Capítulo 3 - THE END

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THE END

Isabela

A minha maior dificuldade pela manhã não era encontrar uma vaga na rua do escritório em que eu trabalhava (mesmo que eu precisasse de duas voltas até conseguir), ou chegar no horário (mesmo que Amélia teimasse em tentar me converter para o seu culto da skincare que era uma delícia, mas era tempo demais despendido em cremes), ou em esperar o sistema PJ-e carregar meus processos em aberto para que eu visse se algum lunático tentou falar que minha causa legítima deveria ser improcedente (mesmo que isso fosse mais normal do que eu gostaria de admitir, já que o trabalho do advogado era, basicamente, fazer uma tese incrível e provar porque a tese do ex adverso não era tão maravilhosa quanto a sua).

Não.

Nada disso.

A maior dificuldade era lidar com os dois (e meio) patetas do escritório — meio, porque um deles era um jovem adulto confuso e trevoso, então não chegava a ser bem um pateta completo, já os outros dois...

— Hashtag cadê meu café? — Patrício, o advogado sênior do escritório, perguntou em alto e bom som, enquanto tentava virar uma garrafa térmica de café que com certeza estava vazia, porque eu havia pegado o restinho que havia ali.

Rolei meus olhos e comecei a reorganizar minha agenda, administrando os prazos dentro do Outlook apenas para ver um novo e-mail do Sócio com duas exclamações com um urgente em caixa alta. Depois de muito tempo, eu finalmente entendi como era o seu nível de priorização e quando ele mandava um e-mail, normalmente era urgente mesmo.

Queria dizer que todos os advogados eram pessoas tranquilas e sensatas como ele, mas a exceção confirmava a regra, não era? Pelo menos eu havia saído por esse motivo do escritório anterior, onde eu sentia que ia ser assaltada a cada conversa que tinha com meus "colegas" — e sim, assaltada, porque se eu piscasse, eles roubavam meus casos bem debaixo dos meus olhos. Triste, de verdade.

— Hashtag cadê meus processos, Dridri? — Maurício Júnior, o filho do sócio do escritório Maurício Rodrigues e Advogados, encarou nosso novo recepcionista/ faz tudo.

Eu gostava de pensar que nós não trabalhávamos com nepotismo, mas era meio difícil quando o Adriel era primo da noiva de Patrício e a única pessoa que parecia não ter laços com ninguém era eu, a desgarrada.

— Hashtag, já olhou seus prazos? — perguntei em voz alta sem mirar uma pessoa específica e escutei dedos frenéticos batendo no teclado, porque era esse o tipo de coisa que acabava com a brincadeira ali.

— Finalmente, não aguento mais isso — Adriel comentou e eu sorri, porque minha sala ficava de frente para a sua mesa e eu gostava de trabalhar de porta aberta quando não tinha um cliente comigo ali — você tinha que postar no twitter? Aposto que se colocasse no Facebook ninguém teria visto.

— Minha amiga que decidiu isso, não tive muito poder de veto — dei de ombros, abrindo o e-mail do M-Sócio e começando a ler qual era a bomba que havia sido jogada e porque ela caiu comigo.

Ah, mais um caso de São Paulo? Não sei efetivamente quem havia me instituído como a advogada das causas paulistanas, mas sempre que alguma delas caía no nosso colo, ela era imediatamente direcionada para mim.

Quem gostava disso era Rui, meu primo, porque isso significava que virava e mexia eu acabava indo para a casa dele e a gente fazia vários passeios turísticos com o namorado dele (Vitório) e a noiva (Marina). No caso a noiva era do Rui, mesmo que o Vitório estivesse enroladíssimo com a Camila, uma jornalista incrível e comedora de tampinhas nas horas vagas.

A Bela e o GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora