CAPÍTULO 31

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Jeremias assustou-se quando viu  o irmão que  não via há tempos.

Felipe estava barbado, com os cabelos grandes e mal cuidados...envelhecera bastante e tinha a aparência sofrida  de quem estava brigado com o mundo.

Jeremias cumprimentou o irmão que não respondeu, apenas arrancou com o carro parecendo não ter relação alguma com o seu passageiro.

O seminarista sentiu-se mal ao ver o irmão daquele jeito e lembrar-se do que acabara de conversar  com o padre Sebastian.

Ali estava uma das suas vítimas...ali estava um de seus irmãos que tivera que trabalhar duro para que o caçula tivesse vida boa.

"Suas mãos são tão macias...limpas...bem cuidadas...realmente mãos de padre...de santo...", o comentário de Lincon surgiu na mente do seminarista o fazendo perceber como podia ter sido tão insensível sempre ignorando o quanto os seus irmãos haviam sofrido para financiarem o sonho da mãe que queria fazer do filho caçula padre!

Suas irmãs Sara...Rute...seus irmãos Felipe...Mateus...o que eles tinham em comum com ele além de terem nascido do mesmo pai e da mesma mãe? Se alguma relação de amor haviam tido numa infância muito distante, certamente, ao longo do tempo, isso foi sendo destruído e com a separação, certamente já quase não existia mais.

Jeremias  sabia que os irmãos haviam sido obrigados a cederem espaço e regalias para o mais novo e não os recriminaria por agora acreditarem que o caçula vivia melhor do que eles mesmo dentro de um seminário.

O silêncio, quase palpável dentro do carro, começou a incomodar o seminarista que perguntou:

_Como a mamãe está?

Felipe não desviou os olhos da estrada e dirigia acima da velocidade, o que deixava o seu passageiro cada vez mais apreensivo quanto ao estado da mãe.

_Sofreu um AVC, não te contaram?_falou friamente sem olhar no rosto do irmão.

Jeremias tentou não se intimidar com o tom de voz do outro:

_Eu sei...mas ela está muito mal, Felipe? 

O irmão não respondeu imediatamente, talvez procurando a melhor forma de responder, até que soltou:

_Não tão mal a ponto de não conseguir chamar o seu nome...somente o seu nome e nada mais sai da boca da nossa mãe desde que ela teve o AVC.

Ali estava o primeiro sinal de que a revolta ainda permanecia viva no peito do seu irmão e talvez também no peito dos outros, pensou o seminarista apreensivo.

O que Jeremias poderia dizer? Que não tinha culpa pela mãe agir daquela forma?

_O que aconteceu pra ela adoecer deste jeito? Algum susto, sei lá...alguma contrariedade, talvez...

Felipe o interrompeu com irritação:

_Contrariedades...não te contaram que a sua família vive na merda desde que você foi embora para se tornar santo?

Jeremias não gostava de ser chamado assim, mas olhou para as mãos enormes do irmão agarradas ao volante e preferiu ficar calado.

_Nossa vida só piorou desde que você saiu de casa e se isolou naquele lugar!_disse Felipe com revolta._O papai saiu de casa...Eu estou na merda...o Mateus está na merda...e a Sara e a Rute não estão numa situação melhor! 

Jeremias preferiu ficar em silêncio, temendo irritar mais ainda o irmão.

_Mas  mesmo com isso tudo, a mamãe ia levando...ia aguentando tudo...afinal, o que interessava era que o filho santo dela estava a caminho da canonização! O que importava era que você estava bem longe desse caos e resguardado naquele seminário!

PERDÃO! EU PEQUEI E GOSTEI!-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora