Olá, meus amores.Roger suspirou, seus olhos vagando pela a grama vasta e a árvore nodosa e antiga plantada ali, ele sentiu um aperto doloroso em sua garganta, era uma sensação terrível de arrependimento misturada com a culpa, quase sufocante e dolorosa.
Fazia anos que ele não chorava.
Roger se ajoelhou ali, respirando fundo com a mão no peito, seu coração palpitante, ele mordeu os lábios, se contendo para não gritar de ódio e raiva por si mesmo.
As vezes em tardes assim, quando ele parava, quando realmente não restava nada para fazer, Roger ficava em um estado deprimido e culpado, se lembrando e se martirizando por coisas passadas.
Roger colocou as mãos sobre os olhos, inalando o ar limpo e cheiroso de terra molhada, ele abaixou a cabeça, olhando as letras riscadas na árvore, pequenos riscos na casca do belo carvalho: R e D, ele se acalmou lentamente, sentindo a culpa pesar e afundar no seu estômago.
Samuel o lembrava de seu falecido amado, de uma forma muito dolorosa na verdade. A teimosia, o jeito como os olhos brilhavam, a forma como ele sempre estava tranquilo mesmo em meios á tantos problemas e confusões, tudo em Samuel o lembrava dolorosamente do seu falecido destinado.
Roger sentia como se algo estivesse destroçando a sua alma de pouco á pouco, as lembranças doendo em seu interior, a sensação de vazio persistente e muito duradoura. Tudo tão pesado e cinzento, a comida não tinha gosto, a vida não tinha graça, a música, a beleza, dança, tudo isso, não parecia mais tão alegre e bom, seu parceiro estava morto e ele também sentia que estava morrendo.
Roger secou as suas lágrimas, ajeitando-se e respirando profundamente, ele precisava recuperar o ar, porém a única vontade dele no momento era de se transformar e se embrenhar na Floresta Sombria, talvez assim ele pudesse morrer.
Seria bom se encontrar com o seu parceiro, belos olhos azuis o esperavam em algum lugar depois da vida. Roger suspirou, provavelmente o seu amado ficaria decepcionado se o visse assim, naquele estado, mas naquele dia Roger não podia se importar menos, era um dia triste, o dia de sua terrível perda.
Ninguém permanecia em sua vida por tanto tempo assim, pessoas morriam, elas iam embora, todos uma hora ou outra saíam, então por que Roger se sentia tão pra baixo? Por que ele não conseguia aceitar isso?
Roger voltou á sua expressão indiferente, olhando para o céu claro. O dia estava belo e triste, as nuvens brancas como algodão, o dia fresco, o sol brilhante.
Mesmo depois de tanto tempo, como certas coisas ainda podiam doer tanto? Roger se virou lentamente, decidindo ir embora dali, não conseguia crer que tinha passado duas horas ali.
Roger começou á caminhar, mas parou ao ouvir um galho quebrando, quem seria? Se virou novamente, investigando ao seu redor com olhos perspicazes, não havia ninguém, as vezes ele sentia observado.
Roger começou á voltar para a sua casa, ainda atento aos barulhinhos leves, estava quase chegando á mansão, mas ouviu um som entre as árvores, Roger desviou de uma flecha com muita rapidez, caindo no chão, vendo Samuel em cima de uma árvore, olhando-o com olhos cheios de energia acumulada.
Parecia que o mais novo queria animá-lo com um exercício surpresa, Roger rosnou um aviso, mandando Samuel descer da árvore, algo que o mais novo não obedeceu, parecia lançar um desafio, Roger revirou os olhos, sinceramente aquele garoto era um peste.
Samuel continuou atirando outras flechas, vendo se o reflexo do lobisomem estava bom, Roger desviava com muita facilidade, ele se aproximou para subir na árvore, mas o menor se jogou dela com cuidado, caindo em pé no chão, a aljava em suas costas, o arco junto á aljava, Samuel começou á correr no segundo em que estava no chão, mostrando a língua para o seu pai em forma de provocação.
Ele me lembra mesmo de você, Roger pensou, correndo atrás do humano, deixando-o tomar a frente na corrida, dando á ele uma sensação falsa de vitória, Roger o pegou em cinco minutos, jogando-o no chão e segurando o garoto ali.
— Você morreu — Esse jogo era certamente divertido, Samuel riu de forma engraçada antes de sacudir a cabeça.
Samuel o chutou no abdômen, se pondo de pé antes de sair correndo.
— Porra! — Roger resmungou o palavrão, se levantando rapidamente — Por que deixaram essa peste beber tanto café?
Roger suspirou, voltando á andar, resolvendo ir para a casa, sabia que Samuel tinha pegado o caminho mais rápido para a mansão.
Aquele garoto conhecia a floresta como a palma da mão, mas não andava livremente por aí desde o ataque, isso era deprimente.
Roger suspirou cansado, por precaução resolveu ficar de olhos e ouvidos atentos em Samuel, suspirou aliviado quando o garoto estava em segurança na varanda de sua casa.
— Sam te pregou uma pegadinha, é? — Thomas perguntou quando Roger entrou na sala de estar, ele nunca tinha visto Roger tão despenteado e desarrumado assim, parecia que Roger tinha sobrevivido á um ataque energético e brutal de um animal muito pequeno e selvagem.
— É — Roger franziu a testa ao responder, ele limpou as mãos na calça — Se ele não fosse humano, eu iria achar que ele tem algo de lobisomem...
— Acho que isso não é possível — Thomas riu, imaginando Samuel como um filhote de lobinho, parecia fofo demais em sua opinião.
— Sabemos agora que ele tem a energia de um lobisomem — Roger deu risada disso, a energia de um cachorro pequeno.
Thomas sacudiu a cabeça, ainda rindo da fala nervosa de seu pai.
— Preciso me retirar para um banho — Roger tirou um galho pequeno de seus cabelos negros e bagunçados — Diga ao Samuel que iremos treinar amanhã.
Ok, talvez Roger se importasse demais com o humano, mas Samuel era especial e merecia ser treinado, ele não tinha feito isso com o seu parceiro e esse foi o seu erro, ele não tinha o ensinado á se defender, porém ele podia ensinar o seu filho á se proteger. Falhei uma vez, não irei falhar novamente, Roger pensou ao entrar no seu quarto, olhando uma foto em preto e branco, sorriu fraquinho, naquela época ele era tão feliz, pegou a foto com tristeza.
Era uma foto muito velha, lhe trazia muitas saudades de um tempo muito distante.
Roger colocou o retrato em seu lugar, pensar em seu amado morto era simplesmente se destruir um pouco mais, será que um dia eles ficariam juntos novamente?
Roger estava cansado de ficar sozinho.
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O que acharam desse capítulo?Até o próximo capítulo, meus amores.
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Liberte-me.
Loup-garouSamuel não é um lobisomem. Ele é um humano que convive com lobisomens, ele é filho de um deles, bem, isso é certamente frustrante. Samuel se sente solitário, as vezes ser humano é difícil demais, ele se sente um boneco de porcelana perto de lobisome...