CAPÍTULO QUATORZE

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    Meu sexto sentido não havia falhado, e lá estava o cara que mais cedo quase me atropelou.
  Agora devidamente vestido, ele repuxou lábio antes de abrir a boca para dizer algo.
  - Boa noite. Posso ajudar? - perguntei na maior cara de pau, afinal, nós dois sabíamos que eu o estava espiando minutos antes.
  O vizinho tinha olhos amendoados, não tão claros. Uma sobrancelha grossa e castanha escura. A barba parecia ter sido feita recentemente e contornava a mandíbula e o maxilar. Os cabelos também castanhos completavam a figura num corte baixo.
  A manga da camiseta branca marcava os músculos do braço e relembrei da cena que havia visto há pouco da janela da minha sala. O novato era indiscutivelmente bonito.
  Ok, eu não estava bem. Se quisesse parecer normal, não deveria olhar para ele fixamente. Além de tarada, maluca.
  - Você deixou cair isso. - Ele me estendeu um pequeno brinco de pérola.
  Logo levei a mão ao lóbulo da orelha esquerda e faltava o brinco que costumava usar. Era de fato meu.
  - Não entreguei antes por que você entrou tão rapidamente que não houve tempo.
  - Ah, obrigada - disse pegando o objeto das mãos dele - nem havia notado, eles parecem fazer parte do meu corpo - forcei uma risada leve colocando o brinco que faltava.
  E pela primeira vez ele sorriu com os dentes cor de leite. Aquele cara precisava ser realmente bonito? E por que aquela situação estava definitivamente parecendo um clichê? Com a diferença de que eu era a solteirona tarada da casa da frente.
  - Meu nome é Caleb! - Disse-me ainda parado em pé na porta.
  Seria educado chamá-lo para entrar? Mas eu morava sozinha, como colocaria um estranho dentro de casa?
  - Sou Samantha. Gostaria de entrar? - fiquei ansiosa por talvez estar sendo mal educada, afinal, Caleb não se mexia ou parecia que iria embora depois de me devolver o brinco.
  - Sente-se - disse eu tirando a maleta de curativos de sobre o sofá - vou buscar um suco pra você! - sorri acuada ainda recordando da minha gafe.
  Olhei para sala e Caleb estava distraído. Precisava urgentemente avisar a alguém que eu havia colocado um homem  desconhecido dentro de casa.
  "Mierra, acabei deixando um cara estranho entrar na minha casa. Se eu desaparecer você saberá que o nome do cara é Caleb, tem mais ou menos um metro e oitenta e cinco, deve pesar uns noventa quilos de músculos e é gato"
  Apaguei a mensagem, parecia tola demais.
  "Oi, é a Sam, acho que fiz merda. Convidei um estranho para entrar na minha casa. É o meu vizinho da frente, e parece um cara correto e nem tem cara de criminoso, digo, de alguém que vá me matar ou vender meus órgãos na deepweb. Mas nunca se sabe, né? Então, se eu desaparecer o nome dele é Caleb e ele mora na casa bem de frente a minha. Também dirige um carro antigo de lataria marrom. Beijos"
  Apanhei a jarra de suco de limão na geladeira completando um copo até a metade. Antes de sair da cozinha o celular vibrou, deveria ser Mierra. Não pude voltar para ler o que ela havia enviado.
  Caleb estava de pé, olhando minha estante de livros. Na verdade era metade minha e metade do Roger. Ele havia esquecido seus inúmeros jogos quando nos separamos.
  - Você joga videogame, Samatnha?
  - Não. São do meu ex-marido! - Respondi entregando o copo de limonada a ele.
  - Hum - Caleb não pareceu surpreso ou coisa do tipo - São bons. Eu jogo as vezes - disse ele olhando para os dvds de jogos.
  Estávamos em pé de frente um para o outro em lados opostos da sala, sob um silêncio quase que constrangedor.
  - Seu suco está melhor que o vinho que eu tomava agora há pouco - Ele deu gole na limonada e observou o copo por um breve momento.
  Claro que ele havia me visto o espiando pela janela, senão não mencionaria o que estava fazendo mais cedo. Fiquei corada morrendo de vergonha. Tola!!
  - Não bebo bebida alcoólica há algum tempo - desconversei finalmente me sentando no sofá.
  - Às vezes é bom, para relaxar - o sorriso e o olhar misterioso fez eu me sentir... nua? Que tensão era aquela?
  Caleb me fitou por uns segundos antes de aproximar e sentar-se no sofá a uma almofada de distância de mim.
  - Posso chup**r você? - a voz grave dele entrou em meus ouvidos e me fez estalar os olhos aflita.
  - Quê?????????
  Caleb tentava decifrar minha reação. Eu permanecia congelada repetindo mentalmente "posso chupar você?" só que na voz dele
  - Que foi, Samantha?
  - O que você disse agora, Caleb? - engoli em seco.
  Ele deu o ultimo gole no suco e depositou o copo vazio na mesinha de centro. Os músculos tensos do braço se contraindo. Que calor!
  - Se posso ajudar você. O pé da sua estante está sendo devorado pro cupins...- Respondeu apontando para o pé de madeira embaixo da estante
  Mais uma coisa para adicionar a minha lista, eu estava ouvindo coisas que não existiam. Era uma maluquice atrás da outra.
  - Ah, claro! Seria bom eu consertar antes que eles devorem todo o móvel e...
  E antes que eu pudesse terminar minha fala. Caleb puxou-me pelo braço e me jogou no chão debruçando-se sobre mim. Quando tentaria reclamar e pedir que saísse de cima de mim, vários estalidos agudos  iniciaram, como se fossem tiros, muitos e muitos deles. Vasos quebraram, e ouvia barulho de estilhaços voando pelos ares. Tudo durou uns trinta segundos ou mais até escutar o barulho de um motor de carro arrancar em alta velocidade, como em uma fuga.
  Meu Deus, o que era aquilo? Algum tipo de execução?
  Eu suava frio e desesperada, ofegante. Caleb estava com o rosto próximo ao meu e eu podia sentir o hálito de limonada dele.
  Eu estaria morta se Caleb não tivesse aparecido?

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Onde histórias criam vida. Descubra agora