04. exclusão e rejeição

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ALASKA ERA BOA EM MUITAS matérias. Quase todas, sinceramente. Sabia como usar fórmulas em física, falava de literatura com especificidade e, ainda por cima, sabia citar todas as organelas básicas de uma célula animal.

Era uma aluna exemplar, com notas acima da média e uma boa quantidade de cursos que garantiriam sua admissão em qualquer faculdade descente dos Estados Unidos.

Mas havia algo, alguém, que tornava seus dias menos agradáveis. Uma pessoa que sempre a importunava em busca de duas coisas: ou conseguir chamá-la para sair, ou conseguir chamar a irmã dela para sair. Diante da consciência dos dois interesses que tal pessoa tinha, Alaska jamais concordava com qualquer uma das duas opções. Afinal, nem ela, nem sua irmã, eram prioridade. As duas pareciam servir como segunda opção.

E era por essa razão que Alaska O'Brady detestava Lewis Brooke.

── Talvez se vocês fizessem uma peça mais decente para a apresentação semestral, não precisariam ficar me ouvindo reclamar a respeito desse tema ridículo ── o bloco de notas nas mãos de O'Brady parecia repleto de críticas após entrevistar o elenco escolhido. ── Mas vocês preferem permanecer como idiotas. O que eu posso fazer, não é mesmo?

── Alaska, Romeu e Julieta é um clássico. Todas as escolas apresentam ao menos uma vez essa peça por ano ── Ramona ergueu as mãos para que ajeitassem a roupa da peça, já que estavam começando a preparar o vestuário.

── Exato. Monótono, chato, sem graça. Todo mundo já sabe o que vai acontecer no final.

── Mas é romântico. É Shakespeare. É icônico.

── E maçante. Só vou assistir por sua causa.

── E também porque precisa fazer uma crítica no jornal ── pontuou a melhor amiga.

── Estava apenas tentando parecer uma boa amiga.

── Você é uma boa amiga. Só tenta causar uma guerra civil sempre que dá sua opinião.

── Sou jornalista. Isso acontece com frequência.

Ramona abriu um sorriso dócil e meneou a cabeça numa risada fraca.

── Você parece a Malévola após cortarem as asas dela: furiosa e obstinada a acabar com todas as demonstrações de amor nesse colégio.

Apesar de não confessar, Ramona estava sutilmente certa. Irritava profundamente Alaska o fato de que ela nunca, em toda sua vida, havia sido digna de viver algum romance pelo simples fato de ser lésbica em uma cidade pequena. Não haviam garotas que quisessem se relacionar com outras garotas em Hill Valley.

Apenas uma. Mas não significava que, só por Andrômeda ser a única lésbica, ela seria o amor adolescente de ensino médio de Alaska. As duas haviam concordado, mutuamente e silenciosamente, que isso nunca aconteceria. Era muito previsível que as duas fossem acabar juntas em algum momento, e Alaska odiava previsibilidades. Ela não lia horóscopos, não consultava videntes e obviamente odiava quando algum "sinal do universo" parecia lhe mandar alguma mensagem. Ela gostava de coisas fixas, que fossem acontecer porque ela planejou, e não porque estava destinado a acontecer.

── Ramona ── Lewis Brooke apareceu por trás de uma das cortinas, sendo recebido por um olhar agressivo de Alaska. ── será que não tem como obrigar sua melhor amiga a tomar um remédio contra a TPM antes de vir para escola?

── Um dia você vai levar uma surra e não vou fazer nada para impedir isso ── Ramona alertou ao olhar para o futuro Romeu. ── E você, Alaska, se não gosta de Romeu e Julieta, deveria me esperar depois do ensaio para podermos conversar em paz.

ALASKA & ANDRÔMEDA ━ sáfico [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora