Capítulo 39 - Feliz aniversário, Lucas

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Feliz aniversário, Lucas

Isabela

— Ok, tô saindo agora e você? — Lucas me perguntou do outro lado da linha enquanto eu ligava a seta e virava para a esquerda, quase batendo a testa no volante quando vi os inúmeros faróis a minha frente.

— Tentando chegar, mas... Ah, muito trânsito — murmurei e tentei esconder um bocejo, mesmo que soubesse que ele não conseguiria ver, porque eu não queria estar cansada.

Ainda tinha muita coisa para acontecer antes que eu fosse dormir, principalmente porque Lucas estava na minha terrinha capixaba e era a véspera do seu aniversário. Não era todo dia que essa combinação acontecia e eu sabia que ele preferia, claramente, comemorar a data com o Sandro, Gio e Breno, mas o Sandro estava enrolado com uma obra (acho), a Gio tinha uma prova ferrada naquela noite e o Breno só conseguiu passagem para o dia seguinte.

Então aquela era minha noite. Nossa noite.

E eu queria que, quando ele parasse e lembrasse desse dia, não conseguisse tirar o sorriso dos lábios. Aquele sorriso que me arrancava outro e outro e outro e que eu não soubesse o que fazer além de morder os lábios para tentar me controlar, mas eu falhava — nem sei se eu realmente tentava.

— Tudo bem? Quer que eu te encontre onde você está? Marcelo está vindo buscar a Má e me ofereceu uma carona — comentou e escutei um burburinho de vozes ao fundo, todos com o "sotaque capixaba" que ele alegava que eu tinha, mas que eu negava veementemente, se despedindo do "Doutor Lucas", como eu sabia que o pessoal da obra o chamava às vezes, mesmo que ele não fosse, de fato, um doutor.

E eu sorri mais uma vez, claro.

— Não precisa, juro que faltam menos de cinco minutos — repeti, porque eu já tinha dado aquela estimativa fazia dez minutos e havia andado poucos metros desde então.

Meu Waze apitou uma notificação de que havia um acidente na minha frente e eu bufei, porque agora fazia muito mais sentido o motivo de nada estar andando. Ok, será que se eu fizesse o contorno aqui na Praça dos Namorados, conseguiria driblar esse imprevisto? Acho que dava.

— Ok, mas se você não me encontrar, saiba que é porque eu derreti em uma poça do calor abafado que é essa cidade — brincou e eu rolei meus olhos, ignorando o caminho que o aplicativo estava me dando, porque eu havia aceitado algumas ruas a mais no percurso para, enfim, conseguir ter um caminho livre para me movimentar.

— Aqui temos quatro estações muito bem definidas, sabia? Calor, verão, inferno e mormaço — gracejei e meu peito esquentou quando ele riu do outro lado da linha.

Meus dedos formigaram de leve e eu apertei ainda mais o volante.

— É bem a cara de Vitória mesmo — escutei algo estourar do outro lado. Um chiclete, talvez? — e como foi o seu dia?

— Ah, corrido. Lembra um processo que eu comentei com você que meu cliente tinha sido colocado do Serasa de forma incorreta? — perguntei retoricamente, porque eu sabia que ele iria responder sim, mesmo que talvez não se recordasse disso. Eram processos demais e nem mesmo eu dava conta de lembrar de todos se eles não estivessem muito bem catalogados —, então, a gente não estava conseguindo um acordo com a parte contrária, então ia e vinha audiência de conciliação e nada. Mas aí, nesses últimos dias, nós apresentamos as alegações finais e, finalmente-amém-Deus, conseguimos reverter o caso. Nosso cliente vai receber uma indenização pelos danos sofridos e... enfim, menos um — dei de ombros para mim mesma.

— Isabela Casagrande salva mais uma pessoa de cair nas garras da injustiça — escutei a brisa escorrendo pelo Porto, se misturando com a sua voz — mas não tinha aquele LOAS? E uns pró-bonos?

A Bela e o GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora