CAPÍTULO 25

226 45 12
                                    



Jeremias abriu os olhos e  viu Lincon cabisbaixo, triste, usando uma camisa cinza e logo percebeu que toda a imagem também estava cinza...um cinza triste e deprimente envolvia  os dois. 

O seminarista percebeu que somente os dois estavam ali, por isso não teve receio em falar em tom acusador.

_Você me abandonou...mentiu pra mim...Você é casado...tem filho!_disparou o seminarista antes que Lincon dissesse qualquer coisa._Brincou com os meus sentimentos!

Lincon sorriu triste, movendo a cabeça lentamente de um lado para o outro parecendo arrasado:

_Jeremias, Jeremias...Ainda com esta mania de julgar os outros e não a si mesmo?

O seminarista ficou mais irritado ainda com aquela acusação.

Jeremias sentiu um objeto  metálico em sua mão direita e logo percebeu que era uma navalha afiada!

_Agora eu vou me matar e a culpa será toda sua!_falou o seminarista determinado já dirigindo a navalha para o pulso esquerdo._Quero que sinta remorso pelo resto de sua vida, Lincon!

De repente, a lâmina desapareceu da mão de Jeremias e, horrorizado, ele percebeu que agora ela estava na mão de Lincon!

_Sei que não irá assumir os seus erros...sei que não irá tomar as rédeas da sua vida..._disse Lincon segurando firme a navalha e ainda olhando para o chão com enorme tristeza e resignação._A culpa de seu fracasso será sempre de outra pessoa, não é mesmo? Pobre, Jeremias...um santo...um injustiçado...vítima do mundo!

O seminarista tentou dar um passo na direção de Lincon a fim de desarmá-lo, mas percebeu que tinha os pés grudados ao chão, presos por um visgo também cinza.

Jeremias viu o homem que amava cortar rapidamente  os pulsos com cortes profundos e extensos que fizeram o sangue jorrar aos borbotões, atingindo inclusive o rosto do seminarista!

_Você não pode fazer isso!_gritou Jeremias que subitamente conseguiu se soltar e  avançar  sobre Lincon, retirando a navalha da mão dele e dirigindo para o próprio pulso._Você não merece morrer simplesmente! Você tem que ficar aqui e sofrer pelo que fez comigo, Lincon!

Por mais que o seminarista tentasse cortar os próprios pulsos, aquele objeto havia perdido a capacidade de cortar o que quer que fosse!

_Não é assim que eu quero! É você quem deve se sentir culpado pela minha morte...não o contrário!_gritou Jeremias em pânico ainda tentando desesperadamente se cortar, temendo que Lincon morresse antes dele._Eu te proíbo de morrer e me deixar aqui, Lincon! Eu te proíbo!

_Você não é o santo? Pois então faça um milagre!_desafiou Lincon desaparecendo numa poça enorme de sangue que se formara debaixo dos seus pés.

_Lincon, não!_falou  o seminarista agoniado levantando a cabeça do travesseiro e acordando do pesadelo.

Imediatamente, o rapaz tampou a boca, lembrando-se que estava proibido de falar.

Confuso, o seminarista olhou em volta, talvez temendo que alguém fosse delatá-lo por ter quebrado a penitência.

Envergonhado, percebeu que estava deitado na cama do idoso, que agora ocupava  o sofá de vigia ao lado de sua cama.

Padre Sebastian sorvia lentamente uma xícara de chá quente e silenciosamente ofereceu outra para Jeremias, que a pegou com um gesto de agradecimento.

O rapaz sentou-se na cama, tentando avaliar a partir de quando o seu pesadelo começara.

Será que nele estavam incluídos o fato do padre Sebastian ter falado e ainda ter perguntado quem era Lincon?

PERDÃO! EU PEQUEI E GOSTEI!-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora