Capítulo 31 - Capixabe-se

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Capixabe-se

Lucas

— Espero que você saiba que vai precisar de muito mais do que uma moqueca paulista para se redimir, Golden — avisou Lorena, me encarando do sofá da sala da cozinha americana do apartamento que ela, Amélia e Isabela (e Gav, acho, mesmo que não oficialmente) dividiam. — Você deixou a Bela fazer uma tatuagem e eu nem confio em moqueca que não seja capixaba!

Eu estava limpando camarões na pia. Era sempre esquisito cozinhar em um lugar que não fosse a minha, porque nada ficava no lugar de costume e eu sempre acabava me perdendo, mas eu tinha prometido uma moqueca para Isabela e, tudo bem, era audacioso um paulistano de carteirinha tentar cozinhar moqueca para um bando de capixabas da gema cheios de teorias da conspiração sobre Cachoeiro de Itapemirim ser a capital secreta do mundo e ninguém dar seta no trânsito, mas eu confiava no meu potencial.

— Em minha defesa, queria dizer que a ideia da tatuagem foi da Bela, logo, se alguém aliciou alguém, vocês estão incriminando a pessoa errada! — Me defendi, dando uma olhada no ensopado cheiroso que estava na panela de barro, cheio de tomate, coentro e cebola. O cheirinho de alho tinha quase feito os quatro terem orgasmos, mas ninguém admitia. — E eu sou um bom cozinheiro, confia em mim.

— Com todo o respeito, Golden, mas não tem jeito da sua moqueca vai ficar melhor que a capixaba — Gavriel disse, enquanto brincava com o Golden-cão para ver se sua linguinha para fora era um problema ou apenas uma mania.

— Vocês precisam confiar em mim, capixabas — disse, com o último camarão limpinho na mão. — Sou mesmo bom cozinheiro — Bela confirmou quando eu apontei para ela pedindo um pouco de apoio — e peguei a receita de alguém muito, muito confiável.

Rui.

Ele se orgulhou muito de dizer que Marina tinha caído no seu charme quando ele preparou a receita dois anos antes, no aniversário dela — bom, isso depois que ele me fez todo um interrogatório sobre porque caralhos eu tinha feito uma tatuagem com Bela.

Fui obrigado a dizer a verdade: éramos muito amigos ou estávamos flertando descaradamente.

Mas claro que Bela não sabia disso, pois, supostamente, eu não tinha o número do primo-Casagrande e nem estava planejando com ele como enviar uma porrada de Eugências para o apartamento de Gavriel na semana seguinte — aparentemente Rui tinha achado uma transportadora e a casa de Gav era o lugar onde Bela nunca saberia que vários engradados tinham chegado.

— Acho que usar camarão é roubo — considerou Amélia, que estava com um iPhone apontado para a comida dentro da panela porque era uma blogueira muito dedicada e dividia muito da sua rotina com seus seguidores, que queriam saber tudo sobre ela. Ergui uma sobrancelha para a influencer, que deu de ombros e explicou, com um sorrisinho de canto que explicava bastante sobre porque Gavriel enaltecia o quanto ela era linda para os quatro ventos: — A moqueca original é só com peixe.

— Vou usar robalo e camarão também, porque soube que alguém acha peixe de moqueca estranho — disse e Bela fez uma careta, porque aparentemente ela não podia contar que não era assim fã número um de moqueca se quisesse se manter como uma capixaba de carteirinha. — Vocês realmente não usam leite de coco?

Lorena fez uma careta, como se eu tivesse acabado de ofender um dos três Cristos Redentores que existiam no Espírito Santo e eu não fazia ideia antes de Bela me contar — um em Guaçuí, um em Colatina e outro em Mimoso do Sul, descobri.

— Se colocar leite de coco na moqueca, vai ser só mais um motivo para eu cometer um crime culposo contra você — ralhou Lola, que ainda estava tentando convencer Bela e Amélia de que elas tinham que fazer uma tatuagem juntas, mas quem tinha adorado a ideia foi Gavriel.

A Bela e o GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora