Capítulo 18 - Nós dois no pet shop

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Nós dois no pet shop

Lucas

Não sei porque me surgiu o impulso de organizar as coisas enquanto Bela vinha para o apartamento, mas ele veio e, quando eu dei por mim, já tinha colocado os ovos em cima da bancada da cozinha para ver se eram suficientes, conferido de tinha leite e café, tirado os pães franceses do saco de papel da padaria e posto em uma cestinha; daí enfiei uns pães de queijo no forno e desenterrei uma nutella no fundo do armário (sim, ela tinha sido etiquetada como "nutella" por Giovanna, como se não fosse óbvio o que era, sabe, pela questão do rótulo) porque, por mais que meu pão com ovo fosse sensacional, talvez valesse a pena ter opções? Acho que sim, então, arrumei em cima da ilha da cozinha.

Na sequência, resolvi arrumar meu quarto — eu sabia que não ia receber Isabela no meu quarto, mas quando você se torna um adulto, começa a entender que quer deixar tudo organizado e dar valor ao que os seus pais (ou avós, no meu caso) falam para você sobre manter a casa arrumada para receber visitas —, o que se provou uma ideia ótima porque as cobertas estavam reviradas e eu encontrei no chão as embalagens de preservativo que, na noite anterior, eu tinha certeza que tinha colocado em cima da bancada para jogar no lixo de manhã e claro que eu não tinha lembrado disso, dadas as circunstâncias nas quais eu acordei.

E comecei.

Colcha, pezeira, travesseiros, abrir a janela, não pisar no Adolfo, vestir a roupa do trabalho porque eu não ia receber Isabela de calça de moletom e descamisado como uma capa de livro e com o cabelo molhado do banho que eu tinha tomado ao acordar, não pisar no Adolfo, encontrar outra cestinha para os pães de queijo, colocar as xícaras na ilha, colocar ração para o Adolfo parar de trançar nos meus pés porque isso era um risco de vida que nenhum seguro de vida cobria, escovar os dentes, colocar a toalha no varal e...

Aí eu parei para analisar o que eu estava fazendo.

Não que eu fosse um cara que recebesse amigos em casa sem arrumar nada, mas... Por que eu estava andando de um lado para o outro feito uma barata tonta conferindo se estava tudo no lugar?

Eu passei o dedo na mesinha de centro para ver se tinha poeira, pelo amor do cerrado!

Por mais que quisesse entender meu surto organizacional a lá Giovanna Ventura (convívio, talvez?), não tive exatamente muito tempo para pensar nisso porque o interfone tocou e eu corri (queria dizer que foi de forma figurativa, mas não foi) para atender para que um dos Venturinha não acordasse antes da hora — normalmente, você é ensinado a ter medo de Giovanna, mas minha expertise me dizia que eu nunca deveria acordar Breno antes da hora, por mais fofinho que ele ficasse quando estava emburrado; Carlito, nosso porteiro, disse que Isabela tinha chegado e avisei que ela podia subir.

A campainha tocou quando eu virei a forma de pães de queijo na cestinha e Adolfo começou a correr em círculos fazendo gracinha para ver se eu, o elo fraco para seus olhões pedintes, cedia para sua fome de comer absolutamente qualquer coisa além de sua ração.

Tirei a luva térmica da mão e, pensando melhor, talvez fosse melhor que eu não tivesse feito isso porque talvez protegesse meus dedos dos dentinhos de Adolfo quando eu o peguei no colo para impedir que ele atacasse Isabela — certeza que ele miraria direto na femoral, porque a jugular ficava fora do alcance dos seus mais ou menos três centímetros e meio de altura.

Felizmente, ele não mordeu para machucar, apenas como um aviso para que eu o colocasse logo no chão ou a próxima mordida seria trágica. Para mim, por ele tanto fazia. Ele já tinha matado gente antes — zero provas, muita convicção.

— Estou confiando em você, carinha. Lembra, eu sou seu mestre!

O olhar que ele me lançou quando eu o coloquei no chão era puro deboche. Bom, supondo que os cachorros tivessem expressões faciais. Já tinha visto uns que sorriam, mas, por favor, estamos falando de Adolfo, mas não precisei me tornar um escudo humano entre ele e Bela porque ele foi se esconder, o que era bem típico do cachorrinho anti-social.

A Bela e o GoldenOnde histórias criam vida. Descubra agora