CAPÍTULO TREZE

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  Ele não devia ter mais do que trinta anos. Olhou para o lado algumas vezes e em seguida estendeu-me a mão:
  - Está tudo bem com você? Se quiser posso levá-la ao hospital. - o estranho parecia menos preocupado do que forçava estar.
  - Estou bem, não foi nada demais. - Respondi me erguendo sozinha. O joelho e as palmas das mãos ardiam.
  - Tem certeza?
  - Sim, fique tranquilo. Em casa faço um curativo - tentei limpar minha roupa da poeira.
  - Bom, você que sabe - murmurou caminhando para o carro parado no meio da rua com os faróis acesos e a porta aberta.
  Já não me bastavam todos aqueles problemas e agora eu estava fisicamente machucada. Que azar!
  - Ei - A voz dele parecia mais grave ao me chamar.
  Virei a cabeça em sua direção.
  - Sou seu novo vizinho. Moro nessa casa da frente. Se precisar de ajuda pode bater na minha porta! - o tom de sua voz era tão monótono e linear que expressava pouca ou nenhuma emoção.
  - Claro. Pode deixar! - falei sem graça indo para minha porta.
  ***************
  A malinha de primeiros socorros estava ao meu lado no sofá enquanto limpava ferida no joelho. Coloquei um band-aid e massageei de leve o local. Mirei na direção da janela da sala e percebi que conseguia ver a sala do novo vizinho. O ambiente era iluminado por uma luz fraca do abajur. Aí raciocinei que se eu podia ver o interior de sua casa, ele também poderia ver dentro da minha, então fecharia as cortinas.
  Quando puxava o tecido de véu pelos trilhos, o novo vizinho surgiu pela sala com o tórax nu, vestindo apenas a calça jeans de antes e segurava uma taça de vinho nas mãos. Ele deu um leve gole em sua bebida e depois apanhou o jornal na mesinha de centro. Lia com atenção a uma manchete qualquer, aparentemente relaxado.
  Sempre fui fiel a Roger e ainda o amava, porém meus olhos não deixaram de reparar o corpo daquele homem. Os músculos proeminentes desciam de forma harmoniosa do trapézio, percorrendo o peitoral e terminando nos gominhos do abdome. A cada gole de bebida, o braço direito deixava em evidencia o bíceps e o tríceps, desenhados. Até achei que podia ver as veias por debaixo da pele percorrendo seus músculos.
  Sua pele aparentava estar bronzeada naquela penumbra alaranjada da luz do abajur, e reluzia, dando a impressão talvez, de que sua musculatura fosse mais robusta. Ele tombou a cabeça para trás e olhou o teto, suspirando fundo. Os músculos cervicais e do pescoço saltaram pela pele e depois deitou a cabeça para um lado, para o outro, como em um alongamento após um dia exaustivo de trabalho.
  Só fui me dar conta de que não havia fechado as cortinas como planejara, quando subitamente o olhar vago dele voltou-se para mim, me observando fixamente. O novo vizinho percebeu que eu o espionava da sala da minha casa. Que vergonha!
  Apavorada, fechei as cortinas o mais rápido que pude, tomando ar ansiosamente.
  Agora eu era a maluca que espionava os vizinhos recém chegados ao bairro. Vizinhos sem camisa ainda por cima. A divorciada tarada da casa da frente que olhava homens seminus na privacidade de suas residências. Era o auge!!
 

  Voltei para o sofá na tentativa de esquecer aquele incidente enquanto terminava meu curativo.
  E logo fui interrompida pela campainha tocando. Meu oração quase parou. Seria o vizinho?

APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?Onde histórias criam vida. Descubra agora