ALASKA & ANDRÔMEDA ━ sáfico [✓]

06. irmãs e faculdades

ALASKA TINHA PROBLEMAS COM OS pais.

Não por ser lésbica. Na verdade, eles até a apoiavam na descoberta da própria sexualidade ─ o que a fazia se considerar sortuda já que grande parcela de Hill Valley não aceitaria que seus filhos se declarassem homossexuais.

Seus problemas familiares na verdade estavam relacionados ao fato de Sydney O'Brady, sua irmã mais nova, ser a favorita. Sydney, a garota que fazia mil e uma coisas e era amada por todos; Sydney, a filha que queria fazer faculdade perto de casa para visitar sempre os pais; Sydney, a adolescente mais adorável de Hill Valley.

Enquanto Sydney era vista como a filha e o ser humano perfeito, Alaska O'Brady era considerada a megera que impedia sua irmã de viver a felicidade de um relacionamento amoroso.

Quando entraram no ensino médio, Sydney havia pedido um favor a irmã: Alaska precisava avaliar quem seria o namorado perfeito para a mais nova. A jornalista, por sua vez, levou essa função tão a sério que Sydney nunca teve um namorado. Muitos poderiam julgar que isso se tratava apenas de uma atitude que a típica megera de Hill Valley teria, mas o motivo de Alaska não ter achado o namorado perfeito para sua irmã se devia ao fato de que ela tinha medo de fracassar.

Em uma cidade pequena, qualquer atitude em falso levaria a rejeição de todos. Alaska estava lidando bem com os olhares tortos e os boatos que criavam ao seu respeito; ela não ligava. Mas se falhasse com Sydney, as coisas seriam muito piores. Uma coisa era ser excluída da sociedade por conta de seu jeito de pensar e agir, outra coisa seria ser excluída da vida da própria irmã se escolhesse o namorado errado, fazendo Sydney acabar de coração partido.

Ela não conseguiria lidar com o fardo de ser uma péssima irmã, caso isso acontecesse. Mas, ainda assim, ela carregava o fardo de ser a segunda filha favorita. Em sua cabeça, seus pais se dedicavam tanto à Sydney e ao seu futuro brilhante que acabavam esquecendo de dar a atenção necessária para a filha mais velha.

Desde pequena, ela havia se acostumado com aquela ideia. Tanto que ela acabou se isolando no próprio mundo cruel e melancólico que havia criado.

Alaska tinha um plano: terminar o colegial, entrar para Stanford, Harvard ou Yale e então partir numa aventura de autodescoberta onde ela era a própria prioridade de si mesma.

Era um bom plano.

Mas, até que ele começasse a se concretizar, Alaska sedia grande parte de si para a proteção dos sentimentos de sua irmã.

── Como foi o treino hoje? ── ao passar pela entrada da sala, Alaska colocou o novo exemplar do jornal do colégio em cima da mesa de centro, caso seus pais quisessem ler seu editorial.

── Ótimo ── Sydney ergueu o olhar do caderno de rabiscos que carregava consigo para qualquer lugar. Os olhos caramelo encararam a irmã loira enquanto um sorriso se formava em seus lábios carnudos e rosados.

Sydney era amável e esbanjava ternura em seus movimentos, ações e palavras. Às vezes Alaska questionava o fato de ambas serem irmãs; mas era engraçado, quando parado pra pensar. Alaska havia herdado a aparência da mãe e a personalidade firme e rígida do pai, enquanto Sydney havia herdado características físicas do pai e a personalidade gentil e dócil da mãe.

── Fez alguém chorar hoje? ── Sydney bateu ao seu lado no sofá para que Alaska se sentasse.

── Ainda não, mas são só quatro horas.

Ambas sorriram uma para outra quando a loira se sentou no sofá confortável da sala arejada de sua casa. As paredes, em tons claros e pastéis, deixavam o lugar com um ar mais calmo e aconchegante. Alaska passava grande parte do seu dia ali, lendo, escrevendo ou estudando. Era um bom lugar para se fazer o que precisava ser feito.