ALASKA & ANDRÔMEDA ━ sáfico [✓]

53. alaska e andrômeda

O CORAÇÃO DE Alaska estava batendo na boca quando ela observou Andrômeda no palco. Pela primeira vez em muito tempo, a jornalista não estava vendo mais uma simples jogadora de lacrosse que flertava com qualquer alma feminina que visse pela frente; no lugar, via uma garota se submetendo a uma situação humilhante para conseguir salvar a pele de alguém.

Esse alguém, no caso, era Sydney.

Ninguém nunca tinha deixado uma aluna do segundo ano coordenando uma peça do colégio; era como uma quebra de tradição. E, para piorar, tudo estava dando errado com o surto de vômito dos protagonistas e substitutos.

Andrômeda não precisava ajudar. Ela não precisava subir naquele palco e dizer palavras escritas por Shakespeare em uma suposta peça romântica. Ela não precisava fazer algo que não tinha vontade alguma de fazer.

Sinceramente, Alaska não se submeteria àquilo, se não fosse por sua irmã. Ela jamais interpretaria Julieta Capuleto.

Sua mão, antes repousada ao lado do corpo, na saia, sobe para a barriga. O corset do vestido está um pouco apertado, já que Ramona era bem mais magra que ela. E, além disso, o tecido da manga está tão agarrado ao seu braço que ela se sente claustrofóbica. Mas, olhando no espelho, Alaska deve admitir: ela está linda.

Ela pode detestar Shakespeare, Romeu e Julieta e até mesmo a forma como as mulheres eram vistas e descritas naquela época de mil e quinhentos. Só que, merda, ela estava tão linda que isso não importava no momento.

── Você vai entrar daqui a pouco ── Liz apareceu correndo no camarim, encarando Alaska. ── Já decorou as falas?

Alaska assentiu, mas estava mentindo. Ela nem sabia onde estava o roteiro
que Sydney havia lhe mencionado.

── Ela estava torcendo para que fosse você.

Alaska piscou, desviando a atenção do palco para a amiga; depois de Liz ter acolhido e escutado Alaska após descobrir toda a verdade, elas engataram em uma espécie estranha de relacionamento. Para a surpresa das duas, ambas eram mais parecidas do que imaginavam.

── O que?

── Davis ── Liz inclinou a cabeça para frente. ── Ela queria que você fosse a Julieta.

Um sorriso pequeno se formou na boca de Alaska, involuntariamente.

── Ela disse isso?

── Nem precisou. Mal quis saber quem é a Julieta. Achei que seria mais divertido fazer surpresa.

A jornalista engoliu em seco, passando os dedos pela parte da frente do corset. Alaska sentia que poderia vomitar, e ela nem tinha comido a comida chinesa do Han.

── Eu não decorei as falas ── resmungou, quase que em um apelo de desistência.

── Como é? ── a expressão de Liz mudou de tranquilidade para choque. Havia, também, uma pitada de raiva em seu tom de voz. ── Como assim? Você precisa entrar em cinco minutos.

── Sydney me disse para improvisar.

── Improvisar? ── Liz passou os dedos pelo próprio cabelo, desesperada. ── Improvisar? Você vai improvisar o quê, exatamente? Vai dizer o quão estupido o Romeu é? Ou vai dizer que o amor de vocês é proibido por estarem em mil e quinhentos e serem duas mulheres? Acorda, Alaska, não tem como improvisar!

── Eu...

── Eu confio nela ── Sydney apareceu, abruptamente, na entrada do camarim.

── Você tá brincando? ── Liz olhou incrédula para a irmã mais nova de Alaska. ── Essa peça é uma tradição. É super importante para o povo de Hill Valley. Colocar Andrômeda como Romeu até passa, mas mudar todo o roteiro por um improviso? Sem chance.