Capítulo 29 - É estranho

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É estranho

Isabela

Jaque nos alugou por meia hora para testar todos os seus novos petiscos de bar: desde um croquete de carne com bacon até uma explosão de queijo dentro de um pão que entrou em autodestruição e a gente teve que comer tão rápido que eu pensei que o Ludgero passaria mal de tanta coisa que estava enfiando dentro da boca para atender a próxima mesa.

E, claro, os dois se derreteram pelo Golden-cachorro quando foram apresentados ao meu novo colega de quatro patas, anunciando que ele sempre seria bem-vindo ali dentro — até mesmo nos dias que eu não fosse, estava convidado a ser independente e ir por contra própria. Claro que eu rolei meus olhos. Claro que Jaque me chamou de maravilhosa e me esmagou embaixo da sua formosura de um gigante em miniatura.

Nós saímos de lá com uma porção de polenta — que o Lucas teve que admitir que era mesmo muito boa —, duas de hamburguinho e uma maionese de páprica que era a nova invenção deles. Lud colocou algumas cervejas geladas dentro da sacola como cortesia com uma piscadinha, avisando que não era apenas o Golden cachorro que era bem-vindo ali quando eu não estivesse.

— Então, é hoje que eu vou conhecer o seu apartamento? — Lucas me perguntou enquanto equilibrava as sacolas nas mãos e eu cuidava para que o Golden não saísse correndo na nossa frente.

— Hum... mais ou menos — respondi com um sorriso esguio e ele arqueou uma sobrancelha para o meu mistério.

— Vai me levar para onde, Bela? — indagou, sua curiosidade latente, e eu ri de como ele realmente parecia um cãozinho animado — eu vou para qualquer lugar, só para deixar claro, então não precisa me sequestrar.

— Isso eu não tenho dúvidas — brinquei, ainda caminhando na avenida à beira mar, assistindo o dia se transformar em noite bem ao nosso lado. Senti uma brisa fresca começando a esfriar meu corpo e esfreguei minhas mãos contra os braços — mas me conta como foi lá no porto, você só mencionou por cima e eu sei que não entendo nada, mas acho legal.

— Basicamente é a expansão do porto de Vitória, né? Então não estamos construindo nada do zero, apenas aumentando o que tem ali, porque a demanda está grande e eles sentiram necessidade de ter mais espaço para armazenamento de containers e para que os navios possam atracar — comentou com pouco caso, como se aquilo fosse trivial — claro que parece simples, mas tem toda uma análise de mobilidade, ecológica e até demográfica para entender todos os impactos na cidade.

— Não parece nada simples — garanti, sentindo o Golden puxar a coleira com força e eu fiquei impressionada com a potência daquelas pernas curtas contra o asfalto capixaba.

Acho que ele e o Adolfo se dariam super bem.

— Minha parte é o projeto, já a execução, que fica com a Má, é mais complexa — deu de ombros, com um sorriso modesto até demais nos lábios. E isso não fazia sentido, porque ele era uma das pessoas que tinha a autoestima mais em dia que eu conhecia tanto para beleza quanto para uma destreza sexual que eu não conhecia, contudo, com o trabalho ele parecia querer desmerecer o esforço por inteiro.

E não fazia sentido.

— Aposto que os dois são bem difíceis, Lucas, não tira o seu mérito de ser um arquiteto de porto foda pra caralho — dei ênfase naquelas palavras ao parar no semáforo à nossa frente e o cãozinho usar o poste como banheiro.

Ele me observou por alguns segundos, seus olhos explorando meu rosto sem pressa alguma, tomando seu tempo com cada uma das minhas linhas, antes me encarar com um sorriso charmoso que dominou seus lábios na melhor expressão que definia se-você-está-dizendo-continua-que-eu-curti.

A Bela e o GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora