ALASKA & ANDRÔMEDA ━ sáfico [✓]

05. latinos e suas manias

ANDRÔMEDA ERA VINDA DE uma família com bastante dinheiro. Seus pais, Lorelai e Parker, viajavam muito por conta do trabalho; apesar de parecer um ponto negativo, possuía um ponto positivo muito interessante: o dinheiro que recebiam anualmente era uma quantia boa demais e que não passava desapercebida pelos moradores de Hill Valley.

Pelo fato de Lorelai e Parker Davis não permanecerem na cidade por mais de uma semana, Andrômeda acabou indo morar com sua vó, Lídia, que não só se tornou a pessoa que Andy mais ama no mundo, como também a mulher que a atacante do time acabava se inspirando e admirando dia após dia. Vale ressaltar, inclusive, que o protesto realizado por Andrômeda acabou sendo apenas um remake do que Lídia Davis havia feito em Nova York na década de oitenta. Sua vó, assim como muitas outras mulheres, fez parte do movimento feminista que incentivou muitos outros.

Sentada na poltrona de casa, com um livro de fantasia entre suas mãos pequenas, Andrômeda piscou repetidas vezes, percebendo que tudo o que ela havia lido não havia sido memorizado em sua mente. Ela tinha tanta facilidade em se perder em seus próprios pensamentos que, quando tentava focar em algo, se distraía com qualquer barulho e movimento ao seu redor. Era algo que muitas vezes ela tentava lutar contra, mas que acabava por acontecer mesmo assim.

Irritada, Andy fechou o livro e o deixou em cima da mesa de centro, feita de um vidro grosso e pesado. Lídia, do outro lado, estreitou os olhos de maneira curiosa.

── O que o livro te fez, mi cielito?

── Nada ── Andrômeda suspirou pesadamente, fechando os olhos e encostando sua nuca na poltrona. ── Só estou um pouco cansada. Os treinos para nova temporada vão começar em breve e estou com medo de ficar no banco igual nos últimos jogos no ano passado.

Um sorriso dócil e gentil consumiu os lábios da mais velha, que abaixou a Gazeta de Hill Valley e se inclinou sobre as próprias pernas para contar um segredo a sua neta.

── Se precisar que su abuelita dê em cima de su treinador é só me avisar, cielito.

O sotaque latino fez com que Andrômeda risse anasalado, satisfeita por Lídia tirar o nervosismo e o estresse de seus ombros com uma simples conversa.

Era esse o efeito que sua avó tinha sobre sua pessoa. Com uma piada simples e com uma fala tradicional de Lídia Davis, Andrômeda sentia que seus problemas não tinham mais importância. Tudo que importava era apenas quais seriam as próximas palavras que a latina trocaria no meio de uma fala sem saber a tradução correta.

── Yo esqueci de avisar ── Lídia ergueu as mãos para cima, assustando Andy. ── Su amigo ligou, disse que chamava Joel.

── Joel? ── Andrômeda gargalhou; não conhecia ninguém com esse nome. ── Você não quis dizer Jackson?

── Ah, si ── a avó abanou a mão. ── que seja. Me surpreende um cara ligar hoje em dia. Vocês não usam esses celulares para allí e aquí quando precisam falar com um dos seus?

── Abuelita ── Andy permaneceu com um sorriso no rosto. ── Já disse que não pode chamar qualquer adolescente como "um dos meus".

── Mas é o que tu eres.

Novamente, a jogadora de lacrosse negou o comentário de Lídia com um meneio de cabeça. As conversas com sua avó se tornavam ainda melhores quando ela tentava corrigi-la; era como cutucar onça com vara curta.

── Yo disse que tu estava na escola, então ele disse que passaria por aqui por volta das cuatro da tarde.

Andrômeda ligou a tela do celular, percebendo que faltava apenas alguns minutos para as quatro horas. Provavelmente Jackson chegaria a qualquer instante, e isso a deixou levemente ansiosa pelo fato de que eles não haviam combinado de se encontrar. Ambos tinham se conhecido há apenas um dia, e o fato de Hill Valley ser uma cidade pequena fazia com que Andrômeda se preocupasse com o surgimento de algum boato a respeito da amizade dos dois.