CAPÍTULO 39

211 43 14
                                    



Jeremias sentiu um arrepio quando viu a expressão de nojo que já tomava conta do rosto do pai.

_Não sou pai de veado!_disse o senhor Geraldo César de forma grosseira e homofóbica.

Jeremias sentiu o coração gelar e percebeu o quanto se iludira por pensar que teria condições de dobrar o pai e fazê-lo aceitar a sua homossexualidade.

Será que o amor o tinha cegado? Será que a proximidade do homem que amava o fizera acreditar que tudo era possível? O seminarista ficou sem ação e completamente paralisado diante do pai e do irmão Mateus. Talvez tivesse saído correndo, em fuga, se tivesse pernas para tanto.

O seminarista estava preparado para enfrentar tudo e todos, havia imaginado, em nome do seu amor,  mas quando o pai cuspiu no chão com verdadeiro asco, as suas forças praticamente tiveram queda livre e  foram parar no pé!

Mateus foi mais grosseiro do que o pai, talvez porque estivesse visivelmente bêbado, e cuspiu diretamente no rosto do irmão!

_A bichinha mal saiu do seminário e já foi correndo chupar uma piroca, pai! E ainda por cima com as minhas roupas, seu vadio! Nessas aí eu vou por fogo, pode ter certeza, veado!

Jeremias não teve tempo de retrucar e se defender contra nenhum dos dois, pois o pai o pegou pelo braço com violência,  sem se importar com o risco de quebrar os ossos do filho que estava tão magrinho.

Desnorteado, o  seminarista sentiu como se o pai o tirasse do chão e o jogasse em tempo recorde no meio da cozinha, onde todos pareciam ter decidido se reunir.

As avós...os irmãos...algumas amigas da mãe...todos olharam assustados para a cena do pai jogando o filho no meio do grupo como se ele fosse um ladrão que precisasse ser linchado!

Jeremias perdeu o equilíbrio e caiu no chão!

_Jesus!_gritou uma das amigas de dona Maria das Dores._Mas o que é isso?

_Misericórdia, senhor Geraldo César! _falou uma das amigas da mãe horrorizada._Assim o senhor machuca o santinho!

_Ficou louco, Geraldo? Isso é jeito de arrastar o seu filho?_era a avó paterna assustada._O pobrezinho até perdeu a cor!

_Larga ele, seu monstro!_berrou a avó materna._Está com o capeta para agredir deste jeito o seu filho abençoado por Deus?

_Pai, quê isso?_era Sara._Ficou doido, pai?

_Aposto que foi este pinguço que fez inferno!_acusou Rute ajudando o irmão a se reerguer do chão.

O pai falou alto e com autoridade, visivelmente alterado:

_Quem não é da família, faça o favor de nos dar licença que agora o assunto é particular!

As amigas da mãe saíram da  cozinha  horrorizadas com tamanha grosseria.

As avós acreditaram que Geraldo César entrara no vício do filho e também estava bêbado, para estar agindo daquela maneira absurda.

O próprio Geraldo César fez questão de acompanhar as amigas de sua esposa e fechar a porta atrás delas, para garantir que elas tinham realmente ido embora.

Jeremias não conseguiu se mexer, ou mesmo pronunciar uma única palavra, pois estava em choque e as pessoas à volta dele o sufocavam!

Em seu coração, o seminarista mais uma vez agradeceu por não ter o homem que ele tinha certeza que o amava ali ao seu lado para presenciar e reagir diante de tanta violência do pai contra ele.

PERDÃO! EU PEQUEI E GOSTEI!-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora