CAPÍTULO 24

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Aquele dia amanheceu completamente diferente da rotina que todos já conheciam no seminário.

Ao invés dos seminaristas se dirigirem para a capela  para a primeira missa, foram proibidos de saírem dos quartos, o que gerou um nervosismo nunca visto por ali.

Quem precisava usar o banheiro tinha que  esperar a boa vontade de um padre vir acompanhá-lo e levá-lo de volta ao dormitório sem trocarem uma palavra sequer!

Jeremias, mesmo ainda convalescente, não pode deixar de também se encher de curiosidade para saber o que estava acontecendo, afinal. O voto de silêncio ainda estava valendo, mas ele sentiu necessidade de ficar atento para descobrir o que havia acontecido ali, mesmo sem poder perguntar nada aos colegas.

As informações coletadas pelos alunos entre si não coincidiam, o que deixava tudo ainda mais estranho. Uns diziam que alguém tinha entrado no seminário a fim de roubar algumas imagens sacras que tinham mais de um século! A polícia tinha sido chamada, aconselhando  que os alunos ficassem em seus quartos, evitando o pior numa possível troca de tiros entre a polícia e  os bandidos! O silêncio completo nos corredores fez com que essa probabilidade não  se mantivesse por muito tempo.

Boatos de que um pequeno incêndio havia começado na cozinha também circularam entre os alunos. Temendo que o vai e vem dos alunos pudesse atrasar o socorro às vítimas, os bombeiros haviam ordenado  que evitassem a  movimentações dos jovens por ali. A ausência de cheiro de fumaça jogou também essa versão por terra.

Também falaram que haviam encontrado uma bomba no pátio e realmente viram homens uniformizados andando por ali...mas nada de alguém entrando todo paramentando para desarmar o artefato explosivo. 

Os seminaristas estavam nervosos e tinham urgência em saberem o que se passava do lado de fora de suas portas, mas o respeito às leis do estabelecimento impedia que alguém se aventurasse a ir lá investigar. Punição severa havia sido prometida para o infrator!

Inicialmente, todos os padres foram convocados para levarem a comida para os alunos ali isolados, longe do acontecimento que estava gerando todo aquele mistério.

Um dos alunos, porém, espalhou a notícia de  que dois colegas pareciam não terem  aparecido  no dormitório na  noite anterior e ainda estavam ausentes naquele momento: Mauro e Olavo!

Jeremias lembrou-se que aqueles eram justamente os dois rapazes que ele havia visto se pegando no banheiro dias atrás! Será que haviam fugido do seminário juntos?

Depois desta informação de que os dois estavam desaparecidos por horas,  o que dominou o grupo  foram os boatos de sequestro! A imaginação fez com que viessem dizer que eram homens fortemente  armados que haviam levado os dois jovens e que exigiam uma quantia absurda  como resgate, alegando que a igreja católica possuía uma grande fortuna capaz de pagar aquele valor pela vida dos dois jovens!

Jeremias não informou aos coletas o que vira em dias anteriores, muito menos expôs a sua suspeita de que talvez eles tivessem fugido do seminário juntos. Permaneceu apenas ali por perto, completamente mudo, o que não chamou a atenção dos outros, já que todos sabiam de sua penitência. Ele  também estava  ansioso por obter notícias dos desaparecidos.

O tempo passava e os rapazes não apareceram e, finalmente, na oração das dezoito horas, permitiram que os seminaristas fossem assistir à capela, mas proibiram que qualquer palavra fosse proferida enquanto a cerimônia ocorria. 

Uma informação muito vaga que dizia que os dois rapazes haviam pedido transferência para outro seminário não convenceu ninguém e, por isso, alguns internos mais ousados decidiram investigar por conta própria, tentando fazer algum dos padres mais acessíveis falar alguma coisa,  mas deles nada conseguiram arrancar.

PERDÃO! EU PEQUEI E GOSTEI!-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora