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Um mês após a missão no Hotel
Sapatos não eram ítens que eu me importava até morar naquela casa gigante no alto de uma colina. Olhava para o armário com a porta entreaberta e tentava me distrair contando os pares de calçados que acreditava não ter vida suficiente para usá-los antes de morrer.
Quero dizer, por alguma razão eu morava em uma casa em que havia um closet só meu repleto de saltos, sandálias, sapatilhas. Incontáveis.
E isso já fazia um mês.
— Querida, já acordou? — Caleb entrou no quarto tomando uma xícara de café. — Teve pesadelos essa noite?
Eu não tinha pesadelos. Eram memórias confusas que minha mente parecia me fazer querer resgatar. Ou quem sabe nem fossem memórias, apenas as sinapses mal feitas do meu cérebro tentando pregar uma peça. Porém, quando sonhava com algumas coisas, o sentimento que me tomava era o de que talvez eu tivesse vivido aquilo tudo.
— Não. — Menti — Essa noite foi mais tranquila.
A realidade era outra: meu sonho havia envolvido centenas de homens apontando uma arma para mim. E eu apontava a arma para o rosto de um cara , mas eu não conseguia ver quem era.
Minhas pernas tremiam enquanto eu apontava a arma em direção ao estranho. Além de um ódio que tomava conta de todo meu corpo. Meu desejo de atirar era imenso.
Então, após o disparo, despertei assustada antes de conseguir saber o que a bala talvez tivesse provocado no corpo daquele estranho em meu sonho.
— Desculpe por ainda fazer você dormir no outro quarto, Caleb. — Disse após pigarrear.
— Sem problemas — Ele sorriu — Se isso for importante para recuperar a memória, não me importo. Seu bem-estar em primeiro lugar.
Juro que meus esforços eram imensos, porém eu não lembrava nem mesmo quem eu era. A última memória que tive fora a de estar num hospital, dos bipes dos aparelhos apitando. E da enfermeira ajeitando um travesseiro atrás da minha cabeça.
Caleb era um homem doce e gentil. Ele que me visitou logo no primeiro dia após eu despertar. Porém não lembrava nada sobre ele, bem como
bolhufas sobre mim. Chegava a sentir-me culpada por não conseguir recuperar as memórias que ele me contava, ou de sentir arrepios perto dele, como se houvesse um problema.— Deixa eu ver a ferida na cabeça, Sam!
Caleb colocou sua xícara sobre o apoio ao lado da cama e sentou-se próximo a mim. Separou alguns fios de cabelo e puxou o curativo que havia na cabeça.
— Muito bem, mocinha! — Ele tateava o local — Ainda dói?
— Não. Não mais. Como está? Já cicatrizou?
— Um pouco avermelhado ainda, mas nada lembra ao que era há um mês.
Caleb beijou minha testa após fechar o curativo. Fechei os olhos com força, senti o coração disparar. Por alguma razão não o queria perto de mim.
Assim que tive alta hospitalar, Caleb foi me buscar. Estava muito bem vestido com um terno de tecido incrível, preto ou azul marinho, não me lembro bem — pra variar!
Ele ia me guiando pelos corredores do hospital e me senti feia perto dele. Olhava as mulheres passarem por nós e notava o estranhamento na face delas. Acho que se perguntavam o que um homem daquele porte e beleza fazia com uma mulher desajeitada feito eu e sem memória alguma.
Bom, eu também não saberia responder. Caleb chegou e disse que era meu marido, que estávamos casados há anos. Quando perguntei sobre o motivo do acidente, ele me contou de forma rápida que em uma viagem para Angra dos Reis , sofri uma queda enquanto escalava uma pedra na praia.
Seus olhos marejados e cheios de desespero pareciam sinceros e convincentes enquanto me tentativa fazer recordar do que dizia. Porém, até mesmo seu carro me causava arrepios e parecia que algo não estava certo.
— Hoje temos o jantar de que te falei. Espero que não tenha se esquecido — Ele riu da própria piada.
Após perceber que eu não esboçara reação alguma, Caleb fechou o semblante.
— Ok, desculpa pela piada. Ofendi você?
— Não, não. De maneira alguma. Só continuo meio aérea. — Tentava nao olhá-lo nos olhos, pois parecia que ele lia meus pensamentos — Mas lembro sim. Estarei pronta.
Meu marido cruzou o imenso quarto e pegou uma sacola branca da Zara. Estava sobre uma cadeira e eu não a havia percebido até Caleb trazê-la para perto.
— Tomei a liberdade de comprar um vestido para hoje. Espero que goste, Sam.
Ele colocou a sacola branca ao meu lado na cama. Ficou me olhando. Acho que Caleb queria ver minha reação diante do presente.
— Posso abrir depois? — Forcei um sorriso.
— Ah, sim, claro. Como quIser. — Caleb suspirou meio deslocado — Vou com meus amigos jogar Golf. Cassandra preparou seu café— Alguns minutos de silêncio, como se ele ainda quisesse dizer algo — Bom, nos vemos no almoço .
— Sim. Sim. Avise Cassandra que já eu desço.
— Sem pressa. — Caleb tirou um frasco de remédio do bolso — Comprei mais pílulas que o seu médico prescreveu. — Ele chacoalhou o pote após abri-lo e retirou uma pílula — Tome! — Disse me estendendo.
Peguei o remédio na palma de sua mão e coloquei por entre os lábios. Com a ponta da língua grudei a cápsula no céu da boca, para que ele não notasse que eu não engolia.
— O médico disse que com esses remédios sua memória vai se recuperar mais rápido. Estou confiante, Sam.
Outro riso forçado, mas desta vez sem abrir a boca.
— Eu também, querido!
Ele sorriu e foi para a porta.
— Te amo! — Disse sem jeito.
Eu deveria retribuir apesar de não corresponder aquele sentimento?
Diante do meu silêncio e feição acuada, Caleb arfou:
— Tudo bem.. Tudo bem. Um dia terei você completamente de volta. Lá no fundo eu sei que ainda me ama como eu te amo. Como juramos um ao outro no altar.
Talvez eu sentisse um pouco de pena por ele.
— Obrigada por me entender — Mencionei com um pouco de culpa torcendo para o comprimido preso no céu da boca não escapar.
— Sem pressa, lembra? — Nisso, Caleb beijou a palma da mão, fingia que embrulhava o beijo e me arremessou pelo ar em um pacotinho imaginário.
— Outro beijo, Caleb.
E tão logo ele saiu, cuspi o comprimido. Já no banheiro, levantei a tampa da privada e desprezei a pílula, dando descarga.
Tudo era grande naquela casa e o banheiro do meu quarto não fugia à regra. Me olhava no espelho segurando na porcelana do lavatório e suspirei frustrada por não conseguir lembrar nada. Nada antes do um mês que vivia com meu suposto marido naquela mansão afastada de tudo.
De volta ao quarto, parei na janela e afastei a cortina de véu branca. Observava Caleb dando partida em seu conversível com o quite de Golf no banco do carona.
Quem era aquele homem e porque eu sentia que ele estava mentindo?
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APAIXONADA PELO MEU ASSASSINO?
Misteri / ThrillerApós ser traída e abandonada pelo marido, Samantha se vê na rua da amargura. Contudo, ao descobrir segredos sobre corrupção em sua cidade, passa a ser caçada por um assassino de aluguel. De dona de casa a alvo de bandido, quem nunca? 🥇🥇HÁ DEZESSEI...