Capítulo 19 - Finge de morto, Golden!

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Finge de morto, Golden!

Lucas

Coloquei a alça da minha mochila no ombro, alonguei o pescoço e ouvi vários estalos que comprovaram que as tensões do dia tinham me deixado meio crocante.

Olhando pelo lado positivo, a gente tinha conseguido aprovar nosso projeto com alterações mínimas na reunião da manhã e Isaac estava alerta o suficiente quando acordou para ter em mente que a gente tinha uma reunião com um cliente e lembrado de calçar sapatos ao invés do seu chinelo hut e meias, o que foi uma grande vitória, especialmente considerando que era ele quem ia tocar a obra — com as plantas feitas, eu só precisava comparecer ao apartamento para checar se, do ponto de vista da arquitetura, estava correndo tudo bem na execução, mas Isaac normalmente mandava muito bem e a gente trabalhava em uma sintonia muito boa.

Para ser justo, acho que o engenheiro com quem eu mais me entendia era Sandro, mas eu gostava muito de trabalhar com Isaac e com Marcela também.

Depois da reunião, no entanto, o dia todo foi dedicado a resolver pequenos pepinos — o e-mail que eu tentava responder e sempre voltava para a caixa com aquele delivery report avisando no erro de envio, o AutoCad que travou antes de terminar a última renderização e perdeu uma das modificações que eu fiz no projeto e eu tive que refazer na força do ódio, o fato de que Marcela e eu nunca tínhamos intervalos ao mesmo tempo para conseguir sentar e resolver a questão do Porto de Vitória, que acabava sempre adiada porque tinha um prazo maior do que os dos outros projetos.

Eu estava vendo o momento em que a gente ia acabar tendo que se reunir fora do expediente na minha casa ou na dela para conseguir lidar com o porto, porque eu não tinha nem conseguido mostrar para ela os artigos e livros sobre urbanismo ecológico que eu tinha lido nos últimos tempos para garantir que o porto fosse nosso 10/10 — boatos diziam que trabalho e vinho no tapete de Marcela era quase um evento, especialmente se os melhores amigos dela resolvessem se juntar, mas eu sinceramente preferia um convite pela amizade e não por falta de tempo para fazer isso durante o expediente.

Mas, às vezes acontecia. Foi nessas de ir para a casa do Edu fazer uma porrada de horas extras que eu conheci minha não-namorada Bia. E Leandro.

Todavia, no fim do dia, apesar de parecer que eu tinha sido atropelado por um veículo grande guiado por alguém com muita raiva, a sensação de trabalho feito fazia valer a pena — se eu era um nerdola arquitetônico, bom, me cabia aceitar minha sina.

Quando entrei no elevador, Marcela e Edu — outros dois nerds em suas respectivas áreas — estavam lá e ofereceram sorrisos cansados. Parecia ser um imenso sacrifício para Má segurar o braço de Edu que estava por cima dos seus ombros, mas ela parecia extremamente satisfeita em fazê-lo.

— Renderizou? — perguntou o arquiteto, assim que eu entrei e apoiei as costas do espelho, porque ele tinha acompanhado minha saga com o AutoCad.

Todo arquiteto na CPN queria a paz de espírito que Eduardo tinha, porque eu nunca tinha visto aquele cara estressado.

— Chefe, se não tivesse dado certo você teria me visto quebrando o iPad na parede e aí eu ia fazer o curso de reatividade com a Má — impliquei com a engenheira, porque ela e Sandro disputavam (uma disputa muito acirrada) quem era mandado mais vezes para fazer esse curso pelo RH.

No momento, estava 9x8 para Marcela. Mas tinha ficado sabendo que Sandro e Joaquim, o arquiteto dele, não conseguiam entrar em consenso no projeto deles, então acho que o 9x9 era uma realidade muito, muito, próxima, se eu bem conhecia Sandro Ventura.

E eu bem conhecia Sandro Ventura.

— Eu deveria ganhar o prêmio de melhor aluna — disse Marcela, o que fez Eduardo rir.

A Bela e o GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora