tênis e camiseta branca.
 
  Tainha, o ajudante de Marcos, testava um dos revólveres atirando na cerca de madeira. Ao notar Mierra e eu nos aproximando o rapaz sorriu. Ele não usava protetores auriculares.
 
  - Desculpa. Estava aqui testando a munição. Pelo que sei a senhora já sabe atirar, não é? - O rapaz se dirigia à Mierra.
 
  - Sim. Estou aqui para ajudar a Sam. Caso queira ir, fique a vontade, Tainha.
 
  - Não, posso. Senhor Marcos pediu para eu acompanhar vocês por segurança.
 
  A cara de Mierra não foi das melhores, porém eu já vinha percebendo que ela estava se esforçando para evitar conflitos.
 
  - Foi "ele" que te ensinou o pouco que sabe, não foi? - Perguntou Mierra se referindo a Caleb.
 
  - Sim! - Fui curta na resposta. Queria não pensar no cara que me traiu e tentou me matar.
 
  - Sam, você tem agido muito diferente. Está tão fria. - Mierra recarregou uma das armas.
  - Impressão sua. Talvez eu só esteja mais silenciosa que de costume.
 
  - Bom, eu até compreendo se você mudar seu comportamento. São muitas coisas que aconteceram em tão poucas horas. Mas me diz, "ele" tentou falar com você? Te ligou?
 
  Vesti protetores auriculares e um óculos. Tirei o laço do cabelo para refazer o rabo de cavalo.
 
  - Caleb? Não, não me ligou...
 
  - Ufa... - Dizia Mierra aliviada.
 
  - Eu liguei para ele!
 
  - O que? Você pirou de vez?? Não podia ter feito isso, Sam!
 
  Olhei para Mierra por um breve momento.
 
  - Mierra, eu adoro você. Tem sido uma amiga que jamais tive em toda a vida. Porém eu decido o que posso ou não fazer daqui em diante- Peguei a arma das mãos de Tainha - Mas por agora Acho que precisamos começar, Mierra. Quero ficar o melhor possível com essa belezinha aqui - disse olhando para o revólver.
 
  - Pera. Você está planejando algo? Por que ligou pra "ele"?
 
  Eu sorri levemente e engatilhei a arma. Tainha ajeitava um alvo improvisado. Foi questão de poucos segundos para que eu me recordasse dos poucos ensinamentos que Caleb me dera naquele dia chuvoso. Porém era como se eu já fosse totalmente familiarizada com o revólver.
 
  - Supomos que aquele pedaço de madeira seja o rostinho lindo do Caleb...
 
E quando disse isso, apertei o gatilho e disparei cinco vezes contra a madeira. Tainha, que ainda estava perto, saiu correndo pela esquerda, temendo ser atingido.
 
  - Eita, Dona. Queria me acertar? - Disse o jovem afoito.
 
  - Talvez não precise tanto da minha ajuda, Sam! - Mierra estava um pouco perplexa com a minha desenvoltura examinando o pedaço de maneira. - Mas amiga, escuta. Seja lá o que esteja planejando, Caleb e quem está por trás de tudo isso, é muito poderoso. Os relatórios que leu essa madrugada mostram o quanto são perigosos e articulados. Tome cuidado. Não quero que eles te façam mal!
 
  Disparei outras duas vezes. Não foi certeiro, mas pegou as laterais da madeira perfeitamente.
 
  - Relaxa, Mi. O que pode acontecer demais? Eles me perseguirem ? colocarem um assassino de aluguel na minha cola pra tentar me matar? - Sorri com ironia - Ah, é. Acho que já fizeram isso! Que coisa...
 
  Terminamos as aulas de tiro quase no fim da tarde. Notei que Tainha recebeu uma ligação e pareceu apreensivo. Quando passava pela cozinha, Marcos e ele discutiam sobre algo que eu preferi não bisbilhotar, mas que deixava o ex-marido de Mierra com uma cara bem preocupada.
 
  Antes de ir para banho, uma mensagem de que o armazenamento do meu celular estava cheio piscou não tela. Eram inúmeros aplicativos que eu nem sabia para que serviam. Alguns até mesmo vieram de fábrica.
 
  Talvez fosse interessante limpar a memória e aumentar a velocidade de execução. Sentada na cama fiquei entretida apagando aplicativos que eu julgava inúteis. Até que um deles , que nunca havia percebido, me chamou a atenção. Se chamava EyeSpie. Algo de espionagem.
 
Entrei nele e não havia nada além de um uma dezena de números e códigos. Ocupava uma memória gigantesca, mas aparentemente não tinha funcionalidade alguma.
 
  No Google soube que aquele aplicativo era instalado nos celulares dos outros para rastreamento. Geralmente usados por esposas que desconfiavam de traições de seus maridos. Mas quem teria instalado aquilo? Provavelmente alguém que desejava acompanhar meus passos. Caleb outra vez?
 
  Voltei ao aplicativo e ao tentar apagá-lo a data de instalação me chamou a atenção. Era de meses antes de ter conhecido Caleb, era a época em que ainda estava casada e "feliz" - ao menos na minha cabeça - com o Roger.
 
  Quer dizer que eu estava sendo espionada não por um, mas por dois cretinos? Que honra!
 
  No display estava a mensagem que perguntava se eu realmente desejava desinstalar o aplicativo.
 
  Apertei NÃO.
 
  ~*~
 

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Onde histórias criam vida. Descubra agora