CAPÍTULO 26

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Jeremias estava cada vez mais chocado com tudo o que o padre falava! Era difícil acreditar que aquela figura tão frágil e indefesa  pudesse ter tido a coragem de quebrar as regras rígidas  daquela instituição religiosa!

_Então o senhor também teve um caso amoroso com outro seminarista e assim como no caso do Mauro e do Olavo...um dos dois se matou...é isso?_o seminarista quis confirmar se realmente tinha escutado corretamente.

_Espero que tenha percebido que eu não sou o que tirou a vida por não conseguir levar o caso adiante, claro. _falou com um sorriso triste._A menos que pense que eu sou um fantasma.

O padre passou a mão pelo rosto, parecendo meio confuso após dizer aquilo.

_Se é que às vezes chego a duvidar se realmente possa ser exatamente isso...um fantasma que assombra este seminário..._suspirou cansado._Sou um morto vivo depois de tudo o que aconteceu comigo.

Jeremias olhou para o padre ainda sem acreditar que aquela conversa estava acontecendo.

_Ainda me dói muito contar os detalhes da minha história, Jeremias..._suspirou o padre amargurado._Nós dois éramos garotos sem família e vivíamos num orfanato. Os padres costumavam trazer garotos para o seminário a fim de garantirem padres para as paróquias da região. Muitos eram dispensados, quando viam que não tinham vocação e aí eles eram devolvidos para os orfanatos. Eu, acostumado a apanhar dos garotos maiores do orfanato onde morava, me esforcei ao máximo para demonstrar que tinha vocação, na tentativa desesperada  de evitar os espancamentos.

Jeremias sentiu pena do pobre homem, pois viu que ele realmente não tivera muita escolha...era sofrer a rígida rotina do seminário, ou suportar as surras dos colegas do orfanato.

_Agradecido por terem me deixado ficar aqui, realmente acreditei que seria um bom padre, especialmente porque percebia o quanto pareciam ser bem tratados e bem alimentados os padres que eu conhecia. Lá no orfanato, às vezes chegávamos a comer apenas uma sopa rala por dias seguidos  e o meu estômago doía quase que o dia inteiro querendo algo mais sólido. Às vezes aparecia um pão...uma fruta...mas aí os garotos mais fortes e mais velhos roubavam tudo de mim, me ameaçando, caso eu fosse delatá-los para os responsáveis! Minha vida no orfanato era um pesadelo, Jeremias...um pesadelo! Confesso que houve um tempo em que eu cheguei a gostar daqui mais por causa da comida, do que pela vocação...claro, até que o Pedro chegou aqui.

Novamente o padre suspirou amargurado.

_Tudo é ainda tão vivo em minhas memórias que parece que foi ontem que tudo aconteceu, Jeremias...Assim como Mauro e Olavo, eu e Pedro  nos apaixonamos e assim como eles nos encontrávamos às escondidas, até o dia em que fomos flagrados por um padre. Éramos tão jovens...eu com dezessete...ele com dezesseis...Apenas dois garotos descobrindo o amor e o prazer carnal...A gente se amava tanto, tanto...Era uma paixão tão viva...tão linda...Pedro me fazia tão bem...era tão carinhoso comigo...

Jeremias não disse nada quando padre Sebastian parou por um momento, perdido em lembranças. Esperou até que ele voltou a falar:

_Assim como fizeram com Mauro e Olavo, vieram chamar a nossa atenção, prometeram castigos severos...seríamos ambos expulsos e fui eu o covarde que joguei toda a culpa sobre Pedro, temendo que me mandassem de volta ao orfanato! Na minha inocência, achei que nada seria pior do que voltar a passar fome e a apanhar dos meus colegas...Que ilusão...Logo eu descobriria que existia sim algo pior do que aquilo...algo do qual eu iria me arrepender para sempre!

Jeremias sentiu um arrepio ao imaginar toda aquela tragédia que envolvia o padre.

Padre Sebastian arregalou os olhos que pareciam visualizar mais uma vez toda a cena!

PERDÃO! EU PEQUEI E GOSTEI!-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora