CAPÍTULO 32

206 46 25
                                    



Felipe ficou olhando o irmão inclinado pra frente,  mãos apoiadas nos joelhos,  vomitando no acostamento e não fez movimento algum para ajudá-lo! 

Se Felipe desse um chute no traseiro do caçula e o derrubasse sobre a sua própria merda, provavelmente Jeremias não se surpreenderia  depois de tudo o que ouvira até ali.

_Certamente  o ar fora do seminário  está impuro, contaminado,  cheio de pecados, santo...Deveria ter vindo de máscara, não pensou nisso?_disse Felipe maldosamente._Imagino como devem te tratar lá dentro, santo...deve viver feito um rei, não é mesmo?

Jeremias sabia que mesmo que conseguisse, não falaria nada...pois não tinha nada a falar. O irmão era apenas mais uma vítima de todo aquele mal entendido, ele percebeu.

Ali estava um lado da mãe que ele não conhecia: como ela conseguira guardar aquele grave segredo durante  todo aquele tempo? 

O seminarista começou a perceber que não conhecia a mãe tão bem assim...

_Eu tive ódio de você...ódio! A gente dando um duro danado pra você levar vida boa...e você fugindo da festa de Páscoa para trepar bem ali...ao lado da igreja, seu puto vadio!_desabafou Felipe._Qualquer um tinha o direito de fazer aquilo...menos você...menos você! Você tinha tudo e ainda queria mais?

"Respire...respire...", Jeremias repetia sentindo que iria apagar a qualquer momento e imaginou que se aquilo acontecesse, talvez Felipe o arrastasse e jogasse no meio da rua para ser atropelado!

_Nossa mãe fez das tripas coração por você...fez de nossas vidas um inferno só pra te ver padre e você virando bichinha bem nas barbas da igreja...e a gente dava graças a Deus toda vez que você se recusava a vir pra casa nos visitar, porque eu e o Mateus não sabíamos se iríamos aguentar nos segurar sem te encher de porrada, porque não era naquele bosta que a gente queria bater naquele dia, mas em você...em você!_Felipe falou num fôlego só, como se temesse que alguém o impedisse de colocar tudo o que estava engasgado pra fora.

Jeremias teve vontade de pedir ao irmão que fizesse exatamente aquilo...queria exatamente que Felipe o enchesse de porrada, só para confirmar se  não era mais um de seus pesadelos...

_Ela está mal...ela está muito mal só por ter imaginado que poderia ter sido você a suicidar por causa de outro cara lá no seminário...e eu confesso que eu torci para que você fosse  o veado que tirou a própria vida!

Esgotado de tanto falar, Felipe finalmente deu uma trégua e ficou em silêncio por algum tempo.

_E agora eu preciso te levar de volta, porque ela quer te ver, antes de morrer. Ande logo aí, porque ainda temos um bom pedaço de chão pra percorrer! Chega de veadagem, anda!

Preconceito...discriminação...homofobia...Jeremias avaliava o que mais ele iria sofrer, agora que parecia que Felipe revelaria toda a verdade para o restante da família!

Finalmente, quando acreditou que não havia mais nada no estômago, Jeremias entrou no carro, percebendo que não dava pra ficar ali, num lugar onde provavelmente não encontraria uma carona pra continuar viagem ou voltar para o seminário.

Felipe ligou o carro sem ao menos perguntar ao irmão se ele havia melhorado.

Jeremias agarrou-se no banco do carro, apesar de estar usando o cinto de segurança, quando o irmão acelerou!

_Felipe, por favor... diminua esta velocidade, meu irmão, porque a gente está indo rápido demais!_alertou o seminarista com os olhos arregalados.

O irmão riu maldosamente e acelerou mais ainda.

PERDÃO! EU PEQUEI E GOSTEI!-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora