CAPÍTULO 21

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Jeremias estava agradecido ao padrinho por ter sido tão misericordioso com ele e continuado a viagem, mesmo depois de ter visto aquela cena surreal na estrada. Talvez, se não tivesse tão bom coração e aquela ligação antiga com a sua família, o padre tivesse dado meia-volta e levado o jovem de volta pra casa, recusando-se a participar daquilo!

Padre Antônio havia chegado ao seminário com o afilhado ainda em choque e o levou direto para uma sala reservada, onde lhe deu roupas limpas e secas e também algo quente para tomar a fim de que Jeremias tirasse a friagem do corpo.

Jeremias não conseguia parar de tremer, enquanto sorvia o líquido que para ele parecia insosso, pois a mente do seminarista estava agitada com os últimos acontecimentos!

Lincon fora atrás dele...Lincon tentara fazê-lo mudar de ideia...Lincon se arriscara a ser descoberto não apenas pelo padre, mas, quem sabe, se o padre o denunciasse, ser delatado para  a cidade inteira! O que fariam com ele se descobrissem as suas intenções?

Ele estava machucado e quando Jeremias lembrava-se disso, sentia o seu corpo estremecer mais ainda.

Então os seus irmãos sabiam de tudo...e talvez também a sua mãe soubesse e justamente por isso tivesse passado mal...o que não mais importava naquele momento, já que Jeremias acreditou que tendo ido cumprir a promessa feita, tendo se afastado de Lincon, ele estaria protegido! Será? A pergunta o assaltou de repente! 

O padre apenas estava ali, sentado a sua frente, calado e muito sério, enquanto Jeremias tentava escolher as palavras para implorar para que ele não contasse a sua família o que Lincon tinha feito! 

Será que os irmãos...e quem sabe até o seu pai iria atrás de Lincon para espancá-lo novamente...e quem sabe até matá-lo...se soubessem que ele tivera a ousadia de seguir o filho santo?

Jeremias admitia que não estava raciocinando direito quando jogou-se aos pés do padre  quase perdendo o fôlego de tanto chorar!

_Agora o senhor sabe de tudo...agora o senhor sabe que ele também corresponde ao meu amor e pense  que ele talvez não vá desistir de tentar me convencer a ir embora com ele..._disse Jeremias agarrado à mão do padre.

O padre permaneceu em silêncio, impassível, como se aquilo fizesse parte do castigo, da penitência  do afilhado...como se realmente quisesse que ele falasse tudo de uma vez, para que tudo fosse expulso e expurgado do peito de Jeremias!

_Ele não tem culpa, padre!_Jeremias estava desesperado._Eu assumo a culpa por tudo...eu fui possuído pelo diabo e o tentei a fazer tudo o que fez! Eu mereço ser castigado, não ele!

O padre ainda permaneceu em silêncio e imóvel.

_Faça o que quiser comigo, padre...o que quiser!_suplicou._Mas eu imploro...eu suplico...não conte para a minha família que ele veio atrás da gente, pois eu não quero que novamente espanquem ele, ou...ou...tenho medo até que o matem por minha causa, padre!

Jeremias acreditou que o silêncio do padrinho realmente  fazia parte do seu castigo, da sua penitência.

Foi naquele momento, com as defesas baixas, com o autocontrole totalmente destruído e com a mente confusa que Jeremias percebeu quantas pessoas estavam sendo afetadas pelo seu ato impensado de acreditar que poderia ter um romance com Lincon!

Os dois irmãos poderiam ter sido denunciados pela família de Lincon pelas agressões...quem sabe até poderiam ter sido presos! Dona Maria das Dores quase morrera, sabendo ou não do que o filho amado fizera...o padre fora obrigado a deixar a sua paróquia e os seus fiéis em festa de Páscoa para ir pessoalmente conduzir a sua ovelha que se desgarrara para o seminário...Lincon apanhara, estava correndo risco de novamente apanhar...estava correndo o risco de ser coberto de pancada e depois ser jogado numa vala no meio do mato para morrer ali...sozinho...A mente do rapaz não dava trégua!

PERDÃO! EU PEQUEI E GOSTEI!-Armando Scoth Lee-romance gayOnde histórias criam vida. Descubra agora