47. bicicletas e machucados

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O JANTAR DOS O'BRADY costumava ser um tanto quanto quieto. Todos conversavam sobre o dia de cada, comiam e então seguiam para a rotina noturna particular de cada um. Frank fazia a digestão assistindo o jornal, enquanto Morgan se certificava de que as portas estavam fechadas. Sydney e Alaska revezavam em lavar a louça, e por sorte era Sydney quem desempenharia a função naquela noite.

O que ajudou na tentativa de Alaska de conversar com seu pai.

Os dois nunca foram muito próximos. Na verdade, Alaska não era próxima nem de sua mãe, nem de seu pai. No entanto, desde que Andrômeda e ela conversaram sobre isso a caminho de São Francisco, Alaska se deu conta de que a vida não era resumida apenas na faculdade e no futuro. Ela precisava se concentrar no presente, também; nas pessoas que a amavam e a cercavam.

Pessoas essas que eram seus pais.

── Pai? ── Alaska caminhou até o lado de Frank, se sentando no sofá em que ele se encontrava. Morgan já tinha fechado a porta de entrada, o que fez os dois ficarem sozinhos na sala. ── Posso perguntar sua opinião sobre uma coisa?

Frank pareceu surpreso pela pergunta; tão surpreso que abaixou o volume do jornal que estava assistindo.

── Aconteceu algo?

── Bem, digamos que as últimas semanas tem sido um tanto quanto turbulentas.

Alaska não tinha contado do término para seu pai, mas também não era como se ele não soubesse. Todos só falavam disso. Adolescentes, adultos e idosos estavam comentando a respeito do assunto a cada oportunidade.

── Sabe quando você tentou me ensinar a andar de bicicleta? ── Frank concordou com a cabeça, meio incerto sobre o rumo da conversa. ── Quando eu caí e ralei o joelho, eu decidi que não queria mais subir nela.

── Eu sei. Você ficou emburrada por dias. Normalmente as crianças choram, mas você tentou quebrar a bicicleta.

── É. ── Alaska fez uma careta. Ela se lembrava daquele momento.

Foi quando as crianças começaram, inclusive, a ficar com medo dela. Alaska era um pouco revoltada com a vida naquela época.

── Mas, onde quer chegar com isso?

── Eu me arrependo de não ter tentado novamente, depois que eu caí. ── as sobrancelhas cinzentas dela se ergueram. ── De não ter insistido até conseguir.

A testa de Frank se franziu.

── Ainda não entendi. Quer que eu te ensine a andar de bicicleta?

── O que? Não! ── Alaska coçou a testa por cima da franja. ── É só que... eu acho que passei por uma situação parecida com essa, nos últimos meses.

── Se machucou?

O tom de voz dele entregou a pergunta subliminar na conversa. Estavam começando a caminhar na direção do assunto que Alaska queria chegar.

── É. Bastante.

── E você tentou quebrar a bicicleta?

── Tentei ── confessou em um sussurro envergonhado. ──, e acho que peguei pesado.

Frank abriu um sorriso solidário para a filha.

── Eu sei.

── Sabe?

Em um movimento de corpo, ele se acomodou para virar-se de frente para ela. Syd tinha alguns traços faciais dele, o que deixava Alaska um pouco chateada. Não que ela não gostasse de se parecer fisicamente com a mãe, mas uma parte de si adoraria ter herdado características físicas de cada um, ao invés de parecer a cópia mais jovem de sua progenitora.

ALASKA & ANDRÔMEDA ━ sáfico [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora