Capítulo 10 - Hoje eu não tô pra gracinha

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Hoje eu não tô pra gracinha

Isabela

Eu parei no meio do quarto, esticando minhas mãos para frente para que uma parede misteriosamente surgisse ali e me desse apoio até o caminho até a cama.

O que não aconteceu, claro, por isso tropecei para frente e me segurei por um triz na beirada da cama, agarrando o lençol e quase me mumificando em um movimento que a ciência ainda não estava pronta para conhecer.

E depois diziam que beber água e tomar um banho ajudava a passar a bebedeira, né? Não foi o caso! Quando eu estava no Sodra eu estava pleníssima! Agora? Dentro de um navio com muita turbulência.

— Não tenho mais idade pra passar mal — murmurei para mim mesma, pressionando o tronco do nariz com os dedos para tentar respirar melhor.

Novidade? Não funcionou.

E por que eu ainda estava com cheiro de drink rosa? O banho não servia para isso?

Deitei meu corpo na cama, cansada.

Não, exausta, acabada, destruída, um trapo.

Meus pés estavam pulsando de dor depois de horas dançando em cima daqueles saltos e eu soube que o dia seguinte seria uma tortura medieval muito lenta quando eu enfiasse um novo par.

No entanto, mesmo que eu me sentisse um zumbi alcoolizado, sorri, ainda conseguindo escutar o som da Forrómansa, a banda cover de forró do Falamansa que estava tocando no Sodra, dentro da minha mente em um show particular.

Meu celular vibrou em cima da escrivaninha, mas eu foquei no copo d'água que havia ali e tomei dois goles sedentos, sentindo a garganta arranhar por conta da tequila. Fechei meus olhos, tentando entender quando é que a ideia de misturar cerveja, drinks e tequila soou tão bonita — oito anos antes seria normal, hoje? Uma morte.

E, normalmente, eu tomava decisões mais inteligentes. Eu era a pessoa sensata que era a voz da razão, contudo, naquele dia, decidi que não queria ser e foi ótimo. Foi incrível simplesmente estar lá e dançar e beber e curtir a noite — e se a companhia era boa... bem, não estava ali para reclamar de nada.

Pousei minha cabeça no travesseiro e o mundo girou tanto que pensei que iria rolar colchão abaixo. Eu precisava de um foco! Não era isso o que as bailarinas faziam para não ficarem tontas? Peguei o celular para tentar manter minha atenção em algo que não fosse meu lustre — ele estava bem tentado a se tornar um ventilador de tanto que se movimentava e o navio dentro do meu estômago queria acompanhá-lo.

Deslizei meu dedo pela tela do WhatsApp e suspirei.

Eram mensagens demais, sinceramente.

Como é que as pessoas esperavam que eu conseguiria responder algo se elas mandavam mais mensagens antes que eu respondesse as anteriores?

Eu até tentava ser um ser humano decente, mas já haviam se acostumado que eu tinha um fuso horário de no mínimo doze horas para começarem a me cobrar uma resposta.

E, mesmo assim...

Sorri, quando vi que tinha uma foto do Lucas nas minhas mensagens ainda não lidas, então cliquei nela. Ele estava deitado na cama com os cabelos molhados e, mesmo no escuro, eu tinha quase certeza de que estava faltando uma blusa ali. Não dava para ver muita coisa, claro, mas inclinei meu rosto para o lado para ter uma visão melhor dos seus ombros e do peitoral — por que eu não havia girado o celular? Não tinha certeza ainda da resposta, mas ela combinava com o álcool que corria pelas minhas veias.

A Bela e o GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora