Capítulo 23 - Por que não churros?

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Por que não churros?

Lucas

Depois de dezessete páginas, eu estava verdadeiramente impressionado.

Primeiro porque aquele documento tinha dezessete páginas.

Segundo porque Isabela tinha aquela quantidade de informação na cabeça e falava como se fosse nada, tão confortável em seu mundinho jurídico que nem se tocava que aquilo era incrível para um caralho — tenho absoluta certeza de que poucas pessoas tinham prontinho na cabeça que juros remuneratórios superiores a 12% ao ano não eram abusivos se não fossem além da taxa média de mercado do Banco Central, ou que havia uma súmula sobre isso (ela sabia o número sem precisar pesquisar!).

— Ok, agora salta uma linha e escreve "são os termos em que, respeitosamente, pede e espera deferimento" — instruiu e eu digitei; quando parei, olhei a advogada de lado esperando mais instruções. — Agora é só datar e colocar meu nome e o número da minha OAB.

Fiz o que ela pediu quando ela soletrou o número. Bela fez um gesto e eu entendi que queria o notebook, então o passei do meu colo para o dela, o que não foi muito difícil já que estávamos sentados lado a lado na cama do hotel e a advogada já estava com as pernas em posição de índio.

Na real, a gente tinha começado comigo digitando para ela sentado na escrivaninha que tinha no quarto, mas em algum ponto Isabela se cansou de ter que ficar se inclinando por cima de mim para reler o que tinha acabado de ditar — acho que especialmente porque ela esquecia que estava com a mão machucada e se apoiava nela para olhar por cima do meu ombro — e me chamou para irmos para a cama.

Não era desse jeito que eu estava imaginando ir para a cama com alguém em uma noite de sexta-feira, mas às vezes você fazia planos e a vida ria da sua cara; e não era como se de alguma forma eu estivesse arrependido de estar ali, na verdade, a sensação de estar no lugar certo parecia apenas aumentar e aumentar a cada palavra que eu digitava e no visível alívio de Bela por eu estar ali para ajudar.

Eu estava onde eu queria estar naquela noite, então tudo bem estar usando roupas na cama de uma mulher sem ter a menor intenção de tirá-las.

Bela soltou um gemidinho de dor e eu ergui as sobrancelhas.

— Quer que eu faça? — perguntei, observando-a conectar um pendrive, que descobri posteriormente que era seu certificado digital, na entrada USB.

— Não precisa, Golden, o protocolo é rapidinho e é só fazer com cuidado — disse, arrastando devagar os dedos no touchpad e abrindo o site que queria.

Esperei alguns segundos enquanto ela estava bastante concentrada no seu objetivo.

— Posso falar uma coisa? — perguntei e Bela me deu um olhar com um sorrisinho de canto como se soubesse que nada ia me impedir. Bom, errada ela não estava, né? — Sei que sempre te digo que você é linda e que seu sorriso é maravilhoso, o que é inteiramente verdade, mas você é tão inteligente que eu acho que fiquei arrepiado umas cinco vezes enquanto você ditava. — Mostrei meu braço, mesmo que ele não estivesse mais arrepiado, e ela riu. — É sério, doutora Isabela, você é impressionante.

Uma janela de confirmação apareceu na tela e Bela baixou a tampa do notebook, o equilibrando perigosamente com uma mão só para colocá-lo em cima da mesinha de cabeceira. Ela apoiou as costas nos travesseiros branquinhos, girando o corpo de leve para olhar para mim.

— Obrigada, mas é o meu trabalho ser uma boa advogada — disse e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Aposto que você também fica impressionante sendo todo arquiteto, quando perde esse charminho tolo e vira a chavinha para o profissional foda.

A Bela e o GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora