03. danny e seu amor de verão

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ANDRÔMEDA SENTIA QUE NÃO podia amar alguém, o que não era verdade.

Quando tinha doze anos, ela se apaixonou por uma garota durante suas férias de verão. Junto de seus pais, Andrômeda havia viajado para uma cidade californiana que ficava perto de Hill Valley, mas longe o suficiente para que os rumores não cruzassem a fronteira de um território para o outro. O Sol estava mais quente do que nos outros verões na Califórnia, e Andrômeda nunca havia sentido tanto calor antes.

Porém, apesar de rejeitar aquele suor e o odor que ele emanava em todos ao seu redor, Andrômeda havia gostado muito daquele verão por uma coisa – ou melhor, uma pessoa – em particular. Blanca Glofster. Uma negra de pele cor de café com leite que havia sido a Sandy do seu Danny. O seu Summer Nights.

As famílias estavam instaladas no mesmo hotel, então elas acabavam se encontrando muitas e muitas vezes durante suas respectivas estadias. Portanto, no decorrer do tempo que passavam unidas, Andrômeda Davis nutriu um sentimento platônico por sua companheira de verão.

E foi recíproco.

Porém foi uma reciprocidade com data de validade, a qual era relembrada diariamente por seus pais como dez de agosto. Então, no dia nove, às cinco da tarde, diante de uma brincadeira de esconde-esconde que elas haviam concordado de participar junto de outras crianças, Andrômeda deu seu primeiro beijo em uma garota.

É. Ela havia beijado uma garota. E havia gostado muito daquilo.

Elas não guardaram o número de celular, nem se adicionaram no facebook ou, até mesmo, passaram o endereço de uma para a outra. Andrômeda só pensou nas possibilidades depois, então tomou para si uma certeza absoluta a respeito do que havia ocorrido:

Amores de verão não são mais do que simples amores passageiros.

Eles mudam conforme as estações passam, e Andrômeda teve que aprender a mudar junto de tais estações.

Então, apesar de já ter se apaixonado antes, Andrômeda Davis sentia que não poderia amar alguém. Portanto, qualquer relação carnal e sentimental que ela acabava tendo, não passava apenas disso.

Isso irritava profundamente as garotas homossexuais, bissexuais, panssexuais e demissexuais com quem ela havia se envolvido. Mas não podiam julgá-la. Andrômeda havia tido seu coração partido cedo demais, e as consequências daquilo a fizeram ter receio e medo de sentir algo profundo e intenso por qualquer outra menina.

Por isso, quando Jackson Kross se jogou na cadeira em frente a sua no refeitório, abriu a boca e contou seu plano mirabolante para conquistar Sydney O'Brady, tudo o que Andrômeda foi capaz de fazer foi rir. Uma gargalhada que coçou sua garganta e lhe fez inclinar a cabeça para trás com a mão na barriga.

── Alaska O'Brady? ── a risada de Andrômeda vacilou por meio segundo. ── É sério o que está me pedindo?

── Alaska vai se distrair com seu flerte e vai acabar cedendo quando eu pedir para sair com Sydney. Bum, vou estar namorando a garota dos meus sonhos.

── É só uma garota ── Andy ergueu as sobrancelhas. ── Não acha que está se esforçando demais? Há muitas garotas nesse colégio que fariam de tudo por um sorriso bonito e olhos pidões.

── Acha meu sorriso bonito? ── brincou.

── Eu acho que você deveria tomar cuidado com o que quer fazer ── Andrômeda empurrou a bandeja com seu almoço para o lado. ── Alaska é tão fria quanto o estado dos Estados Unidos com seu nome. Ela é incapaz de se apaixonar por alguém. Principalmente por mim.

── Você deveria se valorizar mais.

── O que? Não ── abanou as mãos. ── não estou me colocando para baixo. Estou dizendo que ela é, tipo, a rainha da hierarquia social daqui.

── Mas você faz parte do time de lacrosse. Normalmente são eles quem ganham o título de rei do baile.

── Isso. Eles. Homens. Não jogadoras lésbicas. Por ser lésbica eu estou mais abaixo, mesmo sendo a atacante do time.

── Abaixo quanto?

── Abaixo de muitos, mas acima do clube audiovisual, obviamente.

── Mas ela também é lésbica.

Andrômeda prendeu uma bufada impaciente com o rumo da conversa. Saber sobre os grupos e as classes sociais do colégio de Hill Valley era algo que consumia muito de seu tempo quando se era preciso explicar para outro alguém.

── É complicado. Ela conquistou o lugar dela tanto por ser rica e diretora do Cosmonews, quanto por ser bonita e irmã da líder das líderes de torcida. É como uma sociedade estamental: Alaska nasceu para ocupar aquele lugar.

Jackson encarou a garota em silêncio, atordoado e surpreso. Os lábios dele, antes entreabertos, se contraíram numa linha fina.

── Quantas garotas lésbicas existem em Hill Valley?

── Muitas. Mas poucas são assumidas abertamente.

── E quantas teriam coragem de chegar na rainha do colégio?

── Nenhuma.

O dedo de Jackson foi apontado para Andrômeda.

── Errado. Uma ── ele sorriu. ── você.

Os olhos castanhos de Andrômeda Davis se estreitaram para a argumentação de Jackson.

── Não vou sair com Alaska O'Brady. Caso encerrado.

── Você disse que me ajudaria.

── Eu te ajudaria ── concordou com a cabeça. ── Se eu pudesse. Sabe, te ajudar numa apresentação em público, passar bilhetinhos, ficar de guarda enquanto vocês dão uns amassos na sala da diretora. Mas sair com a irmã de Sydney? Isso está fora da minha alçada.

A expressão entristecida de Jackson fez com que Andrômeda ficasse com pena, mas uma parte de seu cérebro gritava fortemente que ela havia escapado de uma confusão gigantesca.

── Devo confessar que é um bom plano para alguém que acabou de chegar nesse colégio ── confortou Andrômeda. ── e é por isso que acho que você pode ter um plano melhor.

Antes que Jackson pudesse agradecer ou rejeitar as palavras da amiga, Andrômeda se levantou, pegou a bandeja e começou a caminhar até a lixeira. Foi somente quando estava perto da porta que seus olhos a avistaram.

Alaska O'Brady em toda sua glória. Andando em seus saltos pretos que combinavam com o vestido vermelho das cores do colégio. Os olhos cor de gelo, tão azuis quanto o céu de verão, pareciam transparecer o poder palpável que a cercava. As sobrancelhas cinzentas se ergueram ao colidir o olhar com Andrômeda, como se a desafiasse silenciosamente.

Andrômeda recuou um passo, dando espaço para que Alaska entrasse no refeitório. O cheiro adocicado do perfume chegou ao seu nariz e ela quase fechou os olhos ao inalá-lo. Quando se virou para acompanhar os movimentos da loira, seu olhar esbarrou com o de Jackson.

Ele, por sua vez, abriu um sorriso pequeno e irônico, que tentava lhe passar alguma mensagem.

Andrômeda desviou o olhar antes que acabasse voltando até aquela mesa. Fazer Alaska se apaixonar por si seria bem complicado, mas seria gratificante caso algo acontecesse. Alaska era a pessoa mais bonita que Davis já havia conhecido, tanto que a surpreendia o fato de todos concentrarem a própria atenção somente em Sydney.

Mas ela não faria aquilo. Não arriscaria a ter desfeita a sua reputação do próprio estereótipo lésbico no qual ela havia se enfiado. Além do mais, Jackson estava apenas sentindo o que qualquer novato sentiria ao olhar para Sydney pela primeira vez.

Logo mais, ele pararia de pensar nela, encontraria outra garota mais acessível e acabaria se envolvendo em um relacionamento antes do fim do semestre. Era assim que as coisas aconteciam em Hill Valley, todos respeitavam seus limites e suas posições.

E apesar de Andrômeda ficar tentada a passar a barreira invisível que ela e Alaska haviam instalado mutuamente entre si, ela se recusava fortemente a ceder os seus desejos. Seus deveres, naquele momento, eram bem mais importantes.

ALASKA & ANDRÔMEDA ━ sáfico [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora