Infância

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Capítulo 1

Helena nasceu numa casa simples, seu pai era policial, e sua mãe trabalhava em uma lanchonete. Cresceu com ajuda da vizinha, dona Dina e sua vó Maria. Contando com muita força de sobrevivência, ela superava as dificuldades. Sendo a primeira filha de Gerson e Iris, ela teve que cuidar dos irmãos, Raul e Ruan. Graças os seus cuidados, eles não sofreram como ela. Com apenas oito anos, Helena cuidava da casa, ficava de babá, o tempo que conseguia, ela estudava.

Cansou de acordar a noite, com os berros dos pais, ela cobria os ouvidos com travisseiro, mas pouco adiantava. As brigas e gritarias, às vezes duravam horas. Isso levava Helena, passar a noite consolando os pequenos.

Pela manhã, ela estava cansada para estudar, mesmo assim ela caminhava até sua escola, e assistia às aulas. O cansaço não deixava Helena para trás, ela insistia em aprender, mesmo com toda dificuldade que ela encontrava.

Na escola Helena tinha poucos amigos, estava sempre acompanhada de um livro. O que mais admirava, era a vida de um menino. Ele chegava num belo carro, andava com a mochila mais bonita, vestia o melhor casaco. Mas o que ela mais invejava, era o beijo de despedida que sua mãe deixava em sua testa na porta da escola. Helena não se lembra de ter uma conversa carinhosa, muito menos um beijo de despedida de seus pais.

Seu pai era Cruel, insensível, além de nunca parar em casa. Sua mãe vivia cansada com o trabalho, reclamando de tudo e de todos. Não tinha tempo para casa ou filhos, ela colocava Helena para fazer todas as tarefas de casa, como se fosse adulta.

Helena acordava, arrumava suas coisas, colocava roupa nos gêmeos, e levava um de cada vez, para casa sua vizinha dona Dina. Ela que ficava com eles, até Helena voltar da escola.

Um desses longos dias de escola, Helena chegou em casa seu pai estava esperando irritado.

- Porque se atrasou Helena?
Perguntou em tom ameaçador.

Amedrontada respondeu.
- Estava fazendo um trabalho escolar.

- Seu trabalho é em casa, cuidando dos seus irmãos!
Você não pode fazer o que bem quer garotinha! Infelizmente, vou ter que te ensinar, que as obrigações vem em primeiro lugar.

Ele pegou o cinto e começou a bater, cada vez que batia, uma dor imensa atingia não só sua pele, mas também seu coração. Com sua crueldade, ele não parou até ver sangue escorrendo por suas costas.
Dona Dina correu ao meu socorro, depois que saiu, me deixando chorando no chão gelado da sala. Com dores por todo corpo, dona Dina me ajudava .
Sempre bondosa, ela era a única pessoa que se importava comigo. Com dores no corpo e feridas, ela tentou me ajudar, mas doia muito. Então evitou tocar, ela só conseguiu me ajudar trocar de roupa, porque estava suja.
Minha mãe como sempre nem desconfiou do que aconteceu. Meu pai não voltou mais em casa naquele dia. Minha mãe também não se importou.
E assim foram passando os dias...

- Helena! Escutei chamar meu nome no corredor da escola.
Olhei para trás, era o menino, o garoto que recebia o beijo na testa da mãe. Ele me chamou, para me entregar um papel.
Tímido veio até mim, deixou o papel em minha mão e saiu sorrindo.
Com doze anos de idade, aquilo era uma grande novidade. Um convite para uma festa de aniversário.
Ele estava mesmo me convidando para seu aniversário?
Porque será que ele me convidou?
Nem sabia que ele me conhecia! Muito menos sabia meu nome.
Mas o convite fez meu coração se encher de alegria, com a ilusão de imaginar que eu poderia ir.
O aniversário seria, numa casa de festa, onde existiam vários brinquedos, um sonho para qualquer criança.
Dormi com esse convite nas mãos, imaginando fazer melhor todas as minhas tarefas, na esperança de que minha mãe, convencesse meu pai a me deixar ir.

- Vou tentar falar com seu pai. Foi com essas palavras que minha mãe encheu meu coração de esperança.

No dia da festa, eu falei com ela, mas infelizmente ela disse, que meu pai não deixou. Meu mundo desabou. Eu queria muito ir a aquela festa. Passei os últimos dias sonhando com tudo que poderia acontecer.
E nesse momento eu chorei, com toda tristeza do meu coração. Nada me fazia parar. Até meu pai chegar em casa.

- Porque esse choro sem motivo!
Ao ouvir sua voz, eu o olhei com raiva, o que foi pior.
O cinto bateu em meu corpo novamente. Acabei chorando até dormir em um travisseiro encharcado em lágrimas.

Pela manhã, acordei com febre e dor em todo corpo. Dona Dina, chamou minha vó, que me levou ao médico. Passou remédios e algumas vitaminas, dizendo que eu estava desnutrida. Disse que se eu quizesse viver, tinha que me alimentar melhor.

Mesmo com essa vida difícil eu não desistir. Tomei os remédios, comecei a me alimentar melhor.
Desde desse dia, eu coloquei uma meta de vida, eu ia ser livre, e um dia seria feliz, longe daquela casa. Independente de um pai cruel e uma mãe ausente, eu iria vencer.

Na escola, o menino tentava se aproximar, talvez ser meu amigo. Mas eu me afastava. Era melhor não conviver com ele. Nossos mundo, era diferente demais, até para sermos amigos.
Eu não queria passar para ele, a dor dos meus dias tristes. Eu desejava que ele continuasse a viver a sua realidade feliz, bem afastado de mim. Porque a ilusão de ter a vida que ele tinha, me deixava triste. A determinação era o que me mantinha forte.

Os anos foram passando, e chegou minha adolescência.
Os gêmeos estavam na escola, eu levava e buscava todos os dias. Entre esse intervalo, conseguia sair para vender bolos, dona Dina fazia para vender. Eu entregava bolos em nosso bairro, ganhando comissão da venda, juntando cada centavo em busca da minha liberdade.

O menino mudou de escola, um ano depois do convite, depois disso nunca mais o vi.

Minha vó faleceu, quando completei dezesseis anos. Os gêmeos eram tranquilos e estudiosos. Eu sempre estava pronta, para proteger eles do cinto do meu pai. Eles nunca apanharam como eu apanhei. Hoje meu pai não me bate mais, apesar de tudo que passei, não guardo raiva dele. Só tenho pena da pessoa que ele se tornou.
Triste, sozinho, resmungando por tudo que vive. Acho que sua angústia, nunca deixará ele ser feliz.
Ele e minha mãe, não sabem o que é sorrir. Vivem tristes por tantos anos, que se acostumaram com a infelicidade.
Pois eu não quero isso pra mim, e vou a luta por uma vida digna e feliz.

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