Capítulo 36 - Mia Colucci moderna

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Mia Colucci moderna

Lucas

Na quarta-feira, Alice e eu finalmente conseguimos fazer nosso intervalo ao mesmo tempo e fomos almoçar juntos no restaurante vegano que tinha inaugurado há três semanas e ficava a cinco minutos de caminhada da CPN para o qual ela estava me convidando há dias e eu nunca tinha tempo para nada além de um almoço de vinte minutos ou, às vezes, um sanduíche sentado na minha mesa — nenhum de nós era vegano, de fato, mas trabalhando num setor muito verde e ouvindo de Eduardo Senna como não havia mais nenhuma justificativa ética para continuarmos consumindo carne e matando o planeta porque a crise hídrica não era culpa dos banhos com mais de cinco minutos e sim da pecuária, eu meio que sentia que podia me esforçar para diminuir o consumo.

A verdade é que eu estava envolvido com vários projetos na Construção Sustentável, com o Porto de Vitória e tinha entrado madrugada adentro com a planta do apartamento de Isabela, então, para dizer o mínimo, eu estava ferrado de trabalho.

Claro que reformar o apartamento de Bela eu nem considerava trabalho e era algo que eu estava fazendo porque me importava com a advogada e queria que ela gostasse do lugar onde ia morar, que fosse a sua cara e que não lembrasse constantemente dos planos que ela não tinha concretizado para a sua vida, mas sim que fosse um lembrete constante de que ela poderia dominar o mundo se quisesse.

A própria Isabela discordava e achava que era trabalho sim e, tenho certeza, se não tivesse me mandando a planta antes de eu estar praticamente me perguntando se eu não ganharia tempo caso começasse a dormir na CPN, eu jamais teria visto aquele projeto na minha vida a não ser que arrombasse seu apartamento em Vitória e roubasse.

Mas agora eu tinha visto e tinha muitas ideias que eu achava que ela ia gostar, e foi por isso que pedi para Marcela executar o projeto comigo, já que ela estava indo para Vitória com frequência, e acabei indo dormir às quatro da manhã para acordar menos de três horas depois.

Obviamente, no momento em que eu estava acordado e cheio de planos não pareceu uma ideia ruim, mas... Bem, a latinha de energético que eu tomei ao invés do café da manhã não tinha feito nem cócegas e só me rendeu um puxão de orelha de dona Eva que, daquela vez, estava certa porque eu não tinha comido direito.

E também era por isso que Alice Sobral não podia me julgar por ter pedido um sundae enorme para a sobremesa enquanto ela tinha pedido um brownie de tamanho super aceitável e eu tinha granulado colorido, chantilly, cereja e umas três bolas de sorvete de chocolate para devorar.

— Não me olha assim, Alice — eu disse, apontando a minha colher para ela, e apenas recebi um erguer de sobrancelhas em retorno.

— Não te olharia nem se eu conseguisse, você está escondido atrás de uma montanha de sorvete — gracejou ela.

Eu teria amassado um guardanapo para jogar nela se o restaurante não usasse apenas uns de pano muito bem cuidados para eu simplesmente sair jogando nas pessoas.

— Sério, Ali, eu mereço esse refresco — disse eu ao enfiar a colher no sorvete e depois na boca. Deus do céu, a gente não precisava consumir nada de origem animal mesmo, aquilo era divino e ainda era feito com leite de amêndoas! — Hoje é um daqueles dias em que se eu fosse uma tartaruga, comeria um canudo.

Alice riu e deu uma mordida no brownie; seus olhos chegaram a brilhar de felicidade, bem parecido com quando ganhamos uma cestinha de sementes para esperar o almoço e descobrimos que sementes temperadas eram incríveis.

— Minha teoria é que você está trabalhando demais porque se importa e estão te dando vários projetos porque você é um bom arquiteto, então pode lidar com mais responsabilidade. — Coloquei uma mão sobre o coração para o elogio, porque Alice não costumava ser tão direta assim, embora fosse aquela amiga que falava as minhas falhas na minha cara e me vendia como o deus da arquitetura para o resto do universo.

A Bela e o GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora