Capítulo 26 - O amor da minha vida, senhoras e senhores

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O amor da minha vida, senhoras e senhores

Isabela

Y no te voy a envolver — Amélia começou a cantar, abrindo a janela do banco traseiro do meu carro para colocar um braço para fora. Exatamente da maneira que ela sabia que eu não gostava, sabe, por possibilidades de amputação espontânea de membros e ventos irritantes atrapalhando o som.

No entanto, acho que ela fazia isso de propósito, por isso que eu não a chamava para viagens de carro que duravam mais do que trinta minutos — e por este motivo é que era Lorena quem acabava a convidando para esse tipo de programação.

— Anitta como número um no mundo é louco, não é? — Lola perguntou, seus olhos deslizando pelo meu Spotify enquanto acrescentava mais algumas músicas na fila para tocarem em seguida.

Aquilo foi um erro? Possivelmente. Viriam músicas de qualidade duvidosa? Com certeza. Ela estragaria minhas recomendações para sempre? Sem sombra de dúvidas. Contudo eu acho que gosto por influência era algo que realmente existia, visto que eu tinha certeza de que Lorena Martinelli jamais colocaria funk ou Anitta e era exatamente isso o que ela estava adicionando — e a possibilidade de ter um contatinho com gosto musical exótico envolvido nisso era de 100%.

— Não é louco, é estrategicamente calculado — considerei ao dar a seta e acelerar, preparando uma ultrapassagem digna de Velozes e Furiosos, algo que fez Lia se segurar no banco e Lola aumentar o volume enquanto batia palmas em incentivo — ela sempre soube fazer um marketing bom para lançamentos e essa música tem um toque de reggaeton, o que é mais sedutor para o mundo a fora do que um funk brasileiro, ou seja, ela fez a música perfeita para bombar.

— Falando em estratégia, sua mãe escolheu um bom dia para nascer né? Tá um sol gostoso para inverno e não tá aquele frio que a gente queira se esconder embaixo das cobertas — Lia olhou para fora como um cachorro viajando de carro.

— Não faço ideia do que uma coisa tem a ver com a outra, mas você sabe que as pessoas não escolhem quando nascem, não sabe? — Lorena, com a graça de um elefante, perguntou e recebeu um tapa na cabeça de Amélia, que não ficou nem um pouco contente com o amor bruto.

— Claro que escolhem. A Belinha, por exemplo, escolheu nascer um dia depois do dia da independência apenas para mostrar como é patriota — Ami brincou e eu comecei a rir, dando seta para a direita para que um apressadinho nos ultrapassasse.

— Canarinho no peito desde sempre — toquei meu coração por cima da blusa antes de ajustar a viseira do carro, porque o sol estava começando a pegar no meu rosto.

Um sorriso tocou meus lábios quando eu me lembrei que Lucas havia comentado que era um rouxinol inspirado e nenhum pouco modesto. E eu fiquei ainda mais feliz ao me lembrar das fotos que ele havia me mandado no dia dos pais com os Ventura. Com uma expressão tão alegre que eu sentia que não havia outro lugar que ele gostaria de estar no mundo naquele dia além dos três.

E eu sabia o que sentia quando estava com meus pais, por isso conseguia tangibilizar o sorriso dele no meu rosto apenas por pensar que eu conseguiria colocar um de mesma intensidade nos lábios de minha mãe quando ela soubesse que estávamos chegando — e eu dizia estávamos, porque Lola e Lia jamais me deixariam comemorar o aniversário dela sem as duas.

Então...

Quando eu vi aquela bunda passando na minha frente... — Lola aumentou o volume e ela e Amélia começaram a cantar a pior e mais errada versão de Malvadão 3 que poderia existir.

Uma vergonha.

Todo mundo sabia que era "Pra dar um beijo na tia, Xamã é 100%", e não "Para dar um beijo na pia, chamada 100%". Aquilo era um assassinato àquela música, mas eu não queria corrigir, porque adorava quando elas engrossavam a voz para cantar:

A Bela e o GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora