Capítulo 41 - Senti cheiro de lavanda

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Senti cheiro de lavanda

Lucas

Já tinha passado um pouco das 20h de sábado, o horário em que o sarau de Adriel ia começar, quando Breno, Marcela e eu conseguimos chegar ao Coralina, o bar diferentão meio poético onde todas as formas de arte eram a palavra de ordem.

Embora o ambiente fosse todo de tijolinhos expostos e tivesse uma iluminação indireta, quadros nas paredes e uma fumacinha de incenso que se espalhava pelo ar e deixava tudo com um cheiro que parecia meio floral, não foi difícil encontrar a mesa onde estavam Bela, Maurício, Patrício, uma moça que parecia para cacete com Marcela e eu supus ser sua irmã, e o próprio Adriel, que estava inteiro vestido em uma escala que ia de preto a cinza e segurava um caderninho nas mãos.

— Achei que a gente estava atrasado! — disse eu, acenando para todo mundo em forma de cumprimento e parando perto de Adriel.

— Ainda bem que eu estava junto, porque as noções de geografia capixaba de vocês é ridícula e com certeza vocês chegariam aqui só amanhã no meio da tarde — Marcela afirmou para mim e para Breno, nos olhando como se a gente tivesse obrigação de conhecer Vitória como ela, a pessoa que tinha morado naquela cidade por dezessete anos.

— Claro, Má, você nem teve que fazer retornos duas vezes naquele lugar cheio de praças para finalmente chegar aqui — Breno gracejou para a engenheira, que tinha colocado toda a culpa dos desvios de rota no fato de que fazer retornos em Vitória sempre acrescentava uns seis quilômetros ao trajeto (palavras dela, não minhas).

— Jardim da Penha é praticamente um labirinto de praças! Não me provoca, Sandrinho! — Marcela ciciou e Breno fez careta para seu apelido oficial na CPN desde que o pessoal tomou conhecimento de que Sandro era um pai orgulhoso de duas crianças que automaticamente foram batizados de Sandrinho e Sandrinha. O Ventura mais velho ergueu as mãos em rendição e, depois de um olhar estreito na direção dele, a engenheira se virou para Adriel, que brincava com o elástico que prendia a capa do caderninho em um gesto ansioso. — Não acredito que vou ver você recitando poemas pela primeira vez!

Marcela abraçou o primo, que riu e devolveu o abraço com carinho — não era ele que supostamente fugia de contato humano como se fosse alérgico?

— Eu sei que você está animada, Má, mas não fica esquisita — pediu ele antes de dar um beijo na bochecha da prima.

Fui apresentado para a moça que não conhecia e que era mesmo Marcele Noronha — a irmã de Marcela e noiva de Patrício —, então apresentei Breno para todo mundo e fui até a cadeira que estava ao lado de Isabela.

Talvez ela mesma tivesse guardado aquela cadeira para mim, mas eu suspeitava que todo mundo ali tinha um dedinho daquele lugar vago ao lado dela, o que só foi confirmado pela sobrancelha de Patrício que subiu até a sua nuca, mais ou menos, como se ele tivesse entendido tudo só com a minha aproximação amigável.

Mal sabia ele.

— Doutora — gracejei para Isabela quando estendi a mão, que ela pegou quando se levantou para me cumprimentar.

Como era de se esperar, ela estava lindíssima com um vestido preto, uma jaqueta da mesma cor cheia de tachinhas prateadas e o cabelo solto, nem parecendo que era um ninho de água salgada e areia naquela mesma manhã. Provavelmente aquela boca vermelha era porque ela sabia que ficava linda daquele jeito, mas tinha como efeito colateral me deixar completamente desconcentrado de qualquer outra coisa.

Nós sorrimos um para o outro, cheios daquela normalidade casual de cada vez que nos encontrávamos, afinal, éramos os mesmos — Bela e Lucas, Golden e York bípedes, amigos —, tínhamos liberdade e implicávamos um com o outro, mas agora era meio diferente porque... Bom, a gente sabia que nosso lance era alguma coisa além de amizade.

A Bela e o GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora