08. número de telefone e verdades na cara

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ALASKA ESTAVA SENTADA NAS arquibancadas quando o treino das líderes de torcida acabou. Em mãos, o bloco de anotações estava rasurado e grifado várias vezes. A angústia e a insatisfação com o próprio trabalho estavam começando a deixar a jornalista maluca.

Naquela semana, as seletivas e os treinos das líderes de torcida estavam começando a ganhar força para as competições municipais do início do ano letivo. Sydney era a estrela, ela sempre se saía bem em todas as performances, mas não era por aquela razão que Alaska havia decidido assistir o treino. Na verdade, a jornalista havia ido até ali porque estava evitando Ramona desde que soube sobre os encontros dela com Mike.

Alaska não queria ser uma péssima amiga e brigar com a única pessoa que a apoiava e a entendia naquela instituição. Mas também não queria fingir que sua amiga não estava escondendo algo importante de si. Então, a solução era se acalmar até que ela tivesse a postura correta para conversar calmamente com a melhor amiga.

── Já está preparando o editorial da próxima semana? Mas hoje é segunda!

Se afirmasse que não havia assustado com Andrômeda Davis ao seu lado, Alaska estaria mentindo. A garota morena surgiu como um fantasma e fez a jornalista arregalar os olhos e repreender um gritinho entalado na garganta.

── Como é? ── a surpresa escorreu por sua fala.

── A data do bloco tá falando que esse editorial é pra semana que vem ── Andrômeda apontou para o topo da folha. ── Isso significa que você está muito adiantada, loirinha. Ou significa que você viajou no tempo.

Alaska abriu a boca, passando de surpresa para indignada.

── Por que está falando comigo?

Mutuamente, Alaska achava que ela e Andrômeda tinham um combinado: nunca conversariam a menos que fosse preciso. Elas não se dirigiam uma a outra no corredor, não acenavam quando se viam fora do colégio e com certeza não tinham o número uma da outra para trocas de mensagens casuais.

── Porque sim.

── Isso não é resposta.

── Que estranho, pra mim soa como uma.

As sobrancelhas cinzentas se ergueram, o sorriso de Andrômeda morreu.

── Estou sendo gentil.

── Ah, por favor ── o sarcasmo fez com que Davis erguesse as sobrancelhas dessa vez. ── do que você precisa, Andrômeda?

Andrômeda pegou o telefone do bolso traseiro da calça e se sentou ao outro lado da loira, desbloqueando a tela com uma sequência de números estranhos.

── Acho que meu telefone tá com problema ── Andrômeda estendeu para Alaska. A loira estava pronta pra retrucar dizendo que não era técnica em informática quando a jogadora prosseguiu: ── parece que tá faltando seu número nele.

Alaska encarou a garota de forma incrédula e então começou a rir como se Andrômeda tivesse contado a piada mais engraçada do mundo. Sua cabeça inclinou para trás e sua boca emitiu um ruído engraçado de uma gargalhada.

── Você passa essa cantada pra toda garota que vê pela frente?

── Só para as mais bonitas ── Andrômeda insistiu para que Alaska pegasse o telefone, mas a loira não o fez.

── Por favor, me diga que você não está cruzando a barreira que nós duas estipulamos desde que a sociedade afirmou que tínhamos que ficar juntas só porque somos as únicas duas lésbicas assumidas daqui.

O suspiro que saiu pelo nariz de Andrômeda pareceu impaciente.

── Bem, somos realmente as únicas duas lésbicas assumidas daqui.

── Isso não significa que eu vá concordar em passar meu número pra você.

── Você fere meus sentimentos desse jeito ── Andy colocou a mão sobre o próprio peito de forma dramática. ── Parece que vou ter que recorrer a pedir seu número pra sua irmã.

O brilho nos olhos de Alaska sumiu.

── Espera, você está mesmo falando sério ── O'Brady fechou a tampa da caneta e colocou o bloco de notas do seu lado na arquibancada. Ela ponderou, por um instante, levantar e sair andando como se aquela conversa não tivesse ocorrido.

Mas, assim que ela se ergueu, seu rosto acabou se virando automaticamente para Andrômeda.

── Você quer minha ajuda pra conquistar minha irmã? É por isso que quer meu número?

── O que? ── a testa de Andy franziu.

── Já tentaram fazer isso uma vez. E, olha, sinto muito te decepcionar mas Sydney não é...

── Lésbica? Eu sei ── Andrômeda bloqueou a tela do celular e apoiou os cotovelos no joelho com as pernas meio abertas. Uma posição que os meninos do time tinham o costume de ficar e, pelo visto, a jogadora havia pego tal hábito também. ── Acredite, eu não quero o número da sua irmã.

Como se tivesse um mistério difícil de se desvendar em mãos, Alaska voltou a analisar Andrômeda com cautela. As íris azuis vagavam de um lado para o outro, em busca de algum sinal que ela parecia estar deixando passar.

── É uma aposta? Lewis Brooke fez alguma aposta idiota pra você me convidar pra sair?

── Você precisa de terapia ── Andy soltou sem querer, mas não pareceu arrependida. Alaska ergueu o queixo de maneira desafiadora, fazendo Andrômeda revirar os olhos. ── Só quero seu número. Seu número, Alaska O'Brady. Lewis Brooke não fez uma aposta comigo, se isso te intriga.

── Por que?

── Por que o que, garota?

── Por que quer meu número?

Andrômeda encarou Alaska como se ela fosse um bicho de sete cabeças.

── Porque eu quero sair com você, caramba. Não sabia que precisava falar isso com todas as letras.

Ainda assim, Alaska não passou seu número e muito menos concordou em sair com Andrômeda.

── Não estou interessada, obrigada.

── Sério? ── a surpresa de Andy surpreendeu Alaska.

── O que esperava? Que eu aceitasse sair com você só por você ter pedido meu número? ── a jornalista recolheu seus itens, abraçando o bloco de notas. ── Não sei se reparou, Andrômeda, mas eu não sou como as meninas que você beija em baixo das arquibancadas após o fim de cada jogo. Eu não sou uma garota inocente que concorda em viver uma aventura sáfica com outra garota só porque a oportunidade bateu na minha porta.

O queixo de Andy caiu, mas Alaska não soube identificar se era surpresa ou indignação. Talvez fosse os dois.

── Eu não disse nada disso ── Andrômeda respondeu em um tom baixo.

── Mas pensou da mesma forma que todo o time de lacrosse pensa: que as garotas vão se jogar aos seus pés se você demonstrar o mínimo de interesse.

── Eu sou lésbica, esqueceu? Nenhuma garota se joga aos meus pés.

── Mas esperou que outra lésbica se jogasse aos seus pés. Até porque, quem não gostaria de sair com a atacante do time? ── o sarcasmo era muito evidente.

── Você, pelo visto.

── É ── Alaska afastou o cabelo loiro para trás do ombro. ── Eu. Porque não sou um troféu pra sua prateleira, Andrômeda Davis.

E, sem olhar para trás, Alaska O'Brady seguiu o caminho em direção à entrada dos fundos do colégio de Hill Valley.

ALASKA & ANDRÔMEDA ━ sáfico [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora