ALASKA & ANDRÔMEDA ━ sáfico [✓]

01. movimento feminista e sua punição

HILL VALLEY É UMA CIDADE PEQUENA, mas possui uma quantidade considerável de habitantes. Localizada na Califórnia, ela possui uma ferrovia que a conecta com São Francisco e permite a interação entre a metrópole e si.

Em frente à cafeteria da cidade, há uma praça central em que a grama é tão verde que se assemelha a uma pintura do verão. Há carrinhos de sorvete e de lanches, e o local é cercado por uma oficina mecânica, uma floricultura, um cinema, uma locadora de filmes e uma loja de instrumentos musicais. O esporte oficial da região é o Lacrosse, e o fascínio pelo jogo se estende por todo condado de Hill County.

Mais afastada da região central e da praça, há um museu histórico da cidade que se localiza perto de um parque de diversões - um lugar que costuma atrair muitos turistas por manter a vegetação bem cuidada durante o verão e a primavera. As estradas são reformadas a cada cinco anos, as construções são preservadas com carinho e a sociedade é tão patriota e unida que grande parte da população conhece uns aos outros.

Andrômeda Davis era apaixonada pela cidade. Amava o céu rosado de fim de tarde, os cachorros-quentes do parque e a torcida vibrante do time de lacrosse do colégio. Ela adorava quando a brisa da costa da Califórnia levava o cheiro do mar até Hill Valley, e adorava ainda mais o fato de precisar dirigir por apenas meia hora para chegar até a praia. Gostava quando as estações mudavam, porque parecia que uma fase nova de sua vida se iniciava a cada período.

Mas Andrômeda odiava ser uma das poucas garotas queer assumidas do condado de Hill County.

Apesar de dócil e amável, havia um lado sedento de Andy no qual ninguém parecia perceber: Andrômeda gostava muito de beijar garotas.

Gostava tanto que a frustrava o fato de existirem poucas bocas a serem beijadas dentro da pequena cidade de Hill Valley. Poucas bocas femininas, no caso. A frustrava tanto que ela descontava sua frustração beijando a boca de muitas garotas que, além de não serem assumidas publicamente, tinham o hábito constante de se mostrarem menos amáveis e amigáveis ao verem Andrômeda seguindo o fluxo para beijar outra mulher.

Não que ela tivesse o dedo podre. Andrômeda simplesmente não tinha muitas escolhas. Ou ela beijava uma garota que queria beijá-la, ou então ela ficava sem beijar ninguém. E, sinceramente, beijar ninguém era a última coisa que Andy estava disposta a fazer.

Mas Andrômeda não arranjava problemas apenas com sáficas. Ela parecia ter um ímã para problemas diante de sua energia e personalidade inovadoras. Tanto que, para começar a semana com o pé esquerdo, Andy estava sentada na sala da diretora enquanto sua mente viajava nos inúmeros motivos existentes que a tivessem levado até ali. As janelas iam do teto ao chão, dando uma boa visão do campo de lacrosse e das vastas fileiras de arquibancada ao ar livre. Apesar de gostar muito do outono, ela tinha que confessar que não gostava tanto quando as árvores em torno do colégio ficavam com as folhas alaranjadas e amarronzadas.

Mas fazia parecer que a cidade era um local pertencente a algum filme dos anos 2000, e isso a fazia desconsiderar os pontos negativos da renovação das folhas durante aqueles poucos meses.

── Senhorita Davis ── a diretora Alvez abriu a porta da divisória, erguendo as sobrancelhas. Não em sinal de surpresa, mas de reprovação. ── Imagino que já saiba o motivo de ter sido chamada.

Imagino vários motivos, Andy mordeu o lábio inferior para não resmungar. Motivos até demais.

── Entre, por favor.

Andrômeda se levantou da poltrona e agarrou a alça da mochila, entrando no escritório da diretora. O lugar era rústico em questão de móveis, mas os tons da parede e dos objetos tecnológicos em cima da mesa davam ao local um ar mais moderno e sofisticado.