Revelação

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Capítulo 42

Eu olhei para ele, que tocava seus bolsos procurando alguma coisa.
Abriu a carteira e olhou para minha mão.

- Essa foto é sua?
Perguntei imaginando que era isso que ele procurava.

- Sim... Guardo essa foto para relembrar a época mais feliz da minha vida.

- Sua mãe era realmente linda.

Disse, entregando a foto a ele.

Ele sentou ao meu lado, observando a foto com tristeza. As lembranças  mechiam com seu comportamento. Entre suspiros ele confessou.

- Toda vez que olho para essa foto, fico imaginando... se ela estivesse aqui, tudo poderia ser diferente.

- Acredito... que podemos mudar nossas escolhas, não podemos mudar a nossa percepção humana. Tudo que está acontecendo agora, aconteceria, mesmo se ela estivesse aqui.

- Acho que não, meu irmão mudou, ele era divertido e feliz. Depois de tudo que passamos, ele mudou. Vive amargurado, revoltado, culpando o mundo por sua tristeza.

- Qual deles nessa foto é você?
Perguntei tentando mudar o clima pesado.

- Sou esse aqui.
Mostrou o menino de camisa verde.
Especificamente o menino que despertou a lembrança, mais feliz da minha infância. Observei o rosto de sua mãe, era a mesma mulher que beijava o menino com carinho, na porta da escola.

Senti um aperto no peito, um nó na garganta. Como se tivesse engasgada. Suspirei pensativa e perguntei.

- Onde você estudava nessa época?

- Estudava numa pequena escola pública. Depois que minha mãe adoeceu, mudamos de bairro, fui  transferido para outra escola.

- Essa escola, que você estudou... Era a escola Dom Francisco?

Ele me olhou perplexo.
- Sim... Como sabe disso?

- Também estudei nessa escola. As lembranças boas que guardo dessa época, foi quando um menino parecido com você, me convidou para seu aniversário.
Sei que não teve tanta importância para ele, mas foi muito importante para mim. Talvez ele nem se lembre desse episódio, mas eu nunca esqueci seu gesto de carinho.

Felipe olhou em meus olhos, de um jeito comovido. Depois voltou a olhar para foto. Balançou a cabeça sorrindo de forma que me deixou confusa.

- Eu sabia... quero dizer... eu pressentia Helena. Era você...
Meu sexto sentido sempre me dizia, desde a primeira vez que te vi. Eu sabia...

Várias vezes eu sentir, mas não entendia. Era estranho saber, porque sua presença me afetava tanto.

Voltou a olhar dentro dos meus olhos. Colocou a foto sobre a mesa de centro, pegou em minha mão e disse.

- Vou confessar a você. Helena...Você foi meu primeiro amor.

Meu coração disparou. Enquanto tentava formular uma frase ele continuou.

- Nessa época eu era um menino tímido, nunca tive coragem de conversar com você. Mas aquele dia em especial, conseguir coragem para te convidar para meu aniversário. Depois fiquei extasiado, imaginando que você iria.
A festa inteira, esperei que você aparecesse.

Seus olhos refletiam as emoções de suas palavras. Meu corpo reagia ao sentimento que ele exalava.

- Quando fui transferido para outra escola, fiquei totalmente perdido. Lembro que foi a primeira vez que briguei com minha mãe.
Era difícil pensar que nunca mais veria você novamente. Com o tempo tudo passou, as lembranças foram guardadas, junto com uma parte feliz da minha vida.
Com a doença da minha mãe, acabei deixando essa parte de mim por um tempo. Com o passar dos anos, continuei seguindo enfrente, mas sempre tive a sensação que procurava seus olhos, em cada mulher que conheci.
Eu nunca conseguir me envolver totalmente, sempre sentia frustração em relação ao amor. Sentia falta de alguma parte de mim, perdida no tempo.

A emoção que via em seus olhos, me fez ter certeza de que eu o amava, tanto quanto ele dizia me amar.
Essa emoção, transbordou em meus olhos em forma de lágrimas.

Helena...você está bem?
Perguntou apertando minha mão que tremia muito.

- Você está gelada! Vou pegar uma água pra você.

Antes dele levantar, segurei com força em sua mão. Me joguei em seus braços em um abraço. Fiquei apertando seu corpo por um tempo tentando apaziguar a emoção.
Lágrimas de todas as  lembranças, vieram a tona. Tudo passou diante de meus olhos, como num filme.

A felicidade frustrada da festa de aniversário, que eu tanto quis ir. A história dificil que vivi em minha infância. Cada briga entre meus pais, cada discussão, cada grito. Toda solidão que vivi superando, sem pode sequer reclamar. Tudo estava vindo em minha lembrança, toda carga de sentimentos, que envolvia os meus piores momento.

- Vai ficar tudo bem...
Ele dizia acariciando minhas costas.

- Eu nunca fui em uma festa de aniversário. Nunca  comemorei o meu aniversário. Não gosto de festas, tudo que vivi, me fez detestar esse dia!

As lágrimas persistiam descontroladamente.
Ele me apertou contra seu corpo e suspirou.

Não sei o que você viveu, mas o que vejo agora, é uma mulher extraordinária. Você conseguiu vencer e agora, tudo ficou para trás.

- Eu tentei, com o tempo, conseguir fazer as pazes com meu passado.

Levantou meu rosto em sua direção e olhando em meus olhos, disse.

- Era nosso destino nos encontrar... Era nosso destino estarmos aqui.  Esperei a vida toda por esse momento. Estamos juntos, e nada vai nos afastar novamente.

Eu te amo Felipe!
Eu sei que me ama! Por isso estou aqui.

Eu te amo demais, como nunca pensei em amar.
Não é clichê dizer, que você é um pedaço de mim. Minha metade perdida e que agora encontrei.

Seu lábio tocou os meus, com tanta emoção envolvida ao momento que foi como se tivesse nos beijando pela primeira vez.

Ficamos nos beijando e com carinho nos abraçamos. Depois voltamos a nos beijar. Não demorou muito, para o fogo começar a crescer entre nós.

Sentir seus braços me levantar do chão, depois caminhou comigo até meu quarto.
Me colocou sobre a cama e entre meus lábios sussurrou.

- Eu te amo Helena...eu sempre te amei.

Eu não respondi, só continuei sentindo a emoção do momento enquanto ele beijava cada parte do meu corpo.

Seu toque parecia diferente, ainda melhor que antes. Como se isso fosse possível. O toque de sua boca, estava me causando arrepios de emoção, de desejo e felicidade.
Nossa conexão era muito mais intensa e perfeita.

Quando ele começou a se despir, o celular tocou no bolso de sua calça. Ele resolveu não atender, e continuou a tirar a roupa. Mas o telefone insistia.

- Droga!
Bufou indignado.

- Atende Felipe! Pode ser algo importante!

Contrariado pegou o celular e atendeu.

- Alô ?
Disse olhando para mim, enquanto me acomodava para retirar minha blusa.

Quando sua expressão mudou, percebi que não ia acontecer mais nada. O mundo a nossa volta ainda existia, e não tinha como fugir.

- Onde ele está?
Perguntou mostrando preocupação.

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