CAPÍTULO 14

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Como se temesse que Jeremias fizesse alguma loucura, o padre Antônio encarregou outra pessoa de ir a sua casa para pegar os seus pertences. Enquanto isso, ele se manteve  ao lado do rapaz até a hora de partirem.

Aquela atitude só deixava a família mais apreensiva, temendo que realmente o demônio em pessoa viesse ali para levar o jovem  santo que trouxera a mãe de volta à vida, mesmo depois de ela  ter estado tão perto da morte!

Jeremias permanecia em silêncio, conforme o padre ordenara como forma de penitência...uma das muitas que ele sabia que iria enfrentar quando chegasse ao seminário.

A boca estava em silêncio, mas a mente do seminarista  estava ainda inquieta, cheia de questionamentos, acusações e lamentos  e ainda ansiava por um descanso que se recusava a vir logo para lhe dar alívio.

Lincon...Lincon...Lincon...esse era o novo som de seu coração e ele já admitia que estava hipnotizado, enfeitiçado pelo rapaz que lhe mostrara o quanto o seu  corpo físico  poderia se aproximar do céu ao receber as carícias de outro homem!

Jeremias recriminou-se várias vezes por julgar  a postura de Deus que o deixara viver aquela experiência nos braços de Lincon...algo tão maravilhosamente mundano, mas também amaldiçoado pelos homens e pela igreja! 

_Eu já esperava por este dia, filho, e, por isso, já estava fazendo o seu enxoval para o seminário._disse a mãe, olhos inchados de tanto chorar, exibindo as malas abertas sobre a cama._Tá tudo novinho...eu mesma lavei tudo e passei com cuidado, meu querido. Pra você servir a Deus, comprei tudo do bom e do melhor, filho!

Ele não estava interessado naquelas roupas...nem mesmo lhes dedicou um segundo olhar, mas podia imaginar o quanto o pobre pai e os irmãos haviam sofrido com as cobranças da mãe para pagarem todas aquelas peças caras!

"Cristo era tão pobre...o simples filho de um carpinteiro...por que eu tenho que entrar num seminário vestido como um príncipe?", o pensamento veio sem ele poder controlar.

O que  fariam com as suas roupas antigas? Queimariam por acreditarem que estavam cheirando a enxofre do diabo, ou as exporiam numa redoma por terem pertencido a um suposta santo que trouxera a mãe de volta à vida?

_Suas roupas serão doadas para casas de caridade da região, filho._disse a mãe como se lesse os pensamentos do filho.

_Vamos logo, porque anunciaram chuva forte para mais tarde e eu não quero entrar no meio dela._o padre Antônio veio dizer autoritário  na porta do quarto.

Se antes o religioso já se achava responsável pelo afilhado, agora, que supostamente o exorcizara, se sentia mais importante na vida do rapaz  do que os próprios pais de Jeremias!

Jeremias queria ter tido tempo...e coragem...para se esquivar, ir até o quartinho do sino, deixar um bilhetinho pra Lincon lhe explicando  tudo o que havia acontecido. Um bilhete contando que por causa de seu pecado (e aí grifaria a expressão  MEU PECADO, deixando claro para Lincon que ele estava isento de qualquer crime),  a mãe quase morrera! Que por causa de sua fraqueza, agora teria que deixar Lincon sem os seus beijos...sem o seu cheiro...sem os seus carinhos...sem o seu amor...

Todos estavam na varanda da casa, fazendo fila para se despedirem do futuro padre!

_Eu vou rezar por você o dia todo, meu filho..._era uma das avós que beijara a testa do neto.

_Vou marcar uma missa pra você todas as primeiras sextas-feiras do mês, dia do Sagrado Coração de Jesus..._a outra avó tentou prometer melhor, beijando a mão do neto que partia.

PERDÃO! EU PEQUEI E GOSTEI!-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora