Capítulo 20 - Quem é que deixou essa amizade florescer?

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Quem é que deixou essa amizade florescer?

Isabela

Meu celular vibrou quando eu estava finalizando a réplica que tinha prazo até às seis da tarde, por isso nem senti peso na consciência quando o ignorei, murmurando comigo mesma as palavras que digitava para ver se, quando lidas em voz alta, elas soavam tão bem quanto na minha cabeça.

Eu tinha a leve impressão que, depois que você trabalhava muito em um texto, sua cabeça começava a se viciar no que você queria ler e não no que estava lendo, então suspirei e apoiei minhas costas no encosto da cadeira do escritório, esticando o pescoço e as mãos ao escutar uma sinfonia de estalos de minha autoria.

— Ei, Bela, vamos almoçar, topa? — Patrício apareceu na da sala, abotoando o seu blazer como se estivesse em uma propaganda de perfume e eu arqueei uma sobrancelha para o movimento — o que foi?

— Terno novo? — indaguei, porque ele tinha exatamente quatro ternos bem distintos: um preto, um cinza chumbo, um cinza com riscas mais claras e um que ele nunca mais ousou entrar no escritório depois de ser chamado de fundo de caixão.

Só que esse de agora era azul-escuro, bem cortado e lustroso, tipo o seu cabelo. Novinho em folha.

— Muito perceptiva você, é a primeira pessoa que reparou — sorriu e eu apoiei meus cotovelos na mesa quando ele deu um giro nos seus calcanhares para me mostrar a peça completa. Uh, corte italiano e tudo? Aprovado — o que achou?

— Gostei, combinou com os seus olhos — pontuei, voltando meus olhos para a tela do computador.

— Cele disse a mesma coisa, acho que foi por isso que ela me incentivou a comprar esse e aposentar aquele-que-não-deve-ser-nomeado — ou seja, fundo de caixão. Ele deu de ombros e continuou me olhando — mas topa almoçar?

— Eu tenho almoço marcado mais tarde, mas obrigada — devolvi meus olhar na direção dele, notando que agora o Patati estava acompanhado do Patatá.

— Uh, Isabela Casagrande tem um encontro em pleno horário comercial? — Maurício sorriu, passando as mãos no seu topete que provavelmente sobreviveria ao apocalipse antes de desmanchar.

Rolei meus olhos, observando que eu ainda tinha dez minutos de folga antes de ter que sair do escritório.

— Vou almoçar com o Rodrigo — disse e, pela falta de uma resposta imediata, desviei meus olhos para a dupla, apenas para ver que os dois me encaravam de forma cética — o que foi?

— Vai sair com o ex? — Maurício questionou, suas sobrancelhas demonstrando o quanto estava desconfiado daquilo, porque era a mesma forma que me olhava quando nós jogávamos truco e eu pedia seis.

No final, não importava muito se eu estava blefando ou não, acabava ganhando. Por que eu tinha sorte? Não, porque ele sempre se empolgava demais e deixava suas intenções expostas para quem quisesse ver — até o Adriel estava se saindo melhor em pegá-lo no pulo do gato.

— Almoçar com ele? Sim, vou — suspirei, bloqueando meu computador, porque não conseguia mais raciocinar direito a réplica e eu tinha certeza de que estava comendo algumas palavras que deveriam estar ali, mas eu simplesmente... aff, qual era aquela palavra jurídica para quando eu queria que a pedir para que a diligência fosse realizada em uma comarca diferente de onde acontece o processo?

Carta presetória? Carta predatória? Carta pretensiosa?

— Normalmente ex-namorados não são tão amigos quanto vocês dois, só comentando — Mau levantou as mãos, como se estivesse se defendendo do meu olhar impaciente.

A Bela e o GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora