Capítulo 22 - Vou deixar uma indireta aqui, Isabela

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Vou deixar uma indireta aqui, Isabela

Isabela

Girei meu pulso esquerdo devagar, sentindo uma fisgada bruta no tendão — bem, eu acho que era ali, mas poderia ser uma cartilagem, um músculo ou um fantasma que me atravessou também. Sempre uma possibilidade.

— Tudo certo, Bela? — perguntou Adriel, ajustando a sua mochila no ombro, que cada dia parecia mais e mais lotadas de vários nadas, ao abrir a porta de saída do XinaTech após a formalização do contrato que eles haviam assinado conosco.

Seriam dois anos de teste e, posteriormente, poderiam estender para cinco se entendessem que o escritório estava cumprindo sua função de assessoria jurídica e o fato de Zhang Bao, o assistente sênior jurídico deles, ter adorado o Adriel depois que os dois terem engatado em uma conversa improvável sobre as propriedades antioxidantes do pepino nas refeições. Não sabia nem como uma conversa sobre legalização de tributos e financiamento poderiam levar a pepino, mas levou e, pelo jeito, isso nos garantiu dois sorrisos e muitos elogios.

— Certinho — sorri, mesmo que o puxão entre meu polegar e o indicador aumentasse a cada segundo que passasse.

Tentei fechar a mão, porém meu braço estremeceu de dor com a tentativa e eu parei no meio do caminho, meu estômago pesado e frio com aquilo.

Mas que merda...

— Gostou da reunião de hoje? — perguntei para tentar me distrair do pequeno inchaço que eu encontrei ali, e ainda bem na minha mão esquerda...

— Tirando o juridiquês avançado, eu acho que foi boa. Não sabia que a gente conseguia fazer acordos com empresas internacionais — comentou e passou as mãos nos cabelos quando nos aproximamos do elevador. Os fios se moveram e voltaram até onde estavam antes, e eu não sabia se essa era a intenção ou não.

— Empresas do exterior normalmente não conhecem as legislações brasileiras e procuram um representante que possa cuidar da burocracia, guiar pelo caminho correto e que seja de interesse deles — peguei meu celular com a mão direita, estranhando o uso dela, já que eu era canhota.

Era confuso ter que fazer tudo invertido, porque eu me sentia uma criança da pré-escola aprendendo a segurar um lápis na posição correta e era como se o meu dedão tivesse desaprendido vinte e sete anos de treinamento.

— Curioso — arqueou uma sobrancelha e deslizei meu indicador no sensor térmico do elevador para chamá-lo até o andar que estávamos enquanto controlava a frustração que eu sentia.

Li rapidamente as mensagens pendentes e quase revirei meus olhos internamente quando pousei os olhos na do Maurício-Pai, praticamente ignorando todas as outras.

Maurício Rodrigues Sr: Isabela, boa tarde

Maurício Rodrigues Sr: Eu sei que você deve estar atribulada de coisas aí, mas o Patrício teve uma emergência familiar e não vai conseguir finalizar a impugnação aos embargos de execução do processo do Hospital Capixaba Paulistano que ele disse que iria tocar para você focar no novo cliente.

Maurício Rodrigues Sr: No caso, como você deve se lembrar, nosso prazo é hoje.

Maurício Rodrigues Sr: Consegue, por gentileza, tocar isso? Confio que você consegue escrever essa peça com a qualidade que a gente precisa. Vou te mandar o que ele conseguiu iniciar.

Maurício Rodrigues Sr: Muito obrigado.

Cinco horas para entregar.

Eu era canhota.

A Bela e o GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora