Capítulo 7 - Trato é trato

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Trato é trato

Isabela

O dia estava lindo: fato.

Eu estava de biquíni: fato.

A praia estava lotada: fato.

Era final de semana: fato.

Então por que, vocês devem estar se perguntando, eu estava dentro de um carro no meio de um congestionamento com um vestido cinza chumbo de linho, buzinando para o fusquinha na minha frente que estava na sua terceira tentativa de baliza?

Ótima pergunta!

Pelo jeito, quando um cliente ligava de final de semana com um problema não era legal chamar o chefe (nem o filho do chefe, pelo jeito) para resolver a situação, então o pau para toda obra (que também respondia por Isabela Casagrande) estava lá no escritório com o Pat para entender o que havia acontecido.

Não que eu culpasse o Patrício, porque eu teria feito o mesmo, só que foi extremamente estranho o começo da história, porque eu não conseguia entender como a SegAuto, um dos meus clientes que era uma seguradora de carros, ligou para ele. Então Patrício me disse que a Elisete, que cuidava de entrar em contato conosco, havia sido demitida e a nova pessoa, Amanda coitada, não fazia ideia do que estava acontecendo.

Por isso que ela ligou para o Patrício sobre um caso de um acidente de trânsito que não deu causa, ou seja, o fulano bateu no carro que estava estacionado em paz na rua e agora a seguradora tinha que atuar para cuidar do estrago. Contudo ela achou que a gente tinha que atuar nisso hoje, que não poderia esperar segunda, porque o cliente estava enlouquecido ligando para Deus e o mundo.

Então eu passei as primeiras horas do meu sábado junto com o Patatá (Patati era o Maurício, mas eu ainda não tinha tido coragem de contar isso para ele ainda), ajuizando uma ação, pedindo o Boletim de Ocorrência e o Processo de Regulação de Sinistro da seguradora (e a Amanda nem sabia que precisava fazer isso para começo de conversa), assim como o seguro do carro que foi atingido brutalmente.

Enfim, minha fé na humanidade não havia sido renovada dessa vez, mas o fusquinha conseguiu estacionar e eu já estava considerando isso uma baita vitória.

Dirigi mais alguns quarteirões à procura de uma vaga sobrando na sorte e encontrei uma que eu tive que realizar uma manobra radical, mas meu Kicks coube como uma luva mesmo assim, então saí do carro com minha sacola de praia, o vestido de linho e uma havaiana que estava no limiar de estourar, mas era minha preferida e eles não vendiam mais essa edição das princesas da Disney (claro que era da Bela, claro).

Eu andei por alguns minutos na praia, recebendo uns olhares curiosos pelo meu figurino diferenciado, até que eu encontrei Marina Carvalho jogando frescobol com Camila Nogueira na frente do único guarda-sol vermelho-neon da praia inteirinha — que era a cara do Vitório Gava, mas eu jamais diria isso para ninguém.

— Olha quem finalmente chegou! — Dênis Antunes, o marido do meu pai, veio para me abraçar com carinho, mesmo que estivesse suado de sol e eu ainda vestisse roupas demais para não sentir calor com o seu gesto.

— Modelito interessante, é tendência capixaba? — Vitório me perguntou, abaixando o jornal que estava lendo apenas para me espiar com um sorriso curioso nos lábios sem ligar que o seu coque samurai estava meio bagunçado pelo vento. A verdade era que eu achava que ele estava sempre com essa mesma expressão no rosto, mas que era um efeito colateral de ser um jornalista investigativo muito dedicado ao seu trabalho.

Se havia algo que eu havia entendido com os anos era que onde quer que o meu primo estivesse, Vitório estaria juntos. Era uma compra casada, por mais que aquilo não fosse correto legalmente falando, mas com os dois funcionavam, porque era como se um trouxesse equilíbrio para o outro.

A Bela e o GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora